António Fidalgo

E se se cancelasse o Euro?


E se se cancelasse o Euro? Seria certamente uma decisão difícil, dura, polémica, e até humilhante para o brio nacional, mas certamente seria a melhor forma de dizer aos portugueses que acabou o tempo das vacas gordas, que o tempo não é de futebóis.
Decorre a campanha eleitoral, discutem-se as relações entre partidos e clubes, e o país distrai-se com futebol. A educação está mal, a saúde e a justiça mal estão, e as rádios, jornais e televisões falam de futebol, de estádios, de apoios de clubes a partidos, de perdões fiscais a clubes. Será isto que o país quer? Não seria caso de fazer um corte cirúrgico em tudo isto, decidindo pura e simplesmente cancelar o Euro de 2004?
Haverá quem diga que uma decisão dessas não poderá ser tomada, porque é a dignidade nacional que está em jogo. Há compromissos assumidos e Portugal deverá cumpri-los. É verdade. Mas os compromissos assumidos não são do tipo que não possam ser renegociados. Outros países há que querem organizar o Euro e têm condições para o fazer. Neste caso Portugal apenas assume a humildade de, perante a UEFA, dizer que lamenta muito, mas que neste momento atravessa um momento difícil e que outras prioridades muito mais importantes se colocam do que organizar um evento desportivo.
Uma decisão dura, mas determinada, seria a melhor forma de pôr fim aos tempos de desnorte e obrigar os portugueses a consciencializarem-se dos muitos trabalhos de casa para fazer, trabalhos que têm de passar à frente da diversão futebolística.