António Fidalgo

Produtividade e formação


Em Portugal ganha-se mal, é verdade, mas também se produz pouco. Para o que se produz, o que se ganha nem está tão mal, se tivermos em conta os outros países da União Europeia. É preciso aumentar a produtividade, produzir mais e melhor com menos custos, em menos tempo. Quais as razões da baixa produtividade em Portugal? Será por se trabalhar menos, por os portugueses serem mais preguiçosos do que os outros cidadãos europeus? Não parece ser esse o caso. O problema é essencialmente um problema de formação. Vejamos alguns casos concretos.
Em Portugal é raro começar uma reunião a horas. Um atraso de vinte minutos, meia hora, uma hora até, é algo normal e, pior, sentido como algo normal. No entanto, isso significa que, chegando metade das pessoas à hora marcada e tendo de esperar pelos que faltam, perdem o seu tempo na espera dos que chegam atrasados. A falta de pontualidade é um dos traços típicos de uma cultura que não sabe racionalizar os meios, nomeadamente o tempo. Um outro caso é o abuso nas desculpas. Quase tudo serve como uma boa desculpa. Ou porque surgiram tarefas inesperadas, ou porque um autocarro se atrasou, ou porque uma máquina se avariou ou alguém a não devolveu a tempo, um trabalhador acha que tem uma justificação mais que justa para não cumprir a sua parte. A culpa é dos outros e ele foi apenas mais uma vítima na cadeia de acções em que todos se situam e de que todos dependem. É uma atitude de desresponsabilização, onde a culpa é sempre de alguém a montante na cadeia dos acontecimentos. Depois vem a desorganização. Não existe uma boa análise dos problemas a resolver, dos assuntos a tratar, e, em consequência, não se definem, nem se distribuem, adequadamente, as tarefas correspondentes. Ou seja, há muito amadorismo na maneira de tratar dos assuntos, de falta de planeamento e de calendarização de tarefas, de não se delegarem devidamente competências.
Quando se fala em formação como elemento indispensável à produtividade isso significa não somente uma formação escolar, académica, mas sobretudo profissional. E essa formação profissional inclui não apenas um saber fazer, mas também fazê-lo com profissionalismo. Isto é, não fazer as coisas assim de qualquer maneira, mas fazê-las bem, com princípio, meio e fim.
À falta de profissionalismo corresponde uma falta de exigência, ou melhor, há pouco profissionalismo porque se exige pouco. Se todos fôssemos mais exigentes uns com os outros, se não desculpássemos tanto uns aos outros, então também cada um seria apanhado nessa cadeia de exigência e de responsabilização e seria obrigado a trabalhar melhor, mais racionalmente, e, desse modo, corresponder às exigências dos outros. É que desculpar os outros, exigir-lhes pouco, é uma forma de auto-protecção, um meio de os outros também não poderem exigir muito de nós. E, assim, caímos no mal português do porreirismo nacional, da desculpabilização colectiva, de isto ser tal como é, sem remédio, sem volta a dar-lhe.
A formação em causa, a que leva à produtividade, é académica, sem dúvida, mas é também, e sobretudo, cultural e espiritual.