| A primeira sessão do Ciclo de Cinema "Jornalismo e Poder" realizou-se 
                        no passado dia 6, pelas 17 horas, no Anfiteatro I da UBI. O filme exibido foi 
                        "O Homem que matou Liberty Valance", do realizador de Westerns John 
                        Ford, e teve como moderador João Correia.O filme começa com a visita do senador Ranson Stoddard (James Stuart) a 
                        uma pequena cidade do Oeste. Todos ficam intrigados com a sua presença 
                        e pensam que esta é uma visita com fins políticos. O jornal local 
                        "Shinbone Star" manda um repórter para saber mais pormenores 
                        e descobre o verdadeiro motivo da visita: O funeral de um herói desconhecido 
                        de seu nome Tom Doniphon (John Wayne).
 A partir daí o filme é contado em analepse. O senador recorda os 
                        momentos que passou naquela cidade enquanto jovem advogado, altura em que os habitantes 
                        se regiam não por ideais de Direito e de Justiça, mas sim pelo ideal 
                        do herói de revólver em punho. O seu papel assume cada vez mais 
                        importância naquela cidade, visto que ele mostra às pessoas uma nova 
                        forma de estar e de viver, baseada em novos ideais. No entanto, vai precisar da 
                        ajuda de Doniphon, o herói pistoleiro, para derrotar Liberty Valance (Lee 
                        Marvin), um assassino violento. Doniphon acaba por matá-lo, mas, todos 
                        pensam que Stoddard foi o autor do disparo. A dada altura, Doniphon, sai de cena. 
                        Esta saída não ocorre por acaso, mas para mostrar que o herói 
                        individualista é substituído por um novo tipo de herói, aquele 
                        que acredita nos tribunais e na negociação.
 Este filme foi realizado em 1962, no entanto é a preto e branco. Segundo 
                        João Correia, este acto foi intencional e serve "para reforçar 
                        a ideia de nostalgia".
 Durante o debate, foi mencionada a substituição do herói 
                        do velho Oeste, que resolvia os conflitos à "lei da bala", por 
                        um outro tipo de herói que se baseia na razão, que resolve os problemas 
                        através da palavra e é portador de ideias novas. Em suma, é 
                        a substituição dos heróis por personagens de uma sociedade 
                        moderna sem duelos, sem armas e sem violência. São eles os políticos, 
                        os advogados e os jornalistas. Uma análise mais aprofundada ao filme, permite 
                        verificar que o novo poder instalado foi fundado na mentira, visto que o vilão 
                        foi morto por Doniphon e não por Stoddard e este último acabou por 
                        ficar com todo o mérito para si. João Correia alerta para o facto 
                        do novo herói precisar de uma mentira para se legitimar. Uma das frases 
                        finais do filme explica este facto da seguinte forma: "No Oeste, quando o 
                        facto contradiz a lenda, publica-se a lenda". Isto acontece para manter os 
                        mitos e lendas do velho Oeste.
 Outra das questões abordadas foi a importância do jornalismo nos 
                        Estados Unidos da América. O jornalismo já existia antes, na altura 
                        do herói pistoleiro, e, mantém-se com a chegada de um novo tipo 
                        de herói que necessita das instituições civilizadoras como 
                        a política, o tribunal, a imprensa e a opinião pública. O 
                        jornalista sobrevive a estes dois tempos diferentes porque ele é necessário 
                        para mediar as relações entre as pessoas.
 "O Homem que matou Liberty Valance" foi o último Western realizado 
                        por John Ford. O realizador construiu uma epopeia em torno destes heróis 
                        viris, valentes e anacrónicos, e, mostra claramente que gosta mais dos 
                        antigos heróis do que do novos.
 Hoje, terça feira, 13,o filme exibido é "A Corrupção 
                        do Poder", realizado por Robert Rossen e moderado por Luís Nogueira. 
                        Quem quiser assistir basta dirigir-se ao Anfiteatro I da UBI, por volta das 17 
                        horas.
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