António Fidalgo

O estudo das imagens


O século XX trouxe-nos o cinema e a televisão e desde então o nosso mundo visual passou a ser outro. Antes eram apenas as palavras que nos traziam as notícias do mundo distante, no espaço e no tempo. Agora temos as imagens do passado, das guerras, dos discursos dos políticos, dos acontecimentos que marcaram a história, e as imagens que nos chegam de longe, de terras e povos distantes, e até imagens do planeta Terra visto da Lua.
Para lá das imagens directas das coisas, acessíveis pela visão, tal como os homens sempre tiveram ao longo dos milénios da sua história, temos agora - e essa é a diferença - as imagens fabricadas, guardadas, mediadas, transmitidas, contadas. A possibilidade e a facilidade que a técnica nos deu de manusear as imagens, de trabalhar com elas, alterou radicalmente a maneira como tomamos conhecimento do que se passa no mundo, do modo como contamos histórias, da forma como aprendemos, ensinamos e nos cultivamos. As imagens mediadas juntam-se, associam-se às palavras mediadas, na escrita ou nas gravações sonoras, e competem muitas vezes com elas.
As palavras foram sempre um objecto privilegiado de estudo nas universidades. As Faculdades de Letras, as filologias, testemunham esse estudo intensivo e aturado. Com a revolução tecnológica na mediação das imagens, impõe-se agora que as universidades, pela sua vocação universalista de chamar a si todos os saberes, institucionalizem ao seu jeito o estudo das imagens, ou seja, lhe dêem a forma de ensino e de investigação.
As jornadas sobre "Novas tecnologias e Filme Documentário", realizadas em 17 e 18 de Janeiro de 2003 na Universidade da Beira Interior, foram mais um passo, importante, na inclusão do estudo das imagens no cânon universitário, tal como é realizado aqui e agora pela nossa universidade.