José Geraldes


Vocações

As consequências da falta de vocações levou a que se repensassem muitas formas da presença da Igreja.


Na Igreja Católica, esta semana é anualmente dedicada às vocações. Para os não crentes e os menos praticantes, a palavra vocações pode soar a algo de estranho. Em sentido alargado, a vocação significa o chamamento à fé e à santidade. E designa uma realidade muito concreta: o chamamento de uma pessoa a um compromisso ou a uma missão ou serviço na mesma Igreja.
Quando se fala de vocações, não se englobam só as candidaturas ao sacerdócio mas também à vida religiosa. Ou seja, trata-se de empenhar a vida ao serviço dos outros numa dedicação exclusiva.
Mas tem que haver um chamamento especial para este serviço. Por isso, não se é padre ou freira porque se quer. Pode haver o desejo mas não o chamamento.
Em termos da teologia cristã, é o Espírito Santo que desperta o chamamento. Compete depois aos responsáveis da Igreja analisar os sinais de tal chamamento e ajudar o candidato na caminhada até ao compromisso final.
A questão das vocações põe-se hoje com muita actualidade. Com efeito, a sua diminuição faz-se sentir de forma expressiva nos efectivos da Igreja Católica. Causas várias são apontadas para esta diminuição, desde a baixa da natalidade até ao estilo de sociedade consumista e de perda de valores em que vivemos.
Invoca-se também o celibato e a não admissão das mulheres ao sacerdócio. Mas nas igrejas protestantes, onde os ministros do culto são casados e mulheres exercem funções sacerdotais, a queda das vocações também é uma dura realidade. Os argumentos apresentam-se, pois, redutores.
As consequências da falta de vocações levou a que se repensassem muitas formas da presença da Igreja. Hoje há padres com sete e oito e dez paróquias quando no passado cada paróquia tinha o seu pároco. E, em muitas, deixou de se celebrar a missa ao domingo. Em sua substituição, realizam-se as chamadas "celebrações da palavra".
Em grandes cidades da Europa, criaram-se as "unidades pastorais", isto é, equipas de três ou quatro sacerdotes que tomam a seu cargo comunidades de 40 ou 50 mil habitantes com vários lugares de culto.
Será uma tragédia a diminuição das vocações? D. António Ferreira Gomes, conhecido bispo que foi do Porto, costumava dizer que este facto podia ser uma forma de purificar a fé dos cristãos e uma prova do seu catolicismo. E aduzia o argumento de na história da Igreja ter havido várias épocas de crise vocacional. E a fé não morreu.
Isto não significa que a preocupação pelas vocações seja abandonada. As vocações, pela natureza da própria Igreja, fazem parte da sua missão.
O que não se pode perder de vista, é atribuição de maiores responsabilidades aos leigos como o Vaticano II claramente explicita. E ultimamente esta opção tem sido encorajada pelos bispos. Importa que as comunidades operem uma mudança de mentalidades. E que todos os membros da Igreja, os baptizados, assumam as suas responsabilidades.
O poema-oração de Teresa de Ávila abre-nos caminhos de esperança: "Nada te inquiete/nada te assuste;/pois tudo passa, Deus nunca muda./A paciência/ alcança tudo./ Quem Deus possui /nada lhe falta./Só Deus nos basta."