Por Marco António Antunes


Manuel Braga da Cruz: "O estado é o garante da liberdade religiosa"

Jesuítas, professores, alunos e outras pessoas ligadas à universidade debateram a relação entre religião e violência. O I Encontro de Primavera, organizado pelo Génesis, Grupo de Espiritualidade e Cultura, decorreu na UBI nos dias 28 de Fevereiro e 1 de Março, pelas 21 horas.
Manuel Braga da Cruz, reitor da Universidade Católica (UCP) abordou o tema religião e violência na perspectiva da Sociologia Política. A religião ganha um novo papel nas sociedades contemporâneas, devido à globalização. Existem hoje conflitos e fronteiras internas nas próprias nações. Para Braga da Cruz, a desvalorização da defesa e da segurança e o crescimento da religião contra a secularização são alguns factores que explicam os atentados de 11 de Setembro, nos Estados Unidos.
Para o reitor da Universidade Católica, a solução para evitar a associação da violência à religião é preservar a autonomia e liberdade religiosa. "O Estado é a garantia da liberdade religiosa. Deve existir uma diferenciação na função que cada religião ocupa na sociedade. Estado e religião são esferas distintas e autónomas", sublinha. Braga da Cruz defende que "a religião é um fenómeno colectivo independente dos interesses individuais. A liberdade religiosa é possível em comunidade." Para o reitor a Católica, "a religião só existe em liberdade e é contrária à violência. A religião é um direito social. Deve ser respeitada e promovida", refere.
Manuel Braga da Cruz terminou a sua intervenção referindo que "a absorção do Estado pela religião (Teocratismo) e a sacralização do Poder (Cesarismo) são exemplos errados da relação entre o Estado e a religião".


João Duque: "Lutar contra os outros em nome do Islão
ou do Cristianismo é usar a religião para o mal"



Violência cristã

João Duque, professor de Filosofia e Teologia na UCP, cita Girard para dizer que "todas as religiões se baseiam na superação da violência, enquanto desejo imitativo". Outro autor citado foi Ricoeur: "O elemento essencial da religião é a desproporção entre o 'excesso' de Deus e a capacidade finita do Homem", referiu João Duque.
Este docente vê na Cruz cristã o maior sinal de violência, enquanto revelação e actuação de Deus. "Jesus Cristo é a vítima inocente. A força do amor inverte o sentido da violência, que passa a ser dom livre em favor do outro. A 'violência' divina é origem da vida. O sacrifício instaura a relação Deus-Homem como fonte de identidade pessoal", defende.
Toda a religião constitui a origem e o resultado de uma cultura. O Professor Duque critica os mass media: "A mediatização da violência cria uma falsa harmonia, que silencia e esquece as vítimas da violência, com a pretensão de que tudo está em ordem".
Ambos os oradores consideram a religião como um corpo de crenças, ritos e normas comuns a um determinado grupo de pessoas. Na vida do Homem, mata-se e morre-se em nome da religião. "Lutar contra os outros em nome do Islão ou do Cristianismo é usar a religião para o mal", sublinha João Duque.
Ao longo destes dois dias de discussão o auditório participou activamente. Mais de cem pessoas estiveram presentes nas conferências.
Paralelamente aos debates os participantes puderam assistir a dois filmes projectados no Teatro Cine,. Domingo, 24 de Fevereiro, passou Sleepers (Sentimentos de Revolta) de Barry Levinson, que retrata a violência num colégio de menores. Domingo, 3 de Março, foi a vez de Kandahar de Mahkmalbaf sobre a violência contra a mulher no Afeganistão.