Por Catarina Rodrigues


Os motards chegam de armas e bagagens para mais uma aventura

De vários pontos do País e também do estrangeiro chegaram à Covilhã este fim-de-semana mais de 2000 motards. Portugueses, espanhóis, franceses e até alguns alemães, marcaram presença na 14ª edição dos "Lobos da Neve". Esta concentração é a primeira no calendário nacional da Federação de Motociclismo e a maior a ser realizada no período de Inverno, em Portugal.
A Serra da Estrela exerce um fascínio especial sobre os motards que tornaram esta concentração na terceira maior realizada em solo luso, logo a seguir à de Faro e à de Gois.
As principais actividades da edição deste ano decorreram na sexta feira, primeiro dia do encontro. Um show acrobático com o campeão nacional de freestyle 2001, Humberto Ribeiro, um concerto com Tom Hamilton e, como não poderia deixar de ser, um espectáculo de strip-tease, foram os momentos mais altos desta primeira noite.
Sábado foi preenchido com passeios pelas estradas serranas. O contacto com o manto de neve presente nos pontos mais altos da Estrela divertiu os amantes das duas rodas.
O verdadeiro ex-libris deste acontecimento, continua a ser a noite de Sábado. Já com a "alcateia" toda reunida, foram percorridas as principais artérias da cidade.
De regresso ao recinto do aeródromo, foi a vez de Paulo Martinho tomar conta da pista e deliciar os muitos espectadores com as suas manobras.
Toda a mística destes encontros está associada a uma ideia de liberdade muitas vezes próxima do perigo. Por isso "este ano a segurança foi uma das principais preocupações da organização" refere Rui Santos, presidente do Moto Clube da Covilhã. As acrobacias executadas pelos dois pilotos profissionais contratados, também demoveram os mais arrojados das manobras arriscadas na via pública.
Na tenda gigante, destinada aos espectáculos, o som esteve a cargo das bandas Splash e Tambú. Para os mais persistentes, a madrugada foi passada em volta da fogueira gigante que se manteve acesa durante os três dias.


Motas para todos os gostos e feitios fazem as delícias dos apreciadores



O outro lado da concentração

Por trás desta iniciativa esteve todo um apoio logístico de grande envergadura. Numa tenda gigante eram servidas as refeições a que os inscritos tinham direito. Um cozinheiro, dez auxiliares de cozinha e dez pessoas a servir à mesa asseguravam que tudo corresse pelo melhor. Ao longo dos três dias foram servidas mais de 3000 refeições.
A instalação da infra-estrutura eléctrica foi outro processo fundamental para que o evento pudesse decorrer. Cerca de 20 000 watts de potência tornaram possível toda uma série de espectáculos. No recinto existiam ainda cerca de 30 stands onde era possível encontrar de tudo um pouco. E até quem desejasse sair da concentração com um novo visual para assinalar a ocasião podia fazer uma tatuagem ou colocar um piercing.
Após dois dias de sol, o domingo amanheceu cinzento. E para surpresa geral a concentração foi presenteada com pequenos flocos de neve que logo se transformaram em chuva.
Feita a benção das motas e a entrega de prémios e lembranças chegou a hora da despedida. Em Abril, os "Lobos da Neve" começam já a pensar na concentração do próximo ano.

 



Ser motard não tem idade

Um veterano de espírito jovem

Numa concentração encontram-se pessoas de várias idades e com as mais diversas profissões. Apesar das diferenças, todos têm uma paixão em comum: as motos.
Amaro Araújo, de 67 anos, é um exemplo de como ser motard não tem idade. Veterano da Guerra Colonial tem uma história de vida desde muito cedo associada aos veículos de duas rodas. Já em solteiro conduzia. Depois da vida militar tornou-se estafeta em Lisboa e desde aí nunca mais se separou das máquinas de que tanto gosta.
Mais tarde comprou uma Harley, mas nem tudo correu bem. "É um mito americano para quem tem dinheiro", diz Araújo, "deu-me muitas alegrias, mas também muitas tristezas", acrescenta.
Para além do gosto pelas motos e pela velocidade, as concentrações são um espaço de convívio, divertimento e reencontro entre amigos.
Para Amaro Araújo, "os motards são mais que uma família". Todos os anos se desloca de Barcelos, onde vive, à Covilhã porque já não consegue faltar aos "Lobos da Neve". A idade não constitui qualquer problema e prefere mesmo uma tenda ao conforto de um hotel. Este motard, de espírito jovem, deixa somente uma promessa: voltar em 2003 com a mesma alegria e boa disposição.