Por Victor Amaral


Um fresco, representando o martírio de S. Sebastião, foi descoberto numa pequena capela na aldeia de Avelãs de Ambom, concelho da Guarda. A remoção do altar, faz agora dois anos, no âmbito de obras de restauro da ermida, colocou à vista a pintura da qual ainda pouco se sabe, quer em datas quer em termos de importância artística. Na aldeia, a certeza é de que remontará a altura da construção original da capela, com centenas de anos. É o que atesta o mais velho morador de Avelãs, Amândio Sequeira, 94 anos, que não se lembra - e a memória ainda o não atraiçoa - daquele fresco à vista.
O objectivo da Comissão da Fábrica da Igreja era tão só a limpeza, tratamento da talha do altar e substituição do telhado, mas a descoberta obriga à mudança de planos e a outras atenções. É o que diz Luís Figueiró, presidente de Junta e membro daquela comissão responsável pela gestão dos espaços de culto. Não havia ainda sido dado conhecimento do achado ao Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), o que foi feito esta semana, depois de os responsáveis locais entenderem ter chegado a altura de pedir a intervenção daquele instituto para que se proceda a uma correcta avaliação técnica.

Capela acolhe exposições

Seja qual for o futuro enquadramento, Luís Figueiró não tem dúvidas de que se trata de "uma mais valia para a aldeia". O responsável, em nome dos cerca de 90 habitantes, espera que o resto da intervenção possa devolver, o mais possível, as características originais da capela, com destaque para a preservação da pintura. Até porque, desconfia o autarca, o altar removido terá vindo de outra capela sendo apenas original a mesa de pedra e as pinturas.
A capela era utilizada duas vezes por ano, por altura da festa anual em honra a S. Sebastião, e no domingo de ramos. Mas a ideia para a sua recuperação vai para além do culto. O ano passado, já com o fresco à vista, serviu de espaço para uma exposição de pintura e fotografia. No último sábado, voltou a abrir a porta para receber a exposição dos "Panos de Santa Bárbara" - de Maria Barraca, uma colecção do Centro Cultural de Famalicão da Serra em itinerância no âmbito do programa "Andarilho", pela mão da Câmara da Guarda.
Luís Figueiró entende que o espaço, depois de definitivamente recuperado, deve ter esta vocação cultural, mantendo-se aberta ao culto e, inclusive, poder servir de capela mortuária, que não existe.
O responsável destaca que a descoberta vem juntar-se ao património artístico da Igreja Matriz, a qual se encontra também com necessidade de obras de restauro. O IPPAR fez aí, em 1995, um levantamento das pinturas no tecto tendo concluído que tinham valor plástico mais que suficiente para recuperação. A Comissão da Fábrica da Igreja está à espera, pelo terceiro ano consecutivo, que a Comissão de Coordenação da Região Centro (CCRC) possa apoiar as necessárias obras, através do programa específico de Trabalhos de Natureza Simples (TNS).