A sociedade do espectáculo vista por uma lupa
O acto criativo na produção massificada

Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta, foi o convidado da primeira de uma série de quatro conferências destinadas a reflectir sobre a "Sociedade do Espectáculo - A Cortina da Cultura Mediática", ao longo de Maio, na Mediateca VIII Centenário da Guarda.
O tema escolhido pelo cantor foi "Música, Indústria, Mass Media" e a sua reflexão recaiu sobre a forma como a criação musical é influenciada pelos interesses da indústria discográfica e dos mass media.



Por Helga Nunes


O vocalista dos Mão Morta, Adolfo Luxúria Canibal, foi o primeiro de quatro oradores convidados pela Mediateca VIII Centenário, da Guarda, no sentido de reflectir sobre a "Sociedade do Espectáculo - A Cortina da Cultura Mediática". A conferência, subordinada à temática "Música, Indústria, Mass Media", decorreu a 6 de Maio, e a intervenção do cantor foi orientada, sobretudo, para a inibição que a indústria e os media provocam na arte criativa.
O conferencista começou por abordar a confusão que existe entre o real e a realidade transmitida pelas imagens e as suas consequências prozaicas na música. Um mundo em que "o criativo das letras ou dos sons é um ser livre, ainda que não o sendo". Uma dimensão em que "os músicos fecundam ideias todos os dias, ainda que não as tenham".
O que existe, segundo o mesmo, é um processo de criação que se baseia sobretudo na reciclagem e que pressupõe um afunilamento de soluções criativas. Tudo porque "qualquer produção artística funciona em termos industriais", fundamentando-se na procura de lucro ou na capitalização de investimentos. Como tal, a sociedade globalizada procura vender produtos que as pessoas já conhecem, enquanto o autor trabalha sobre conceitos e objectos pré-existentes dando origem a produtos uniformes e massificados.
Se a este cenário se adicionar a questão da sobrevivência dos criadores, enquanto variável inibidora da liberdade de criação, chega-se à conclusão que "uma das formas de salvaguardar a liberdade criativa é não depender directamente da criação para sobreviver".
Outra forma da criação livre atingir a notoriedade pública é sobrevivendo em mercados não "formatados" ou emergindo do underground. "Isto acontece com o hip hop nos EUA na década de 80 e na França com a música electrónica", sustenta Adolfo Luxúria Canibal.
Sempre que um projecto musical é lançado no mercado discográfico, seja ele qual for, depara-se com a resistência por parte dos media. Como o intuito principal da imprensa é abarcar o maior número de leitores, e como o público-alvo na sua maioria só está receptivo ao que já conhece, então o espaço nos media é concedido aos projectos musicais delineados por grandes estratégias de marketing e não aos músicos desconhecidos, e inovadores.
A percepção de Adolfo Canibal é a de que existe uma memória pré-fabricada e condicionada pelos media. Que a única forma de contrariar o processo industrializado é manter "os sinais vermelhos sempre acesos" e codificar as palavras de ordem que comandam a sociedade.