| Urbi@Orbi- Qual foi o caminho que percorreu até chegar ao cargo actual?
 Manuel Raposo- Licenciei-me em Finanças, em 1973, no Instituto Superior 
                        de Economia e Finanças de Lisboa. Comecei por trabalhar no Instituto dos 
                        Têxteis e, em seguida, no Grupo de Trabalho da Cova da Beira, juntamente 
                        com o Dr. Duarte Simões, fundador do Instituto Politécnico. Cheguei 
                        ao meu cargo em 1985 e cá permaneço hà 18 anos.
 
 U@O- O que gosta de fazer quando não está a exercer a sua função 
                        de administrador?
 
 M.R.- Gosto de ler, gosto do campo. Na minha aldeia tenho algumas árvores 
                        de fruto e às vezes entretenho-me a cuidar delas, ou então a ir 
                        à serra. Gosto de ocupar sempre o tempo, mais ou menos vocacionado para 
                        a agricultura, porque aqui na zona não existem outros hobbies que me agradem.
 
 U@O- É sabido que o preço das refeições nas cantinas 
                        e do alojamento nas residências aumentou devido a um despacho ministerial. 
                        Mas a que se deveu o aumento dos preços nos bares e snacks?
 
 M.R.- O preço do quarto do bolseiro estava em 6440 escudos e passou 
                        agora para 12,5% do Salário Mínimo Nacional, ou seja, por volta 
                        dos 50 euros. No entanto, o bolseiro não sentiu algum aumento no preço 
                        do quarto, uma vez que a bolsa de estudo é constituída por uma bolsa 
                        base mais um complemento para o quarto; o facto do preço ter aumentado 
                        apenas modifica o valor do complemento. Os quartos são, em primeiro lugar, 
                        para os bolseiros. Os alunos não-bolseiros é que têm de pagar 
                        algo que se aproxime do preço real, e aí o preço passou de 
                        79,8 euros para os 89,8 aproximando-se do preço de custo e não de 
                        um preço mercantilista. E mais ainda, o despacho do Sr. Ministro fez com 
                        que se extinguisse o estatuto do aluno ex-bolseiro (aquele que no ano anterior 
                        teve bolsa e neste não), mas nós decidimos manter este estatuto, 
                        passando o preço do quarto de 50 euros para 59,8 euros.
 O aumento, para a generalidade dos alunos, verificou-se no preço da senha 
                        da cantina, na refeição social. O preço da refeição 
                        já não era actualizado hà quatro anos, e era o preço 
                        mínimo. Os SASUBI tinham todo o interesse em aumentar os preços, 
                        equiparando-os aos dos vários institutos superiores espalhados pelo País, 
                        mas mantivemos o preço mínimo com o intuito de defender os alunos. 
                        Aliás, como continuamos a fazer.
 A Acção Social resume-se em três vectores. Primeiro - 36% 
                        dos alunos da UBI são bolseiros, representando uma despesa de 37 a 40 mil 
                        contos todos os meses, segundo dados do ano lectivo de 2001/2002. No corrente 
                        ano vão ter bolsa de estudo 1660 alunos, isto é, um em cada 2,8 
                        alunos é bolseiro. Segundo - o quarto digno para o aluno carenciado tem 
                        de ser assegurado. Terceiro - a refeição social das cantinas tem 
                        de ser apoiada.
 A partir daqui, o serviço que os SASUBI prestam não tem de ser subsidiado, 
                        tem de ser fornecido ao melhor preço possível, prestando apoios 
                        que a sociedade civil não cobre.
 A medicina e o apoio familiar são gratuitos. O desporto também é 
                        gratuito, porque somos nós que subsidiamos a Associação Académica 
                        (AAUBI). Quanto aos bares, não têm de ser sociais, mas auto-suficientes, 
                        ou seja, que a receita pague a despesa.
 As pessoas, muitas vezes, interrogam-se qual o motivo do preço do café 
                        aumentar. O café em si, o pó, custa 3 ou 4 cêntimos, mas os 
                        funcionários, a máquina, a água e a luz ficam bastante dispendiosos. 
                        Os bares da UBI estão abertos menos horas por dia e menos dias por semana 
                        do que um café da cidade e, mesmo assim, não podem dar prejuízo.
 Veja-se só esta ideia: o Orçamento de Estado (OE) que vamos receber 
                        em 2003 chega para as bolsas de estudo e para os salários dos funcionários. 
                        Teremos de viver com as receitas próprias: das cantinas, dos bares, dos 
                        snacks e quartos.
 
 U@O- Então, está a dizer que precisa do dinheiro dos estudantes 
                        para continuar o serviço social?
 
 M.R.- Quando se fala de Acção Social é preciso ter calma. 
                        Os SASUBI sempre precisaram do dinheiro dos estudantes. Desde hà 18 anos 
                        que o Estado dá uma parte e o resto é receita própria. Ninguém 
                        gosta de pagar mais, mas os preços dos snacks e bares subiram, em média, 
                        5 cêntimos, porque nós não temos dinheiro. Todas as matérias-primas 
                        aumentaram e nós temos de colmatar a diferença. Teve de ser, já 
                        que o Estado não nos deu a verba que pretendíamos.
 As aulas começaram a 16 de Setembro e assumimos a responsabilidade de, 
                        não sendo obrigados, pagar meio mês de bolsa em Setembro, embora 
                        não tenhamos esse dinheiro. Estamos a fazer um esforço que nem a 
                        AAUBI nem os estudantes reconhecem.
 
 U@O- A AAUBI tem tomado algumas acções de luta e de sensibilização 
                        em relação aos aumentos. O que pensa delas?
 
 M.R.- Eu compreendo, também já fui estudante. O estudante está 
                        sempre contra qualquer Governo. É algo de bom: reivindica, exige, luta, 
                        quer melhores condições. Mas, atenção, eu compreendo 
                        perfeitamente a posição da AAUBI, só que também compreendo 
                        que a maioria dos alunos sabe que não fazemos mais, porque não podemos. 
                        As associações de estudantes pressionam o Governo para haver mais 
                        verbas, mas também compreendo que o Governo possa não as ter.
 
 U@O- O que o levou a ir pessoalmente, no dia dos protestos aos bares, ao Pólo 
                        I, ver a acção de luta da AAUBI?
 
 M.R.- Fui lá por curiosidade. É uma luta, uma luta engraçada, 
                        porque se os alunos comerem menos nas cantinas mais dinheiro poupam os SASUBI. 
                        A AAUBI tem de ter um pouco de bom senso e compreender a nossa posição.
 
 U@O- Pensa que estas acções vão surtir algum tipo de efeito? 
                        Vai mudar algo em relação à sua posição?
 
 M.R.- Claro que não. Eu não posso, não há dinheiro. 
                        Se houver alguém que arranje o dinheiro, nós pomos a refeição 
                        a metade do preço. O problema é que existem prioridades: os mais 
                        carenciados, manter uma refeição condigna a preço social, 
                        e ter quartos de qualidade. Acho que possuímos residências de qualidade 
                        razoável.
 
 U@O- O que é que os SASUBI estão a promover actualmente?
 
 M.R.- Em tempos de crise promover qualquer coisa é difícil. 
                        Eu costumo dizer que os serviços sociais são a frustração 
                        do economista, porque a minha função é controlar custos, 
                        tentar fazer o melhor possível com o pouco dinheiro que existe.
 No entanto, existem medidas que estão a ser tomadas. Já estão 
                        a ser executadas as obras para o alargamento do snack do Pólo IV, enquanto 
                        não é aprovada a cantina. Outra coisa que nos preocupa é 
                        completarmos a construção da nova residência, junto ao Pólo 
                        IV. O resto é manter o que existe: o apoio à AAUBI, o apoio médico 
                        e desportivo. A cozinha da cantina de Sto. António foi totalmente reconstruída, 
                        porque são-nos exigidos padrões de higiene e qualidade superiores 
                        ao de um café da cidade.
 
 U@O. Nos dias de hoje discute-se muito a questão público vs. 
                        privado.
 Uma das cantinas já é concessionada. Pensa que o futuro dos SASUBI 
                        também passa por serem, pelo menos em parte, privatizados?
 
 M.R.- Eu não chamo a isso privatizar. O concessionar da cantina é 
                        uma questão de custos e de preços. Um outro motivo é a qualidade 
                        e a formação. Decidiu-se concessionar uma das cantinas para criar 
                        mais competição e por falta de pessoal qualificado. As cantinas 
                        concessionadas trazem um padrão de qualidade que obriga a subir o patamar 
                        da nossa. E, mais, ao fim-de-semana pusemos os estudantes a comer em restaurantes 
                        da cidade. É das coisas que eu nunca tive enquanto fui estudante: ter a 
                        opção de comparar e ver o que é uma cantina pública, 
                        uma concessionada, e o que é restaurante. Os alunos são os actores 
                        ideais para analisar todas as diferenças.
 O futuro passará por uma cozinha central, com um serviço de catering, 
                        com funcionários especializados e condições de higiene adequadas. 
                        Uma cozinha para todas as cantinas, snacks e bares. Tudo distribuído em 
                        contentores convenientes e com controlo da qualidade.
 Na minha opinião, não é possível miniaturizar os preços. 
                        Não é preciso ser-se da área de gestão ou finanças 
                        para se saber que quando se conseguir rentabilizar a produção e 
                        a distribuição o preço baixará. Hoje em dia, o número 
                        de alunos que comem na cantina é cada vez menor. O poder de compra dos 
                        alunos aumentou e, muitas vezes, preferem comer num snack ou, então, em 
                        casa. Às vezes, um aluno desconhece o que é o nosso Serviço 
                        de Acção Social. Comparando os serviços sociais universitários: 
                        nós, na UBI, somos os que damos mais bolsas por aluno, somos os que mais 
                        gasta no País, a seguir a Coimbra, a nível de alimentação 
                        e alojamento por aluno, temos o terceiro melhor OE por aluno e temos também 
                        uma cota bastante elevada de receita própria por aluno.
 Eu penso que as direcções das associações académicas 
                        e os próprios estudantes devem conhecer o que é a realidade. A nossa 
                        filosofia é: o que está mal muda-se, e tentamos fazer tudo o que 
                        é possível para ajudar os estudantes, mas ninguém faz omeletes 
                        sem partir ovos. Por isso é que há estes aumentos de que ninguém 
                        gosta. No entanto, são absolutamente necessários.
 O Estado está em crise e penso que seria de bom senso os estudantes compreenderem, 
                        com ponderação, o momento que o nosso País está a 
                        atravessar e que não existem culpados.
 
 
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