Por Victor Amaral


Está encontrada uma saída para a crise da Desportiva da Guarda. É esta a convicção da comissão de gestão do clube, eleita em finais do ano passado para resolver o problema de um passivo na ordem dos 230 mil contos.
Dentro de um mês, a Câmara vai disponibilizar um terreno na rotunda da Viceg, na entrada para o Parque Industrial, para que aí possa ser instalada uma estação de combustíveis que "garanta rendimento continuado para o futuro". Fernando Badana, membro da comissão, dá conta desta garantia assumida esta segunda-feira pela presidente do município Maria do Carmo Borges, durante uma reunião. Assim que se consumar formalmente a cedência - na modalidade de direito de superfície para impedir alienações como no passado - é lançado um concurso público para a recepção de propostas de gasolineiras, com vista a futura exploração. Badana não tem dúvidas de que não faltarão concorrentes, face à localização estratégica do terreno, o que representa um encaixe, à cabeça, de valores na ordem dos 80 mil contos a que se junta uma percentagem vitalícia por venda de litro de combustíveis, entre outras benesses a negociar em função da infra-estrutura de serviços que vier a nascer.
Logo que seja dada luz verde a esta cedência, que está condicionada pela revisão do loteamento do Parque Industrial (ver caixa), o porta-voz da comissão de gestão garante que o clube "tem futuro assegurado", sem grandes sobressaltos. Isto porque, a confirmar-se, Miguel Matias, antigo dirigente a quem o clube deve 85 mil contos, "está disponível para reduzir a dívida em mais de 50 por cento" e pagamento faseado a longo prazo do restante, pondo fim ao processo litigioso em tribunal.
Outro problema para resolver é a dívida às Finanças que ascende a 80 mil contos. A comissão de gestão deu todos os passos junto da Direcção Geral, e outras entidades, para que sejam perdoadas as respectivas coimas e juros acumulados bem como obter autorização para suportar o resto da dívida de forma faseada. "Estamos à espera de resposta", adianta Fernando Badana.

Assembleia geral em Maio

Perspectivando-se estes cenários, que significam o desafogo de uma pesada herança, o responsável está em crer que há condições para que regresso ao futebol de competição, já no próximo ano. Isto se a Associação de Futebol da Guarda levantar uma coacção que impôs ao clube, até 2003, por não ter inscrito a equipa a tempo o ano passado, e permitir a inscrição.
Para além do futebol profissional, a comissão de gestão tem um plano de actividades que inclui torneios com estudantes e a prática de modalidades como o voleibol, atletismo e ginástica.
A solução para a sede social da Desportiva passa pelas novas instalações de apoio ao Estádio Municipal, por baixo das bancadas, devendo a actual, na rua Comandante Salvador do Nascimento, ser rentabilizada através de arrendamento.
Estas novas questões vão ser apresentadas aos sócios em Assembleia-geral, que decorre no próximo mês de Maio, "já com informações concretas", adianta Fernando Badana para quem dessa reunião magna deve sair uma direcção eleita que reuna plenos poderes para prosseguir com os objectivos, para além da mera gestão corrente. Ou, caso contrário, que os sócios deleguem esses direitos na comissão de gestão para que esta possa comprometer-se com contratos de negócios.
Pessoalmente, Badana admite vir a ser candidato à direcção "de modo a dar continuidade a tudo e ir até ao fim". Em seu entender, apesar do cepticismo que tem rodeado este polémico processo desde que é conhecido o passivo, "há condições para se recuperar o clube e lançar as bases para um desenvolvimento sustentado".
Aproveita para dizer que o alegado interesse do empresário covilhanense, Costa Pais, em salvar a Desportiva, assumido publicamente depois de conhecida a grave situação financeira, "não passou de um bluff"", uma vez que nada andou nesse sentido.
Fernando Badana considera ainda um "balde de água fria", o facto de Manuel Rodrigues ter renunciado enquanto advogado do Clube, no processo em litígio com Miguel Matias. Ouvido por "O Interior", o jurista justifica que se afastou porque havia prazos do processo a cumprir não tendo conseguido, depois de várias tentativas, contacto com qualquer representante da Desportiva.

 



Cedência antes de reajustes "era violação do PDM"

Como, mais do que nunca, "tempo é dinheiro", a comissão de gestão da Desportiva esperava que o processo de cedência do terreno fosse mais rápido. Mas "é tudo uma questão de tempo", justifica Fernando Badana, depois da última reunião com Maria do Carmo Borges.
Um mês, é o tempo para que a parcela em causa possa ficar autónoma do restante parque industrial, em condições de ser cedida, no âmbito de uma revisão que está a ser efectuada. É o que explica Álvaro Guerreiro, na qualidade de presidente do conselho de administração da "Sodesigal", empresa municipal responsável pela gestão do parque industrial. "É impossível" qualquer passo antes de concluído o processo de alteração de toda a área industrial. De acordo com Guerreiro, estão a ser estudados os reajustes dos lotes em consequência das mudanças verificadas com instalação de empresas e com os novos acessos da Viceg. E justifica que, a haver qualquer cedência sem as coisas no devido lugar, "representaria uma violação" ao próprio Plano Director Municipal (PDM).
Por outro lado, a Sodesigal, enquanto empresa municipal que visa o desenvolvimento industrial, "tem dificuldade em ceder um terreno a uma colectividade", diz Álvaro Guerreiro. Mas, excepcionalmente, descansa o responsável, os estatutos prevêem que sejam assinados contratos programa com a Câmara para outras áreas de actividade. O que, de acordo com as declarações de Fernando Badana, está garantido tendo em conta o compromisso da presidente de Câmara de desbloquear a situação dentro de um mês.