José Geraldes

Contra o pessimismo, a auto-estima


A lei não manda nada. E o laxismo instalou-se como a doença da lepra difícil de curar

O pessimismo parece estar a apoderar-se dos portugueses. Pelo menos, é o que se conclui das últimas sondagens publicadas na Comunicação Social. As causas deste estado de espírito são fáceis de detectar. E não são susceptíveis de gerar ondas de admiração.
A catadupa de acontecimentos negativos que irromperam na sociedade portuguesa, é de molde a causar um mal-estar que se torna difícil eliminar de um momento para o outro.
Passada a euforia da Expo-98 e da conquista do Euro 2004 para Portugal, a nossa auto-estima sofreu um duro golpe com todo o cortejo de corrupções reveladas em instituições como a GNR, a PSP, as universidades Moderna e Lusófona, a crise da Polícia Judiciária e agora o hediondo crime da pedofilia.
A queda da ponte de Entre-os-Rios tinha posto a nu o desleixo do Estado na vigilância, numa matéria supostamente inquestionável. Afinal, fomos todos surpreendidos com factos que julgávamos arredados do nosso quotidiano.
Dos clubes de futebol às empresas há uma preocupação pela fuga os impostos com uma mentalidade terceiro-mundista.
O saco azul é visto como uma realidade normal. O que importa: alcançar a todo o custo os seus objectivos, contra todas as regras. A lei não manda nada. E o laxismo instalou-se como a doença da lepra difícil de curar.
E até se dá ocaso de haver um empresário da contrução civil que declara não ter pago impostos há vários anos e que passa cheques de milhões de euros a um clube de futebol. Mas a sua situação fiscal não é investigada.
No entanto, aos trabalhadores por conta de outro que descontam para o IRS à cabeça, passa-lhes logo o pente fino da fiscalização.
Que métodos são estes? Em que País estamos ? E o grave é que ninguém quer carregar as culpas da situação.
No campo da justiça, é o que vemos todos os dias. Os mais poderosos e os mais influentes têm sempre quem os proteja de acusações e condenações. Os mais pobres e ao que não conseguem "cunhas", é que vão para à cadeia.
Se, no caso da rede da pedofilia, não houver uma lição exemplar, estamos perante o total descrédito do Estado.
A avaliar pelos métodos do passado, há quem duvide que já se chega a alguma conclusão. Fiquemos por enquanto no benefício da dúvida.
Sobre a educação, continua a recusa em reconhecer aos pais o direito constitucional de escolherem as escolas para os seus filhos em liberdade de opção. Nas universidades, um regulamento perverso da autonomia dá o poder da eleição do Reitor aos estudantes que estão de passagem e aos funcionários contra a vontade dos professores vinculados que conhecem a instituição e lhe dão estabilidade.
A nível nacional, os portugueses esperam ainda como prioridade que as listas de espera na saúde desapareçam e que as contas públicas sejam equilibradas.
A nível do distrito de Castelo Branco, os empresários não fogem à onda do pessimismo embora a representatividade se possa questionar, pois só 17 por cento responderam ao inquérito do NERCAB.(Ver centrais). E os problemas de unidades emblemáticas como a Carveste e a Nova Penteação têm que ser ultrapassados para reactivar e dar confiança não só ao tecido empresarial da Cova da Beira mas também aos seus trabalhadores e a quem aqui vive e se preocupa com o futuro da Região.
Ao pessimismo urge contrapor a auto-estima. Mas tal tarefa impõe que todos assumam as devidas responsabilidades conscientemente nas tarefas que lhes cabem, sejam empresários, trabalhadores, sindicatos, sociedade civil e autarcas.
Há momentos em que se torna necessário pôr de lado divergências legítimas para salvar o essencial.