Cerca de 300 trabalhadores da Nova Penteação
estão a ter formação profissional. A iniciativa integra-se
no programa FACE, uma medida criada pelo Ministério da Segurança Social
e do Trabalho para apoiar empresas com dificuldades. A acção está
dividida em duas partes. A primeira fase de 120 horas irá prolongar-se até
ao dia 28 de Abril e é coordenada pelo Centro de Estudos e Desenvolvimento
Regional (CEDR) da UBI com a colaboração dos Departamentos de Psicologia
e Sociologia.
A Universidade da Beira Interior foi contratualizada pela Delegação
Regional do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) de
Coimbra para coordenar a primeira fase do programa. Quanto à segunda parte,
que inclui uma formação de 490 horas ainda nada está definido.
O primeiro dia de formação teve lugar na passada quarta feira, 26.
Distribuídos por 19 turmas de aproximadamente 15 elementos, os trabalhadores
voltaram a sentar-se nos bancos de escola. As aulas funcionam em vários espaços
da cidade entre os quais a Universidade da Beira Interior. O Cybercentro, o Citeve,
o Grupo de Instrução e Recreio do Rodrigo, as Juntas de Freguesia
da Covilhã, os sindicatos e as Escolas Secundárias Frei Heitor Pinto
e Campos Melo são outros dos locais escolhidos.
Durante seis meses o ritmo de vida destas pessoas será completamente diferente.
Conceição Gomes de 50 anos de idade trabalhava na Nova há cerca
de 35 anos. Lembra com pena o dia em que chegou à empresa e viu que o seu
nome era um dos que constava na lista dos trabalhadores dispensados para a formação.
"Foi um choque", recorda. Os operários não sabem quais os
critérios de selecção utilizados e sublinham que não
foram consultados para nada. "Era a formação ou a rescisão
de contrato, afirma um dos trabalhadores. Apesar de tudo, Conceição
Gomes tem esperança na recuperação da empresa e "gostava
de voltar", até porque daqui por quatro anos estará na idade
da pré- reforma.
Esperança entre a revolta
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Dina Pereira acredita que a maioria dos trabalhadores pode ser reintegrada
no mercado de trabalho
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Dina Pereira, técnica superior de investigação no CEDR,
explica que o objectivo principal da primeira fase coordenada pela UBI é
fazer um plano individual para cada trabalhador. "O que se pretende saber
é quais são as potencialidades que cada pessoa tem para se reintegrar
no mercado de trabalho", refere. Estes planos serão o "esqueleto"
da segunda fase do processo que será "mais específica"
.
A maioria dos operários tem ainda algumas dúvidas e considera que
este processo é apenas uma adiamento do desemprego por seis meses. Por
isso o sentimento que paira entre os trabalhadores é de alguma revolta.
Dina Pereira diz que "é difícil prever o futuro" mas no
primeiro dia passou uma mensagem de esperança.
Nos cerca de 300 trabalhadores encontram-se pessoas de todas as idades. O mais
velho tem 64 anos. Há muita gente na casa dos 40, 50 anos mas há
também alguns jovens. Sérgio Caetano é um desses casos. Com
apenas 21 anos e o 9º ano de escolaridade vê-se também envolvido
na crise que a Nova Penteação atravessa. Não esconde que
um dia sonhou em continuar os estudos, "na área da informática,
talvez". Agora está integrado no programa FACE e com a confiança
de um jovem acredita que "a situação se vai resolver da melhor
maneira".
O aluguer dos vários locais onde decorre a formação é
uma prestação de serviços que a UBI está a fazer ao
IEFP. Também o recrutamento de formadores foi feito pela Universidade,
com recurso à base de dados do Gabinete de Estágios e do Instituto
de Emprego. Ao todo são 25 os formadores envolvidos. A formação
está dividida por seis módulos: balanço de competências
pessoais e profissionais, promoção da auto-estima e auto-eficácia,
promoção de competências inter-pessoais e motivação,
satisfação pessoal, mundo actual e segurança, saúde
e ambiente.
Segundo Dina Pereira "esta não é uma formação
no sentido tradicional do termo". Trata-se mais de um "acompanhamento
psicológico, social e profissional feito aos trabalhadores". Definir
uma trajectória possível é o principal objectivo.
Recuperação
da empresa aprovada
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O Tribunal da Covilhã despachou favoravelmente o pedido da
Nova Penteação para recorrer ao Processo Especial
de Recuperação de Empresas e Falências. Vitor
Simões, economista e administrador judicial da empresa Carveste,
sediada em Caria, é também o nome escolhido para administrador
judicial da Nova.
A reunião da assembleia de credores foi agendada para o dia
2 de Julho, altura em que será analisada a relação
de dívidas. As últimas indicações apontam
para uma dívida que ronda os 30 milhões de euros.
Os trabalhadores agora em formação ainda têm
os salários de Dezembro e Fevereiro em atraso. Com o programa
FACE a emprsesa poupa dois milhões de euros em ordenados.
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