  
                          José Geraldes 
                         
                     | 
                      
                      Feriados e Código 
                      do Trabalho 
                       
                      É imperioso que a legislação 
                      laboral seja adaptada aos tempos modernos para que a produtividade 
                      em Portugal deixe de ser 40 por cento inferior à 
                      média europeia e 30 por cento abaixo da Espanha. 
                       
                       
                       O novo Código 
                        do Trabalho proposto pelo Governo tem suscitado oposição 
                        tanto da parte dos sindicatos como dos empregadores. Ambas 
                        as entidades consideram que não corresponde aos 
                        seus objectivos em relação ao mundo do trabalho. 
                        No entanto, é imperioso que a legislação 
                        laboral seja adaptada aos tempos modernos para que a produtividade 
                        em Portugal deixe de ser 40 por cento inferior à 
                        média europeia e 30 por cento abaixo da Espanha. 
                         
                        O Código que incorpora as directivas da União 
                        Europeia, é inspirado nos modelos alemão, 
                        francês e espanhol e compila todas as leis laborais 
                        desde os anos 60 em 700 artigos. Além disso, não 
                        se pode esquecer que no nosso País se perdem por 
                        ano 52 milhões de dia de trabalho. E há 
                        400 mil portugueses que faltam ao trabalho em média 
                        por dia dos quais 200 mil alegam razões de saúde. 
                        Destes, 80 mil não consegue provar a impossibilidade 
                        de trabalho. 
                        Quanto aos gestores, um relatório internacional 
                        recente considerava-os com falta de visão estratégica 
                        e cultura geral, sem espírito de equipa, autocratas 
                        e desorganizados. E dando importância aos títulos 
                        académicos. E ainda com salários acima da 
                        média europeia. Conclui-se desta análise 
                        que uma reforma de mentalidades se impõe a todos 
                        os níveis. 
                        A flexibilização das leis do trabalho é 
                        fundamental mas sem pôr em causa os direitos dos 
                        trabalhadores. Não se trata de conciliar o inconciliável 
                        mas tão somente de todos os problemas serem discutidos 
                        e objecto do consenso mais alargado em sede de concertação 
                        social. 
                        No mundo da globalização em que vivemos 
                        - um facto irrecusável seja qual for a opinião 
                        de cada um a seu respeito - tem que haver uma adaptação 
                        aos novos tempos, sob pena de continuarmos agarrados a 
                        um passado que já não conta. E a realidade 
                        cruel está no horizonte: os empregos para toda 
                        vida tendem a desaparecer bem como a subsídiodependência 
                        do Estado. 
                        Nos países mais avançados, dada a competitividade 
                        dos mercados, já existe uma legislação 
                        mais flexível do trabalho incluindo o Leste da 
                        Europa. Na Hungria a produtividade é superior à 
                        portuguesa. 
                        Na Alemanha, os Verdes, o partido da coligação 
                        do governo mais à esquerda, apostaram na modernização 
                        do mercado do trabalho. Nos Estados Unidos, são 
                        os sindicatos que negoceiam com os potenciais investidores 
                        as condições específicas para os 
                        investimentos. 
                        Será esta tendência a defesa de um capitalismo 
                        duro sem regras? De maneira nenhuma. A doutrina social 
                        da Igreja é, a este respeito, muito clara. O Vaticano 
                        II diz : "O trabalho deve ser remunerado de maneira 
                        a dar ao homem a possibilidade de cultivar dignamente 
                        a própria vida material, social, cultural e espiritual 
                        dos seus (...) tendo em conta as funções 
                        e a produtividade de cada um."  
                        A Constituição Portuguesa defende que "todos 
                        têm direito ao trabalho". E a Declaração 
                        dos Direitos do Homem fala do "direito à livre 
                        escolha do trabalho."  
                        Uma nova regulamentação do trabalho tem 
                        de ter em conta estes princípios. O que também 
                        não desculpa os que procuram os Centros de Emprego 
                        e rejeitam sistematicamente os empregos propostos e preferem 
                        continuar com o subsídio de desemprego. Ou então 
                        só querem o Rendimento de Inserção 
                        Social.  
                        A questão dos feriados religiosos merece um tratamento 
                        de pinças para não ferir a sensibilidade 
                        do povo português e desvirtuar as datas que neles 
                        se comemoram. Compreende-se que se ponha termo ao exagero 
                        das pontes que custam em cada semana 11 milhões 
                        de contos ao País. Discuta-se, pois, com todas 
                        as partes com bom senso e respeito pelos direitos adquiridos. 
                        Mas não haja medo da mudança. Quem não 
                        deseja mudar arrisca-se a ir parar ao museu da história. 
                        E o País tem de andar para a frente no caminho 
                        do progresso. 
                         
                      
                       
                          
                       
                         
                         
                          
                     |