Por José Carlos Venâncio


Os tons vermelhos de África são uma constante nos trabalhos de Manuel Figueira

Estão expostos na Livraria D'Ávila, no edifício da Biblioteca Central da UBI, cinco quadros do pintor cabo-verdiano Manuel Figueira. A exposição acontece na sequência de um projecto sobre a moderna pintura cabo-verdiana, levado a efeito pelo Centro de Estudos Sociais da UBI, em colaboração com o Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto. O projecto tem por objectivo analisar a obra dos três pintores mais significativos da ilha de S. Vicente. Assim, para além da obra de Manuel Figueira, sobre a qual se prepara um livro, analisar-se-á ainda a obra de Luísa Queirós e Bela Duarte.
A particularidade de S. Vicente enquanto pólo cultural do grupo de ilhas do barlavento cabo-verdiano, com uma vivência cultural e política muito própria, de certo modo identificável com um regionalismo, é um dos referentes analíticos do projecto. Juntam-se-lhe outros, tais como a especificidade cultural do arquipélago, um caso bem sucedido de mestiçagem cultural construída a partir de empréstimos bio-culturais da Europa mediterrânica e da África Ocidental. Partilha, nessa condição, uma situação comparável a outras ilhas atlânticas, como sejam São Tomé e Príncipe, e ao universo caribenho. Ganha assim sentido a comparação, prevista no projecto, da experiência estética cabo-verdiana com a das sociedades caribenhas.
De referir que a comparação, em termos antropológicos e literários, de Cabo Verde com as ilhas de S.Tomé e Príncipe, diferentemente do que se passa em relação às Antilhas, tem sido, de certa maneira, recorrente nos estudos sobre os contactos culturais proporcionados pela expansão portuguesa nos trópicos. Basta lembrar nomes como o de Mário António e Francisco Tenreiro.
Manuel Figueira é natural da ilha de S.Vicente. Possui o Curso Complementar de Pintura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. É hoje um dos mais conceituados pintores cabo-verdianos, com várias exposições e participações em Cabo Verde, Portugal, Estados Unidos, França e Brasil.
Os quadros expostos reportam-se à última fase do pintor. Predominam em alguns os amarelos e os vermelhos fortes de África; noutros predomina o azul em várias tonalidades. Em ambas as tendências estão espelhadas preocupações e mundividências inerentes à insularidade cabo-verdiana.