| VIOLInoACORDEÃO, o espectáculo de 
                      João Pedro Cunha e Gonçalo Pescada, ecoou no Museu dos Lanifícios, 
                      no passado dia 10, quinta feira. O sexto dia do Ethnicu - Festival Internacional 
                      de Música Étnica - ficou marcado por "uma forma diferente de 
                      mostrar este tipo de música", diz Pedro Fonseca, membro da organização 
                      do festival. "Ouviram-se músicas tradicionais tocadas com uma visão 
                      distinta da que, por norma, se tem", acrescenta Pedro Fonseca. Os músicos consideraram a escolha do local do concerto "fantástica", 
                      já que proporcionou "uma acústica muito mais rica, com um colorido 
                      diferente".
 A "noite de viagem", proposta por João Pedro Cunha e Gonçalo 
                      Pescada, transportou o público até países como a Alemanha, 
                      a Argentina, a Rússia e os Estados Unidos da América.
 Piazzolla, Rachmaninov e Gershwin foram os compositores escolhidos para apresentar 
                      na conjugação pouco habitual de violino e acordeão. "Seleccionou-se 
                      uma gama variada de autores e estilos para se mostrar que em todos os quadrantes 
                      musicais há boa música", elucida João Pedro Cunha, o violinista. 
                      O acordeonista, Gonçalo Pescada, acrescenta que "se pretendeu ir além 
                      das possibilidades de cada instrumento, à descoberta de novos repertórios 
                      que valorizassem mais as músicas".
 Portugal também foi um ponto de passagem da "viagem", com a música 
                      "Adeus", de Adriano St.Aubyn. Este tema, segundo João Pedro Cunha, 
                      "é marcado por uma certa nostalgia misturada com um sentimento de raiva, 
                      mas que acaba de forma serena". A composição tem a particularidade 
                      de ter sido escrita em dedicatória aos dois músicos.
 A cumplicidade entre os músicos foi evidente durante todo o concerto. João 
                      Pedro Cunha confessa que "é raro sentir com outro músico a afinidade 
                      que tenho com o Gonçalo, estendendo-se esta a pontos comuns na forma de sentir 
                      e ver a vida".
 Ambiente quase familiar Uns meros dois metros separaram o público dos músicos. O violinista 
                        revela que "há uma energia positiva que parte do público quando 
                        este está próximo e só quem está em palco é 
                        que a sente e compreende".Um dos momentos altos da noite foi o solo de Gonçalo Pescada, em que a 
                        música jazz para acordeão "Passos", de Vlassof, arrebatou 
                        longos aplausos do público. João Pedro Cunha introduziu o solo do 
                        colega afirmando que se tratava "de um exemplo de todas as potencialidades" 
                        daquele instrumento.
 O concerto terminou de forma peculiar. Os dois músicos executaram a última 
                        peça no interior dos antigos tanques de tingimento de tecidos da Real Fábrica 
                        dos Panos. Escolheram "Czardas", de Vittorio Monti, uma composição 
                        de "carácter cigano", para a "viagem", tal como o povo 
                        cigano, "não parar em algum sítio em particular".
 Os insistentes aplausos do público conduziram a um encore. A pedido dos 
                        músicos, a audiência colaborou na construção de um 
                        ritmo diferente da melodia "Garota de Ipanema", de Caetano Veloso. O 
                        resultado final culminou numa interacção cúmplice entre todos 
                        os presentes no evento.
 Luzia Silva assistiu ao concerto e considerou-o "notável". De 
                        lamentar, apontou apenas o facto de "não existirem mais iniciativas 
                        deste género na Covilhã".
 Pedro Fonseca constata que "à partida, não há uma ligação 
                        directa entre este espectáculo e a especificidade do festival, mas lembra 
                        a discussão de "a música erudita ser ou não considerada 
                        música étnica"
 A presença dos dois músicos no festival foi possível, segundo 
                        o organizador, "graças à sua boa vontade e ao interesse de 
                        quererem vir mostrar o seu trabalho original".
 O objectivo da organização do Ethnicu é criar "um bom 
                        ambiente" entre os grupos que actuam e as pessoas que assistem aos eventos, 
                        apostando na diversidade das propostas do festival.
 
 
 
                         
                          |   Os músicos 
                               
                                |  |  
                                    
 João Pedro Cunha, natural do Porto, fez os seus estudos de 
                                      violino e formação musical entre 1983 e 1990 no Conservatório 
                                      de Música do Porto. Em seguida, entre 1990 e 1995, esteve 
                                      em Manchester, na Inglaterra, onde se graduou com distinção 
                                      no Royal Northern College of Music.
 Actuou a solo com a Orquestra Clássica do Porto, com a Orquestra 
                                      do Norte e ainda com vários pianistas como Raquel Correia, 
                                      João Almeida, Jonnathan Tapp, Roderick Barrand, entre outros. 
                                      A crítica musical aponta-o como um dos concertistas de topo 
                                      da nova geração no panorama musical nacional.
 Gonçalo Pescada, natural de Faro, iniciou os seus estudos 
                                      de acordeão com 7 anos e obteve o seu diploma no Instituto 
                                      Vitorino Matono de Lisboa. Leccionou, entre 1997 e 2000, no Conservatório 
                                      Regional do Algarve e, actualmente, é professor no Conservatório 
                                      regional de Albufeira.
 O seu recente álbum editado "Intuições", 
                                      mostra a sua técnica prodigiosa e revela-o como um dos melhores 
                                      instrumentistas de acordeão do nosso País.
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