José Geraldes

Tristezas e alegrias de férias

Só Deus sabe a fé que António Paulouro tinha. Mas respeitava a fé de quem a praticava, sabendo ser tolerante. À sua militância cívica e inovação jornalística aliou a determinação de chefe de família sempre dedicado e cumpridor

Férias. No reencontro com os leitores, depois de férias de praia, termas e do silêncio dos montes e da planície do Alentejo, o espírito vem mais solto e liberto das pressões do quotidiano. E com mais elã para os trabalhos do novo ano social e os desafios que nos esperam.
As férias são um retemperar de forças e um lenitivo das canseiras acumuladas. Permitem também uma análise e um balanço do que se projectou e não se fez . E de relançar iniciativas e programas que importa levar a cabo. Elas incentivam o trabalho, quebrando a monotonia das rotinas. Como diz um ilustre bispo já emérito, em cuja companhia partilhámos saberes e memórias, "quem não sabe descansar, não sabe trabalhar." E lá diz a Bíblia que, ao sétimo dia, Deus descansou.
António Paulouro. As férias não trazem só alegrias. Mas também tristezas.
Este ano as férias surpreenderam-nos com uma notícia que dói a alma: a morte de António Paulouro, fundador e director do colega de imprensa Jornal do Fundão. Para lá da natural concorrência no mercado do mesmo espaço jornalístico, nunca tal facto beliscou uma amizade de 40 anos. Unia-nos a solidariedade do combate pelos direitos humanos, desenvolvimento da Região e a promoção das gentes beirãs. Conversámos muitas vezes, em determinado tempo, sobretudo depois do Vaticano II, sobre a Igreja. Só Deus sabe a fé que António Paulouro tinha. Mas respeitava a fé de quem a praticava, sabendo ser tolerante. À sua militância cívica e inovação jornalística aliou a determinação de chefe de família sempre dedicado e cumpridor. Vêm-nos à lembrança as palavras de T.S. Elliot: "Fez o útil e o belo no tempo justo."
Auto-Estrada para Coimbra. Pedro Serra, presidente do Instituto de Estradas de Portugal, devia estar distraído quando declarou não se justificar a Auto-Estrada da Covilhã para Coimbra. Ou Pedro Serra desconhece a Beira Interior ou alimenta equívocos que precisam urgentemente de serem esclarecidos. O argumento de não haver tráfego não colhe. A irmos por este caminho, a Auto-Estrada da Beira Interior- a A23- seria um IC como aliás estava previsto desde o início. E hoje vê-se o trânsito que por lá circula. E depois toda a Região continuará encravada. Coimbra, como no NC António Fidalgo lembrou, vai perder porque fica sem uma ligação directa e rápida à fronteira em direcção à Europa. E, apesar de termos um moderno Hospital e uma Faculdade de Medicina, precisamos ainda de procurar cuidados de saúde em Coimbra. E, se a Região Centro é uma unidade regional, impõe- se que o IC6 tenha perfil de auto-estrada. Esta é que é a visão do futuro. Daí a não cruzarmos os braços. E a manchete do NC - Covilhã exige a Auto-Estrada para Coimbra - tem que ser um slogan permanente a mobilizar toda as boas-vontades. Então empenhemo-nos na luta: autarquias, instituições, cidadãos de todos os quadrantes, partidos políticos, sindicatos.
Portagens: reavaliação. Valente de Oliveira anunciou que as portagens iam ser reavaliadas. A Scutvias declara que a construção da A-23 não prevê a instalação de portagens. Ora a introdução de portagens custaria centenas de milhões de contos. E o Interior continuava a sofrer penalizações a entravar o seu progresso. Mas acreditamos que a discriminização positiva seja um dado adquirido. Isto segundo o princípio de que, em política, o que parece é.