Tiago Oliveira Rodrigues*

As Jornadas de avaliação, os Alunos, os Professores e a "Gerência da casa"



Em primeiro lugar, devo referir que, tendo já anteriormente escrito sobre a responsabilidade do aluno, no seu percurso académico, estou à vontade para escrever o que se segue. O problema é o seguinte: se aprendi alguma coisa por minha exclusiva vontade, poderia ter aprendido dez vezes mais se fosse confrontado com outro tipo de atitudes, por parte dos professores. Põe-se, então, a questão: afinal de contas, queremos um ensino suficiente (e estou a ser muito, mesmo muito optimista) ou queremos um ensino de qualidade superior?
No meio disto tudo, o mais agradável é perceber que, para termos um ensino mais eficaz, não precisamos de falar de subfinanciamentos (esteja descansado Sr. Reitor, não é preciso gastar nem um mais cêntimo), em falta de condições físicas e materiais, na insuficiência do corpo docente, etc, se bem que todos estes factores influenciem significativamente a qualidade do ensino. Ora, quando temos vários problemas, podemos começar por atacar o que nos é mais próximo, o que nos diz mais respeito.
Por exemplo, embora nunca tenha feito as contas, tenho a sensação de que encontrar um bom professor na Universidade é tão provável como ganhar a lotaria com uma só cautela. Perdoem-me o pessimismo (sobretudo nesta altura) mas, enquanto a Pedagogia não for encarada como uma ciência, não vale a pena sequer sonharmos com um ensino de qualidade. Ver um professor do ensino superior vangloriar-se, num programa televisivo, pelo facto de, na sua instituição, não serem leccionadas disciplinas pedagógicas, é lamentável (tenho ainda mais pena porque foi dito por um professor de Matemática). Não percebo como é que, pessoas que se dizem tão inteligentes, não entendem que não existe ensino sem pedagogia. Como diz a Luísa Castelo Branco "é muito simples" porque uma coisa implica a outra. Para haver aprendizagem não tem que haver necessariamente ensino (daí que alguns alunos ainda consigam levar daqui alguma coisa), mas ensinar está necessariamente associado a métodos pedagógicos. E isto não é de aceitar ou não aceitar: é um facto. As aulas até podiam ser extintas, mas se continuasse a existir ensino existiriam sempre métodos pedagógicos. Porque a pedagogia não diz respeito às aulas, mas ao comportamento lectivo do professor. Por exemplo, quando um aluno se dirige ao gabinete de um professor, a partir do momento em que este abre a porta, está inevitavelmente a actuar com uma determinada pedagogia. Dar ao aluno uma fotocópia com a resolução do problema é totalmente diferente de discutir com ele as suas dúvidas, fornecendo pistas para a solução do problema. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Adademia das Ciências de Lisboa (Editorial Verbo, 2001), Pedagogia é uma ciência da educação ou, o mesmo que, método de ensino; Pedagógico é o que é relativo ao ensino de pessoas, o que procura educar ou ensinar; Professor é a pessoa que ensina uma disciplina, uma arte, uma técnica ou outros conhecimentos; Ensinar é fazer aprender. A pedagogia determina o comportamento do professor, isto é, as características do seu ensino: se deve investir na resolução de problemas (PBL-para quem gosta de estrangeirismos) ou distribuir umas fichas com exercícios artificiais e sem significado; se deve definir um horário de atendimento estático e limitado ou se, pelo contrário, deve incentivar os alunos a procurá-lo, sempre que necessitem de apoio; se deve basear a avaliação num exame final com um tempo de realização ínfimo e que não promove a aprendizagem ou se deve procurar instrumentos de avaliação, capazes de motivar a aprendizagem significativa e não a mera procura de uma classificação positiva na cadeira; se deve recorrer apenas à transmissão linear e unidireccional dos conhecimentos ou se deve procurar que os alunos desenvolvam autonomia, sentido de responsabilidade, dinâmica de grupo, cooperação, noção de realidade, confiança e auto-estima. No fundo, o objectivo primário deveria ser o cultivo do gosto pela aprendizagem. Não é isso a Universidade? Por isso, antes de pôr um pé dentro da Universidade, é preciso ter consciência daquilo que se vai fazer, é preciso pensar o acto de enorme responsabilidade que um professor irá desempenhar perante os seus alunos. Pensar previamente, questionar, duvidar, apontar estratégias, solucionar. E não custa assim tanto. Não é preciso sacrificar o seu percurso académico e científico de origem, como alguns argumentam. É só ler algumas coisas, reflectir um pouco e tudo muda de figura, tudo passa a ser visto de modo diferente.
Nas Jornadas de Avaliação, não gostei de ver o Sr. Reitor desculpar o insucesso com as actividades festivas, dizendo logo a seguir que os alunos de Medicina estão sujeitos a uma exigência muito maior. Então os alunos de Medicina não vão às festas? E não fazem as cadeiras? Então não faz qualquer sentido essa argumentação logo o problema é outro. Também não percebo como quer que os alunos se dirijam ao tutor se nem sabem que ele existe. Temos aqui um equívoco que tem que ver com o conceito de autonomia do aluno, que não quer dizer "agora desenrasca-te" mas antes pressupõe a existência de uma estrutura de retaguarda altamente organizada. E o Sr. Reitor sabe isso muito bem. Não entendo é o porquê de isto só se aplicar a alguns. Outro equívoco, já tradicional, é a confusão de sucesso escolar ou académico com aprendizagem significativa, isto é, discute-se sempre as pautas e nunca se questiona a qualidade do que se adquire. Já aqui escrevi que é tão preocupante a quantidade de chumbos como a quantidade de alunos que passam sem saber algo realmente significativo (eu incluído). Se pensassemos nisto, as perpsectivas de emprego poderiam ser bem melhores. Para reflexão, deixo a ideia de que, ensinar os bons não custa nada, difícil é fazer dos outros melhores.



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