A UBI é um dos locais onde decorrem as aulas de formação
Trabalhadores da Nova em formação
Um regresso inesperado à escola

Até ao dia 28 de Abril decorre a primeira fase do programa FACE aplicado pela primeira vez em Portugal na empresa Nova Penteação. Para muitos trabalhadores a formação profissional é uma esperança, para outros é apenas um adiamento do desemprego.


Por Catarina Rodrigues


Cerca de 300 trabalhadores da Nova Penteação estão a ter formação profissional. A iniciativa integra-se no programa FACE, uma medida criada pelo Ministério da Segurança Social e do Trabalho para apoiar empresas com dificuldades. A acção está dividida em duas partes. A primeira fase de 120 horas irá prolongar-se até ao dia 28 de Abril e é coordenada pelo Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional (CEDR) da UBI com a colaboração dos Departamentos de Psicologia e Sociologia.
A Universidade da Beira Interior foi contratualizada pela Delegação Regional do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Coimbra para coordenar a primeira fase do programa. Quanto à segunda parte, que inclui uma formação de 490 horas ainda nada está definido.
O primeiro dia de formação teve lugar na passada quarta feira, 26. Distribuídos por 19 turmas de aproximadamente 15 elementos, os trabalhadores voltaram a sentar-se nos bancos de escola. As aulas funcionam em vários espaços da cidade entre os quais a Universidade da Beira Interior. O Cybercentro, o Citeve, o Grupo de Instrução e Recreio do Rodrigo, as Juntas de Freguesia da Covilhã, os sindicatos e as Escolas Secundárias Frei Heitor Pinto e Campos Melo são outros dos locais escolhidos.
Durante seis meses o ritmo de vida destas pessoas será completamente diferente. Conceição Gomes de 50 anos de idade trabalhava na Nova há cerca de 35 anos. Lembra com pena o dia em que chegou à empresa e viu que o seu nome era um dos que constava na lista dos trabalhadores dispensados para a formação. "Foi um choque", recorda. Os operários não sabem quais os critérios de selecção utilizados e sublinham que não foram consultados para nada. "Era a formação ou a rescisão de contrato, afirma um dos trabalhadores. Apesar de tudo, Conceição Gomes tem esperança na recuperação da empresa e "gostava de voltar", até porque daqui por quatro anos estará na idade da pré- reforma.

Esperança entre a revolta


Dina Pereira acredita que a maioria dos trabalhadores pode ser reintegrada no mercado de trabalho

Dina Pereira, técnica superior de investigação no CEDR, explica que o objectivo principal da primeira fase coordenada pela UBI é fazer um plano individual para cada trabalhador. "O que se pretende saber é quais são as potencialidades que cada pessoa tem para se reintegrar no mercado de trabalho", refere. Estes planos serão o "esqueleto" da segunda fase do processo que será "mais específica" .
A maioria dos operários tem ainda algumas dúvidas e considera que este processo é apenas uma adiamento do desemprego por seis meses. Por isso o sentimento que paira entre os trabalhadores é de alguma revolta. Dina Pereira diz que "é difícil prever o futuro" mas no primeiro dia passou uma mensagem de esperança.
Nos cerca de 300 trabalhadores encontram-se pessoas de todas as idades. O mais velho tem 64 anos. Há muita gente na casa dos 40, 50 anos mas há também alguns jovens. Sérgio Caetano é um desses casos. Com apenas 21 anos e o 9º ano de escolaridade vê-se também envolvido na crise que a Nova Penteação atravessa. Não esconde que um dia sonhou em continuar os estudos, "na área da informática, talvez". Agora está integrado no programa FACE e com a confiança de um jovem acredita que "a situação se vai resolver da melhor maneira".
O aluguer dos vários locais onde decorre a formação é uma prestação de serviços que a UBI está a fazer ao IEFP. Também o recrutamento de formadores foi feito pela Universidade, com recurso à base de dados do Gabinete de Estágios e do Instituto de Emprego. Ao todo são 25 os formadores envolvidos. A formação está dividida por seis módulos: balanço de competências pessoais e profissionais, promoção da auto-estima e auto-eficácia, promoção de competências inter-pessoais e motivação, satisfação pessoal, mundo actual e segurança, saúde e ambiente.
Segundo Dina Pereira "esta não é uma formação no sentido tradicional do termo". Trata-se mais de um "acompanhamento psicológico, social e profissional feito aos trabalhadores". Definir uma trajectória possível é o principal objectivo.


Recuperação da empresa aprovada



O Tribunal da Covilhã despachou favoravelmente o pedido da Nova Penteação para recorrer ao Processo Especial de Recuperação de Empresas e Falências. Vitor Simões, economista e administrador judicial da empresa Carveste, sediada em Caria, é também o nome escolhido para administrador judicial da Nova.
A reunião da assembleia de credores foi agendada para o dia 2 de Julho, altura em que será analisada a relação de dívidas. As últimas indicações apontam para uma dívida que ronda os 30 milhões de euros.
Os trabalhadores agora em formação ainda têm os salários de Dezembro e Fevereiro em atraso. Com o programa FACE a emprsesa poupa dois milhões de euros em ordenados.