Por Catarina Rodrigues



As ruas encheram-se de manifestantes que exigiram medidas urgentes ao poder plítico e à banca

Mais de mil trabalhadores das empresas Carveste e Nova Penteação manifestaram-se na passada sexta feira, 11, na Covilhã. O protesto serviu para denunciar o atraso no pagamento dos salários e para exigir que o poder político e a banca tomem medidas que permitam a recuperação e a continuidade das empresas. Aos cerca de 600 trabalhadores da Nova Penteação juntaram-se mais de 500 da Carveste. A manifestação organizada pelo Sindicato dos Têxteis da Beira Baixa (STBB) contou ainda com a adesão de populares e comerciantes.
Ana Afonso, dirigente sindical, trabalhou 30 anos na Nova Penteação. A empresa foi considerada até há bem pouco tempo uma das melhores da região. Ana Afonso deixou de trabalhar há um ano nesta unidade fabril mas continua solidária com os colegas. Sem hesitar, atribui a culpa da situação que actualmente se vive "às sucessivas más administrações". Acrescenta que só acredita na resolução do problema "se o poder político intervir". Os operários da "Nova" aguardam ansiosamente o ordenado do mês de Setembro depois de terem sofrido atrasos sucessivos no pagamento dos salários. Para complicar a situação, na firma há encomendas mas não há verbas para a matéria-prima. Já ninguém financia nada à empresa. Nem bancos nem fornecedores. Neste momento há uma paralisação total dos trabalhadores e a actual administração nada garante. Os operários mantêm-se em grupos na empresa mesmo sem trabalhar. Temem que sejam retirados os valores existentes na "Nova".
Na Carveste, a situação é semelhante. O atraso no pagamento dos salários é frequente. No que respeita ao mês de Setembro apenas foram pagos, na semana passada, 200 euros a cada trabalhador. Luís Fonseca, trabalha nesta confecção situada em Caria, no concelho de Belmonte, há dez anos e diz não acreditar que a situação melhore. Afirma que "tudo se deve à má gerência da empresa".

Propostas do Sindicato mantêm-se, mas a situação agrava-se

Todos os manifestantes percorreram várias ruas da cidade com cartazes e palavras de ordem até chegarem à Praça do Município. Os dirigentes sindicais entregaram um documento no Instituto de Apoio a Pequenas e Médias Empresas (IAPMEI), na Câmara Municipal da Covilhã, no BPI e no Banco Totta e Açores.
O documento foi, segundo Luís Garra, presidente do STBB, "mais uma forma de chamar a atenção para a necessidade de tomar medidas urgentes". No mesmo é referido um conjunto de propostas anteriormente feitas por carta ao primeiro ministro. Subscrito por 20 autarquias da região o documento visava a implementação de medidas de caracter excepcional para o distrito de Castelo Branco. A criação de uma linha de crédito bonificada à taxa de zero por cento destinada a empresas que o justifiquem, a implantação de medidas que promovam o investimento e que combatam as transferências de riqueza criadas no sector foram alguns dos pedidos feitos a Durão Barroso que até à data não tiveram resposta.
Segundo Luís Garra, "o governo está alertado para a situação vivida nas empresas há muito tempo". O sindicalista acusa ainda a banca de "actos criminosos que vão conduzir ao encerramento das empresas".
Os dirigentes sindicais foram recebidos pelo vice-presidente da Câmara Municipal da Covilhã que garantiu "total solidariedade com os trabalhadores". Alçada Rosa explica que "a autarquia vai tentar sensibilizar o governo e outras instituições" no sentido de encontrar soluções para o problema.
Só no último ano foram registadas 17 falências no distrito de Castelo Branco. A situação atirou mil e 800 pessoas para o desemprego. Belmonte foi o concelho mais afectado. Centenas de famílias foram atingidas pela crise vivida no sector dos lanifícios e das confecções.


 




Mais de mil trabalhadores do sector têxtil e das confecções estão ameçados pelo desemprego



Garra critica Fórum da Beira Baixa



O presidente do STBB teceu duras críticas ao Fórum da Beira Baixa. O evento foi organizado pelo Governo Civil de Castelo Branco e decorreu na capital de distrito no mesmo dia da manifestação que teve lugar na Covilhã. "O Fórum é irrelevante num quadro em que mais de mil pessoas estão ameaçadas pelo desemprego", salienta Garra.
Segundo o sindicalista, "académicos e empresários podem estar embevecidos a ouvirem-se uns aos outros, mas os problemas continuam e ninguém apresenta soluções concretas".
Luís Garra lembra que o distrito atravessa problemas económicos e precisa da revitalização do tecido empresarial e de uma maior segurança nas empresas e nos postos de trabalho. O presidente do STBB mostra-se decepcionado com o facto do governo não ter acolhido até ao momento nenhuma das propostas apresentadas pelo sindicato.