Por Daniel Sousa e Silva


"Somos os que damos mais bolsas por aluno, a seguir a Coimbra"

Urbi@Orbi- Qual foi o caminho que percorreu até chegar ao cargo actual?

Manuel Raposo-
Licenciei-me em Finanças, em 1973, no Instituto Superior de Economia e Finanças de Lisboa. Comecei por trabalhar no Instituto dos Têxteis e, em seguida, no Grupo de Trabalho da Cova da Beira, juntamente com o Dr. Duarte Simões, fundador do Instituto Politécnico. Cheguei ao meu cargo em 1985 e cá permaneço hà 18 anos.

U@O- O que gosta de fazer quando não está a exercer a sua função de administrador?

M.R.-
Gosto de ler, gosto do campo. Na minha aldeia tenho algumas árvores de fruto e às vezes entretenho-me a cuidar delas, ou então a ir à serra. Gosto de ocupar sempre o tempo, mais ou menos vocacionado para a agricultura, porque aqui na zona não existem outros hobbies que me agradem.

U@O- É sabido que o preço das refeições nas cantinas e do alojamento nas residências aumentou devido a um despacho ministerial. Mas a que se deveu o aumento dos preços nos bares e snacks?

M.R.-
O preço do quarto do bolseiro estava em 6440 escudos e passou agora para 12,5% do Salário Mínimo Nacional, ou seja, por volta dos 50 euros. No entanto, o bolseiro não sentiu algum aumento no preço do quarto, uma vez que a bolsa de estudo é constituída por uma bolsa base mais um complemento para o quarto; o facto do preço ter aumentado apenas modifica o valor do complemento. Os quartos são, em primeiro lugar, para os bolseiros. Os alunos não-bolseiros é que têm de pagar algo que se aproxime do preço real, e aí o preço passou de 79,8 euros para os 89,8 aproximando-se do preço de custo e não de um preço mercantilista. E mais ainda, o despacho do Sr. Ministro fez com que se extinguisse o estatuto do aluno ex-bolseiro (aquele que no ano anterior teve bolsa e neste não), mas nós decidimos manter este estatuto, passando o preço do quarto de 50 euros para 59,8 euros.
O aumento, para a generalidade dos alunos, verificou-se no preço da senha da cantina, na refeição social. O preço da refeição já não era actualizado hà quatro anos, e era o preço mínimo. Os SASUBI tinham todo o interesse em aumentar os preços, equiparando-os aos dos vários institutos superiores espalhados pelo País, mas mantivemos o preço mínimo com o intuito de defender os alunos. Aliás, como continuamos a fazer.
A Acção Social resume-se em três vectores. Primeiro - 36% dos alunos da UBI são bolseiros, representando uma despesa de 37 a 40 mil contos todos os meses, segundo dados do ano lectivo de 2001/2002. No corrente ano vão ter bolsa de estudo 1660 alunos, isto é, um em cada 2,8 alunos é bolseiro. Segundo - o quarto digno para o aluno carenciado tem de ser assegurado. Terceiro - a refeição social das cantinas tem de ser apoiada.
A partir daqui, o serviço que os SASUBI prestam não tem de ser subsidiado, tem de ser fornecido ao melhor preço possível, prestando apoios que a sociedade civil não cobre.
A medicina e o apoio familiar são gratuitos. O desporto também é gratuito, porque somos nós que subsidiamos a Associação Académica (AAUBI). Quanto aos bares, não têm de ser sociais, mas auto-suficientes, ou seja, que a receita pague a despesa.
As pessoas, muitas vezes, interrogam-se qual o motivo do preço do café aumentar. O café em si, o pó, custa 3 ou 4 cêntimos, mas os funcionários, a máquina, a água e a luz ficam bastante dispendiosos. Os bares da UBI estão abertos menos horas por dia e menos dias por semana do que um café da cidade e, mesmo assim, não podem dar prejuízo.
Veja-se só esta ideia: o Orçamento de Estado (OE) que vamos receber em 2003 chega para as bolsas de estudo e para os salários dos funcionários. Teremos de viver com as receitas próprias: das cantinas, dos bares, dos snacks e quartos.

U@O- Então, está a dizer que precisa do dinheiro dos estudantes para continuar o serviço social?

M.R.
- Quando se fala de Acção Social é preciso ter calma. Os SASUBI sempre precisaram do dinheiro dos estudantes. Desde hà 18 anos que o Estado dá uma parte e o resto é receita própria. Ninguém gosta de pagar mais, mas os preços dos snacks e bares subiram, em média, 5 cêntimos, porque nós não temos dinheiro. Todas as matérias-primas aumentaram e nós temos de colmatar a diferença. Teve de ser, já que o Estado não nos deu a verba que pretendíamos.
As aulas começaram a 16 de Setembro e assumimos a responsabilidade de, não sendo obrigados, pagar meio mês de bolsa em Setembro, embora não tenhamos esse dinheiro. Estamos a fazer um esforço que nem a AAUBI nem os estudantes reconhecem.

U@O- A AAUBI tem tomado algumas acções de luta e de sensibilização em relação aos aumentos. O que pensa delas?

M.R.-
Eu compreendo, também já fui estudante. O estudante está sempre contra qualquer Governo. É algo de bom: reivindica, exige, luta, quer melhores condições. Mas, atenção, eu compreendo perfeitamente a posição da AAUBI, só que também compreendo que a maioria dos alunos sabe que não fazemos mais, porque não podemos. As associações de estudantes pressionam o Governo para haver mais verbas, mas também compreendo que o Governo possa não as ter.

U@O- O que o levou a ir pessoalmente, no dia dos protestos aos bares, ao Pólo I, ver a acção de luta da AAUBI?

M.R.-
Fui lá por curiosidade. É uma luta, uma luta engraçada, porque se os alunos comerem menos nas cantinas mais dinheiro poupam os SASUBI. A AAUBI tem de ter um pouco de bom senso e compreender a nossa posição.

U@O- Pensa que estas acções vão surtir algum tipo de efeito? Vai mudar algo em relação à sua posição?

M.R.-
Claro que não. Eu não posso, não há dinheiro. Se houver alguém que arranje o dinheiro, nós pomos a refeição a metade do preço. O problema é que existem prioridades: os mais carenciados, manter uma refeição condigna a preço social, e ter quartos de qualidade. Acho que possuímos residências de qualidade razoável.

U@O- O que é que os SASUBI estão a promover actualmente?

M.R.-
Em tempos de crise promover qualquer coisa é difícil. Eu costumo dizer que os serviços sociais são a frustração do economista, porque a minha função é controlar custos, tentar fazer o melhor possível com o pouco dinheiro que existe.
No entanto, existem medidas que estão a ser tomadas. Já estão a ser executadas as obras para o alargamento do snack do Pólo IV, enquanto não é aprovada a cantina. Outra coisa que nos preocupa é completarmos a construção da nova residência, junto ao Pólo IV. O resto é manter o que existe: o apoio à AAUBI, o apoio médico e desportivo. A cozinha da cantina de Sto. António foi totalmente reconstruída, porque são-nos exigidos padrões de higiene e qualidade superiores ao de um café da cidade.

U@O. Nos dias de hoje discute-se muito a questão público vs. privado.
Uma das cantinas já é concessionada. Pensa que o futuro dos SASUBI também passa por serem, pelo menos em parte, privatizados?

M.R.-
Eu não chamo a isso privatizar. O concessionar da cantina é uma questão de custos e de preços. Um outro motivo é a qualidade e a formação. Decidiu-se concessionar uma das cantinas para criar mais competição e por falta de pessoal qualificado. As cantinas concessionadas trazem um padrão de qualidade que obriga a subir o patamar da nossa. E, mais, ao fim-de-semana pusemos os estudantes a comer em restaurantes da cidade. É das coisas que eu nunca tive enquanto fui estudante: ter a opção de comparar e ver o que é uma cantina pública, uma concessionada, e o que é restaurante. Os alunos são os actores ideais para analisar todas as diferenças.
O futuro passará por uma cozinha central, com um serviço de catering, com funcionários especializados e condições de higiene adequadas. Uma cozinha para todas as cantinas, snacks e bares. Tudo distribuído em contentores convenientes e com controlo da qualidade.
Na minha opinião, não é possível miniaturizar os preços. Não é preciso ser-se da área de gestão ou finanças para se saber que quando se conseguir rentabilizar a produção e a distribuição o preço baixará. Hoje em dia, o número de alunos que comem na cantina é cada vez menor. O poder de compra dos alunos aumentou e, muitas vezes, preferem comer num snack ou, então, em casa. Às vezes, um aluno desconhece o que é o nosso Serviço de Acção Social. Comparando os serviços sociais universitários: nós, na UBI, somos os que damos mais bolsas por aluno, somos os que mais gasta no País, a seguir a Coimbra, a nível de alimentação e alojamento por aluno, temos o terceiro melhor OE por aluno e temos também uma cota bastante elevada de receita própria por aluno.
Eu penso que as direcções das associações académicas e os próprios estudantes devem conhecer o que é a realidade. A nossa filosofia é: o que está mal muda-se, e tentamos fazer tudo o que é possível para ajudar os estudantes, mas ninguém faz omeletes sem partir ovos. Por isso é que há estes aumentos de que ninguém gosta. No entanto, são absolutamente necessários.
O Estado está em crise e penso que seria de bom senso os estudantes compreenderem, com ponderação, o momento que o nosso País está a atravessar e que não existem culpados.