Vieira de Castro (à direita na foto) ouviu os apelos de José Manuel Biscaia, mas não quis fazer promessas ao autarca de Manteigas
Acessibilidade à auto-estrada é prioridade para Biscaia
Túneis da Serra voltam "à baila"

O secretário de Estado das Obras Públicas, Vieira de Castro, garante que o Governo está atento às acessibilidades ao Interior, na revisão do Plano Rodoviário Nacional. Porém, José Manuel Biscaia reclama um acesso à A23, através de um túnel por Verdelhos. E não esquece os outros que chegaram a ser hipótese para a Serra.


João Alves
NC/Urbi et Orbi


"Durma debaixo dessa manta, esta noite, senhor secretário de Estado, e vai ver que amanhã lembra-se de nós. Os túneis, senhor secretário, precisamos dos túneis". Foi este o apelo que o secretário de Estado das Obras Públicas, Vieira de Castro, ouviu nos últimos momentos da sua visita a Manteigas, no passado sábado. É que quando se preparava para ir embora, o mesmo artesão que lhe tinha oferecido uma manta típica da Serra da Estrela, lembrou-se de cobrar a dádiva e recordar a este membro do Governo as dificuldades que se tem para se chegar ao Interior do País, mais concretamente à Serra e àquele município.
Antes, durante a sessão solene que antecedeu a visita à Feira de Actividades Económicas, foi o autarca local, José Manuel Biscaia, a lembrar Vieira de Castro da necessidade de acessibilidades. "Andámos 10 anos a pedir a Nacional 232. Agora já a cá temos. Mas continuamos a não ter acesso ao IP5 e o estudo dos túneis da Serra, entre Seia e a Covilhã, continuam em aberto. Os estudos disseram que essa obra era muito cara, mas o Estado disse que estavam pendentes os dois túneis como alternativa ao IC6. Esse dossier ficou de ser revisto e por isso, estamos à espera" afirma José Manuel Biscaia. O autarca de Manteigas recorda que o município continua à espera de uma alternativa para a ligação à A23 e que a mesma poderá surgir através de um túnel. "Queremos uma alternativa de acesso à A23. Está em estudo um túnel por Verdelhos, que nos dará acesso a essa estrada. O secretário de Estado disse que era uma pretensão possível. E olhe que as pessoas de Manteigas não desistem" avisa Biscaia. Também outras acessibilidades estiveram na ordem do discurso do autarca, como por exemplo, o IC6. "Precisamos de estar ligados a uma cidade de média dimensão. Sem isso, não há desenvolvimento" explica o autarca, que alerta para a necessidade de se "desencravar" o Maciço Central do isolamento a que tem estado sujeito. Aproveitanto a presença de deputados do distrito da Guarda, como Ana Manso, Biscaia apelou para que os mesmos "defendam o distrito e façam com que ele tenha boas acessibilidades. O Plano Rodoviário Nacional tem que priveligiar esta zona do Interior e da Serra" afirma José Manuel Biscaia.
Recorde-se que a ideia de construir um túnel que rasgasse a Serra surgiu ainda no Governo socialista liderado por António Guterres, mas acabou por nunca ser muito consensual, já que foram muitas as autarquias e juntas a reclamarem vários túneis, em locais diferentes. Porém, na origem estava a construção de um túnel, o maior do País, ligando duas extremidades, entre a Covilhã e Gouveia. Porém, puseram-se logo problemas ecológicos, por se rasgar uma das áreas naturais mais importantes em Portugal. Houve inclusive um pré-projecto aprovado pelo ex-ministro Jorge Coelho, que apontava três alternativas, prevendo-se uma via de 33 quilómetros de estradas e túneis entre o IP2 , a partir do Teixoso, junto à Covilhã, , e o IC7, em Paços da Serra, perto de Gouveia. A esta proposta juntaram-se outras, como o túnel da Alvoaça, em Seia, até à Erada, Covilhã, ou um entre Manteigas e Santa Marinha. Porém, todos os estudos não passaram disso mesmo. Agora, a Câmara de Manteigas vem lembrar o assunto ao Governo.


"É difícil rasgar montanhas"

A Feira de Actividades Económicas mostra o que de melhor se produz no município serrano

Já Vieira de Castro lembra que, "há 13 anos atrás, não conseguia cumprir prazos, pois as estradas não estavam tão boas", aludindo à Nacional 232. O secretário de Estado afirma que o Governo está a trabalhar na fase final da revisão do Plano Rodoviário Nacional e que o mesmo prevê alterações, que não serão de fundo, para melhorar a rede viária. Estradas como o IC6, IC7 e IC37 vão ter uma redefinição de corredores, e prevê-se que o IC7 acabe por absorver o IC37. O secretário de Estado das Obras Públicas reconhece que há zonas do País que não estão tão bem quanto outras, em termos de acessibilidades, mas "nos próximos anos vamos procurar não deixar dúvidas quanto às razões que nos levam a optar por uma estrada em detrimento de outra". Vieira de Castro salienta ser mais fácil construir vias, por exemplo, no Alentejo, onde há mais planícies, do que "na Serra, pois é difícil rasgar montanhas. Mas hoje a engenharia já consegue tudo". Quanto à pretensão de Manteigas em ver construído um túnel que lhe permita uma ligação à A23, Vieira de Castro prefere esperar pela análise ao projecto e diz não querer "fazer promessas. É uma tese a estudar".


Feira mostra o que melhor se faz



Queijo, broa, chouriço, bom vinho tinto, mel, azeite e muitas, muitas outras iguarias. Foi tudo isto que esteve em destaque na Feira de Actividades Económicas que decorreu durante quatro dias, até terça feira, 4, na vila de Manteigas. Um certamente com mais de 70 expositores, a maioria locais, no qual se mostrou o que de melhor se produz naquele concelho.
Depois de provar o queijo e de levar no bolso uma amostra de mel, Vieira de Castro refere que esta mostra é "uma manifestação de cultura importante", com actividades que "podem ter muito peso na economia do nosso País". Por isso, "necessita de estímulo e de ser apoiada".
Já o autarca de Manteigas, José Manuel Biscaia, diz que este certame serve "para revitalizar uma cultura e identidade nacional", sobretudo numa altura em que "essas tradições começam a ser assimiladas pela União Europeia". Para além dos doces, dos enchidos, também vários stands de empresas estiveram representados, bem como de colectividades e empreendimentos turísticos.