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                       O que deve constituir-se na Beira Interior? Uma comunidade urbana, que agregue 
                        vários concelhos dos distritos da Guarda e Castelo Branco, ou nesta vastidão 
                        de território, várias comunidades intermunicipais. É esta, 
                        em suma, a discussão que tem agitado a política na Beira Interior, 
                        havendo quem defenda a primeira opção, como por exemplo Carlos Pinto, 
                        autarca da Covilhã, e quem prefira a segunda, como o autarca fundanense, 
                        Manuel Frexes. Neste contexto, de discussão das propostas de Lei nº24/IX 
                        e 37/IX, que foram aprovadas na Assembleia da República na passada semana, 
                        o mentor do projecto, o secretário de Estado da Administração 
                        Local, Miguel Relvas, esteve em Belmonte, onde reuniu com os vários autarcas 
                        da região, onde deixou várias ideias e avisos.  
                        Numa reunião promovida pela Associação de Municípios 
                        da Cova da Beira (AMCB), e em que estiveram os autarcas da Covilhã, Castelo 
                        Branco, Guarda, Fundão, Oleiros, Proença-a-Nova, Belmonte, Idanha-a-Nova, 
                        Trancoso, Meda, Aguiar da Beira, Pinhel, Almeida, Celorico da Beira, Manteigas 
                        e Sabugal (ausências de Gouveia, Seia e Figueira de Castelo Rodrigo), Miguel 
                        Relvas estabeleceu quais as principais diferenças entre os dois modelos 
                        preconizados pelo Governo (urbana ou intermunicipal). Segundo o secretário 
                        de Estado, a primeira é, basicamente, uma área metropolitana, pois 
                        exige que nela estejam, pelo menos, três municípios, e que abranja 
                        250 mil habitantes. Ou seja, destinado a cidades de média dimensão, 
                        com cerca de 50 mil habitantes. Já as intermunicipais, diz Relvas, procuram 
                        ser uma resposta para uma parte significativa do território nacional, situada 
                        no Interior, para municípios com grande extensão e maiores dificuldades 
                        em termos de existência de população. O secretário 
                        de Estado, aliás, salienta que a dispersão populacional no Interior 
                        tem sido um dos principais obstáculos ao investimento, pelo que "quisemos 
                        encontrar uma solução". 
                        Tendo em conta as preferências manifestadas por alguns autarcas da região, 
                        Miguel Relvas salienta que as comunidades urbanas são como as àreas 
                        metropolitanas, e essas, só há duas, em Porto e Lisboa. Por isso, 
                        "as comunidades intermunicipais são a resposta para estes municípios. 
                        Mas é claro que os concelhos irão escolher o que é melhor 
                        para si e o Governo não quer impôr-se". Ou seja, o membro do 
                        Governo está em maior consonância com a ideia defendida por Frexes, 
                        uma comunidade intermunicipal entre municípios como a Covilhã, Fundão 
                        e Belmonte, do que com a urbana pensada por Carlos Pinto. Miguel Relvas diz que 
                        as medidas implementadas pelo excutivo liderado por Durão Barroso têm 
                        por objectivo o reforço do poder local, determinante para o desenvolvimento 
                        do País, sendo que os municípios ganham competências para 
                        enfrentar muitos dos desafios que se lhes colocam. Relvas considera que o debate 
                        de ideias, não só na região, como no País, é 
                        salutar, mas frisa que muita da discussão tem sido mais "de moda" 
                        do que de discussão de argumentos.  
                      "Um recado para todos"  
                      Miguel Relvas desafia alguém "a dizer que as intermunicipais não 
                        tem os instrumentos em matéria de acreditação de competências 
                        que as áreas metropolitanas" e que o problema apenas está na 
                        dimensão dos municípios. "Os problemas das grandes cidades 
                        não são os mesmos dos das pequenas" explica o secretário 
                        de Estado. Apelando à união entre todos os responsáveis dos 
                        concelhos, Relvas deixa um sério aviso: "Quem não for capaz 
                        de ultrapassar divergências vai pagar muito caro". É que, segundo 
                        o responsável governativo, se uma comunidade urbana ou intermunicipal acelarar 
                        o processo e dinâmica, ganhará benefícios "em relação 
                        às outras que não capazes de o fazer. O que se fala aqui é 
                        de um horizonte que já não é o do próprio concelho" 
                        salienta. E adianta que este "é o caminho certo para que o Interior 
                        de Portugal consiga esbater assimetrias em relação ao Litoral. Se 
                        um presidente de Câmara entender ficar sozinho, assumirá as suas 
                        responsabilidades". 
                        Relvas afirma que nesta matéria as intromissões "não 
                        são boas" e que não se deve, neste processo, "acentuar 
                        rivalidades". Por isso, "não é mais forte quem se põe 
                        em bicos de pés. É um recado para todos".  
                        Entretanto, a Associação de Municípios da Cova da Beira, 
                        bem como a da Raia/Pinhal, liderada pelo autarca albicastrense, Joaquim Morão, 
                        vão encomendar um estudo para concluir quais as competências e contratualizações 
                        que devem ser feitas pelos municípios desta região.  
                      
                       
                         *Com Carla Loureiro
  
                       
                      Novo encontro marcado para 7 de Abril na Guarda 
                       
                      Na passada segunda-feira, 17 municípios e duas associações 
                      reúniram de novo, na Covilhã, com o objectivo de continuar a discussão 
                      em torno das comunidades. E do encontro saiu uma data para uma nova reunião, 
                      desta vez na Guarda, no dia 7 de Abril, que segundo alguns autarcas poderá 
                      ter um carácter mais conclusivo. 
                      Segundo Carlos Pinto, o anfitrião do encontro, conseguiu-se formar, desta 
                      vez, uma opinião mais sustentada em relação à criação 
                      de uma comunidade urbana ou várias intermunicipais. Pinto, no entanto, volta 
                      a defender uma Comunidade Urbana das Beiras pois este novo modelo de descentralização 
                      deverá ter em atenção a criação de uma comunidade 
                      "com peso político e negociável na Europa e junto do Governo". 
                      O autarca mostra-se contra várias comunidades intermunicipais, pois "não 
                      queremos uma nova Associação de Municípios".  
                      Carlos Pinto considera que o encontro foi positivo e que ainda existe tempo de manobra 
                      para os concelhos decidirem, já que a Lei ainda não foi promulgada 
                      pelo Presidente da República, Jorge Sampaio. Comparando este novo modelo 
                      com que foi aplicado em Espanha, Pinto volta a reafirmar que só é 
                      possível uma nova comunidade "que congregue os dois distritos". 
                      E salienta que se o Governo só considerasse a constituição 
                      de duas comunidades urbanas, no Porto e Lisboa, não tinha criado esta nova 
                      figura jurídica.  
                      Já o autarca fundanense, Manuel Frexes, considera que a reunião foi 
                      proveitosa e acredita que a dicotomia entre urbana e intermunicipal pode ser ultrapassada 
                      criando-se apenas uma "comunidade". Frexes acredita que "ninguém 
                      vai ficar de fora" e está aberto a discutir um novo modelo que não 
                      o intermunicipal. Para o autarca fundanense, a reunião do dia 7 de Abril 
                      terá que ser conclusiva, pois "a Beira Interior não pode estar 
                      à espera".  
                      Para Maria do Carmo Borges, autarca da Guarda, estão a ser estudadas todas 
                      as fórmulas, embora refira que a nova comunidade a criar deverá sempre 
                      englobar as autarquias que circundam a Serra da Estrela. Ou seja, a Serra será 
                      o factor de união. Quanto à inclusão de Castelo Branco, terá 
                      que "ser analisado". Maria do Carmo refuta ainda que com este novo modelo 
                      a unidade do distrito da Guarda esteja em jogo.  
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