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                      Ex.mo(a)s Sr(a)s. ,  
                    É 
                      evidente que o caminho para uma melhoria qualitativa e gradual 
                      do desempenho das instituições educativas 
                      passa necessariamente pela articulação entre 
                      dinâmicas internas e externas às escolas e 
                      ao sistema escolar. A insularização escolar, 
                      entendida aqui como o encerramento da escola sobre si própria, 
                      tem sido, é e será um entrave fortíssimo 
                      a essa melhoria socialmente tão desejada. 
                      Este referencial impõe uma ruptura com o actual sistema 
                      educativo português, sublinhando o papel dos diferentes 
                      actores, com destaque para o papel do Estado e da inteligência 
                      política nacional. Deve ser procurada uma nova institucionalidade 
                      escolar, com um novo quadro social e profissional dentro 
                      de cada instituição escolar e nas relações 
                      dos vários actores sociais com ela. É importante 
                      o estabelecimento compromissos sociais concretos entre vários 
                      actores sociais, tendo em vista a construção 
                      de respostas necessárias e capazes para conduzir 
                      o país, com ambição, a uma sociedade 
                      educativa, traduzindo a proposta do paradigma da sociedade 
                      educadora como um quadro de inteligibilidade porventura 
                      muito fecundo, no futuro. 
                       
                      De outro modo não estaremos a construir um futuro 
                      diferente. Ao invés de progredirmos, deixamos que 
                      o futuro venha ao nosso encontro carregado do nosso passado. 
                       
                      Para enfrentar as novas dificuldades de gestão de 
                      um sistema educativo concertado e explorar as novas potencialidades 
                      de diferenciação que são oferecidas 
                      pelos novos meios de comunicação, de transmissão 
                      e de tratamento organizado de informação, 
                      parece inevitável que venham a ser separadas as funções 
                      de credenciação e as funções 
                      de organização e de prestação 
                      de serviços educativos. Quanto maior for a liberdade 
                      de iniciativa deste sector, maior será a possibilidade 
                      de cobrir toda a população. Mas quanto maior 
                      for a diversidade de oferta, mais exigente deverá 
                      ser o trabalho de avaliação e de credenciação. 
                      São dois ramos dentro da mesma função 
                      social, mas que têm de ser assumidos como diferentes 
                      para poderem ser eficientes.  
                       
                      A Escola Profissional de Artes da Beira Interior, não 
                      foge a este quadro de referência, convive com constrangimentos 
                      que dificultam o seu normal funcionamento e a sua gestão 
                      a curto, médio e a longo prazo, isto é , actuamos 
                      num cenário burocrático que não fomenta 
                      a poupança, nem promove o investimento. O seu financiamento 
                      é contra-factura, no entanto muitas destas facturas, 
                      por mais evidenciadoras de despesas essenciais para o funcionamento 
                      e desenvolvimento da actividade, não são consideradas 
                      elegíveis, ou seja, não serão contempladas 
                      no financiamento da instituição, pressupondo 
                      a obtenção de receitas próprias para 
                      colmatar as necessidades financeiras. Por outro lado, o 
                      quadro legal prevê que quaisquer receitas próprias 
                      obtidas, irão ser abatidas ao financiamento da instituição, 
                      tratando-se um ciclo vicioso bloqueador de desenvolvimento. 
                      O nosso futuro deve passar por uma progressiva aproximação 
                      da escola à comunidade e à região, 
                      depositando a sua função de utilidade social 
                      e promovendo a actividade cultural, recebendo em contrapartida 
                      mais valias para um melhor desempenho dessa mesma função. 
                       
                      Os eleitos locais e as instituições de finalidade 
                      social que existem nesta comunidade constituem outros tipos 
                      de actores cuja acção social se cruza em muitos 
                      aspectos com a EPABI. Estas instituições podem 
                      celebrar, e serem incentivadas pela EPABI a celebrar, compromissos 
                      sociais muito precisos, onde sejam aproveitadas sinergias. 
                      Este caminho da realização de compromisso 
                      poderia tornar-se o mais produtivo dos caminhos para uma 
                      co-responsabilização comunitária em 
                      torno da educação e da cultura. O que deveria 
                      evitar-se seria a rotina de uma participação 
                      que a ninguém envolve, que não é motivadora 
                      e que não responsabiliza nenhum dos actores por nada 
                      de concreto. 
                       
                      Na ausência de adequada adaptação do 
                      sistema ao contexto social e económico, é 
                      natural que se procure outras soluções, mesmo 
                      ao nível do sector privado, mais maleável 
                      face aquelas necessidades para não se cair no "Melting 
                      Pot" comum a algumas realidades existentes no nosso 
                      país, nomeadamente Escolas Profissionais enquadradas 
                      no mesmo regime que a nossa. 
                       
                      A Direcção da EPABI, acabou de receber, na 
                      semana transacta, um importante apoio moral, que reconhece 
                      a dificuldade vivida por este subsistema de ensino, deixando 
                      a escola no seu conjunto motivada para continuar a resistir 
                      e a promover a mudança, cujo depoimento cito:  
                       
                      Na qualidade de pais e encarregados de educação 
                      de alunos que foram transferidos da EPMA (Escola Profissional 
                      de Música de Almada) para a EPABI, não queremos 
                      deixar de salientar o profundo agradecimento pelo facto 
                      da Escola ter recebido os referidos alunos. Conscientes 
                      do enquadramento legislativo que serve de referência 
                      às escolas profissionais, e especialmente as profissionais 
                      artísticas, não podemos deixar passar este 
                      momento sem sublinharmos o verdadeiro acto de coragem da 
                      EPABI em receber os nossos educandos. Fomos membros da Associação 
                      de Pais e Encarregados de Educação da EPMA, 
                      conhecemos sobejamente os corredores do Ministério 
                      da Educação e, consequentemente, as formas 
                      de actuação administrativa e financeira da 
                      tutela das escolas profissionais, bem como as ameaças 
                      que sobre elas recaem, quanto ao seu futuro, com o actual 
                      quadro legal. Pensamos igualmente que o ensino profissional 
                      artístico tem um lugar imprescindível numa 
                      sociedade que se pretende moderna, onde os valores da cultura 
                      não se devem necessariamente sobrepor a outros ditos 
                      mais pragmáticos. Serve a presente missiva para que: 
                      ao mesmo tempo que reconhecemos a coragem da EPABI de, neste 
                      enquadramento pouco favorável, ter acolhido um número 
                      considerável de alunos da EPMA; da parte do Ministério 
                      da Educação, com especial incidência 
                      nas Delegações Regionais respectivas, haja 
                      uma particular atenção para as escolas profissionais 
                      artísticas, sobretudo aquelas que, apesar de todas 
                      as vicissitudes teimam em manter o seu regular funcionamento. 
                    ... 
                      é motivador, mas precisamos de apoio materializado 
                      por quem de direito. 
                    Vimos 
                      por este meio expor a conjuntura legal que nos envolve, 
                      aos agentes de informação, pois achamos que 
                      a comunidade em que nos inserimos deverá de algum 
                      modo tomar conhecimento da situação. 
                      Sem outro assunto de momento, agradecemos a vossa disponibilidade 
                      e colaboração. 
                    
                    
                    
                     
                      Covilhã, 25 de Março de 2002 
                     
                      Pedro Afonseca, funcionário da EPABI 
                      e licenciado em Gestão pela UBI 
                     
                     
                     
                    
                       
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