José Geraldes


Sempre a droga

Os projectos de prevenção são para já a melhor resposta ao problema. Famílias, escolas e outros intervenientes sociais não podem ficar de braços cruzados

A droga. Sempre a droga. Problema das famílias, problema da sociedade. De tempos a tempos, há apreensões consideradas pelas autoridades como mais uma vitória sobre os traficantes. Mas o comércio continua florescente. Os Estados mostram-se incapazes de controlar o seu fluxo cuja diminuição é uma utopia. Pudera!
A droga alimenta guerras, paga arsenais de armas, produz novos-ricos, alimenta chorudas contas bancárias, faz de pobretanas que não trabalham milionários, de um dia para o outro. E funciona como o exemplo-tipo da corrupção. Levante-se o sigilo bancário e as surpresas virão em catadupa sobre a proveniência do dinheiro. Como se explicam riquezas não acumuladas ao longo da vida ? A compra de faustosas moradias, de automóveis topo de gama, um alto nível de vida inexplicável são sinais de uma evidência de clareza meridiana.
E tais proventos à custa da vida de milhares, senão milhões de seres humanos. Porque a droga mata mais do que muitas doenças convencionais. E provoca a instabilidade social. Porque instala o medo de sair à rua nos centros urbanos sobretudo à noite. Gera o desespero em pais e mães que sonharam para os seus filhos amanhãs que cantam. E tornou-se um flagelo como a peste na Idade-Média.
Agora das cidades, o seu comércio deslocou-se para os meios rurais do Interior. O distrito de Castelo Branco aparece como um daqueles onde o consumo está a aumentar. E novidade também: são os adolescentes que figuram no topo dos maiores consumidores.
Quanto às drogas, o cannabis, o ecstasy, a cocaína, as anfetaminas, o LSd e a heroína ocupam os primeiros lugares na procura. Estes dados constam de um inquérito sobre o meio escolar tornado público, na semana passada, por ocasião do Dia Mundial da Luta contra a Droga.
Que explicação para um tal aumento de consumo ? Os investigadores do estudo inclinam-se pela facilidade do acesso à droga. Aqui a rota do tráfico desempenha um papel importante.
É conhecida por toda a gente a rota do tráfico da Beira Interior que parte de Ciudad Rodrigo, em Espanha, passa pela Guarda e Covilhã e continua até Castelo Branco. Há anos, o NC publicou uma reportagem sobre esta rota onde se relatava inclusivamente um diálogo de negócio da droga mesmo nas Arcadas do Pelourinho.
Hoje os adolescentes têm contactos por telemóvel sobre os locais onde se podem abastecer. A curiosidade em experimentar as sensações das drogas é outro elemento a ter em conta. Do conjunto dos alunos inquiridos, 14 por cento confessam ter experimentado alguma das drogas referidas.
Mas existem outras causas que levam os adolescentes em idade escolar a procurar a droga: vazio de ideais na sociedade moderna, namoros frustrados, emoções mal geridas, insucesso na escola, conflitos familiares.
Face estes dados preocupantes, que fazer ? Os projectos de prevenção são para já a melhor resposta ao problema. Famílias, escolas e outros intervenientes sociais não podem ficar de braços cruzados.
A tarefa da atenção exige a colaboração de todas estas entidades para que os adolescentes não procurem a droga como solução dos seus problemas. Há caminhos e lugares onde as questões próprias da idade podem e devem ser resolvidas. E o falar abertamente da droga ajuda à prevenção.
Não cedamos à mentalidade fatalista de aceitar os factos só porque acontecem. Lancemos, isso sim, iniciativas que contrariem a procura da droga. Não só com a colaboração dos especialistas mas implicando também activamente os próprios adolescentes em ligação com os agentes educativos.