Se isto é um Homem



Primo Levi


"Para perceber por que meditada razão os Alemães criaram este rito monstruoso, e por que é que, ainda hoje, quando a memória nos devolve algumas daquelas inocentes canções, o sangue pára nas nossas veias, e ficamos conscientes de que ter regressado de Auschwitz não foi uma pequena sorte".


Por Catarina Rodrigues

Este livro é especial por nele estar relatado o que aconteceu na realidade, num dos maiores campos de concentração criado pelo regime Nazi. Primo Levi passou para o papel o ano de atrocidades que viveu em Auschwitz.
O simples facto de ser judeu fez com que a 13 de Dezembro de 1943 fosse capturado. Tinha 24 anos. Foi mandado para Fóssoli e só em Fevereiro do ano seguinte chega a Auschwitz, um nome que na altura não tinha qualquer significado para os que embarcaram no comboio com esse destino.
Aí, passaram-se todas as histórias de que ouvimos falar, desde as absurdas hierarquias internas às regras sem justificação. "Se Isto é um Homem" fala da verdade tal como ela aconteceu. Um testemunho de um homem sobre tantos outros homens e mulheres, crianças e idosos que viveram o maior horror que o século XX produziu, numa Europa tão perto de nós.
Primo Levi não precisou de utilizar a imaginação para escrever este livro, apenas precisou da coragem para reviver os momentos passados naquele campo de concentração. Mas, a necessidade de contar ao mundo essa verdade falou mais alto.

"Os dias são todos iguais, e não é fácil contá-los. Desde há não sei quantos dias que nos deslocamos aos pares, entre o caminho-de-ferro e o armazém: uma centena de metros de solo em degelo. Carregados à ida, de braços caídos à volta, sem falar".

Primo Levi sobreviveu a Auschwitz. Foi libertado pelos soldados russos em Janeiro de 1945. Nesse mesmo ano começou a escrever esta obra que só terminou em 1947. "Se Isto é um Homem" é um livro que deve ser lido, não porque traz informações novas, mas porque lembra uma parte da nossa história que por ser menos boa não deve ser esquecida.

"Viajámos até aqui nos vagões selados; vimos partir em direcção ao nada as nossas mulheres e as nossas crianças; reduzidos a escravos marchamos mil vezes para trás e para diante, numa fadiga muda, já apagados nas almas, antes da morte anónima. Não temos regresso. Ninguém deve sair daqui, pois poderia levar para o mundo, juntamente com a marca gravada na carne, a terrível notícia do que em Auschwitz, o Homem teve coragem de fazer ao Homem".