Jorge Jacinto*

Vou decidir o mais mal que sei!
(deverá ser lido com humor!)


Fiquei preocupado esta semana com as noticias que indicam que não será inovada toda a linha da Beira Baixa, como inicialmente previsto.
Ao que parece, pois até é difícil de acreditar, que os cinquenta milhões de contos (falemos em escudos) que estavam previstos ser gastos em toda a modernização da linha Beira Baixa, Lisboa - Guarda irão terminar na Estação de Comboios de Castelo Branco.
Façamos então contas, e debrucemo-nos sobre o assunto:
- Foi gasto uma "dinheirama" para não resolver um problema global mas sim parcial. Toda esta inovação, irá permitir apenas chegar 15 minutos mais cedo à Capital ou vice-versa a Castelo Branco. E é esta, a grande inovação do investimento!
Na minha opinião, deveria ter sido feito e discutido amplamente com a sociedade civil um plano global de modernização da linha, não só no plano físico, mas a outros níveis, onde deveriam ser contemplados 4 vectores base: Modernização física de toda a linha da Beira Baixa, Lisboa-Guarda; Ligação à Linha do Norte; Rentabilização turística da linha que possui paisagens magnificas e uma gastronomia associada única e fabulosa; Formação Académica a vários níveis;
Na actualidade, cerca de 80% dos alunos da Universidade da Beira Interior na Covilhã e do Instituto Politécnico da Guarda são deslocados, o que fazendo contas dá cerca de 8 mil alunos deslocados, onde se consideramos uma percentagem mínima de 40% utilizam a linha da Beira Baixa, ou seja cerca de 3500 alunos viajam para a Beira Baixa de automóvel ou de transportes públicos. Estudos mostram que estes estudantes que não possuem transporte próprio, preferem utilizar o comboio por ser mais rápido e confortável. Mas o erros começaram cedo, há 4 anos atrás, foi decidido acabar com o Comboio Académico, serviço este rentável, conforme comprovaram os responsáveis na altura.
Assim, ao analisar a alta taxa de utilização não só pelos estudantes universitários da Covilhã e Guarda, mas por toda uma população a residir e a deslocar-se nestes importantes centros urbanos, penso que será um erro estratégico não renovar toda a linha.
Mas, tentei desculpar a decisão e imaginei a forma em que são tomadas estas decisões. Imaginem comigo: "uma sala de reuniões ampla para 10, 12 Directores Gerais que se sentam em cadeiras forradas a couro, luz indirecta a sair de um tecto todo trabalhado a carvalho, persianas a condizer com o chão em granito escuro, onde o stress das decisões é visível a olho nú. Para diminuir este clima pesado no inicio da reunião, é servido café ou sumo de laranja natural, depende dos gostos, onde quase ….. quase a trincar um pastel de nata pouco cremoso do dia anterior, por descuido da secretária, o Director Geral Chefe irritado com o facto, onde pesa o acumulado stress diz alto e em bom som:
- Meus senhores vamos tentar decidir o mais mal que sabemos para gastar muito dinheiro em pouca obra!
Senão, e esta parece-me ser a única "desculpa" possível para não se perder a oportunidade, para que daqui a dois anos, estes "génios" possam voltar a reunirem-se para decidir que tomaram uma opção errada e chegarem à conclusão que tem de ser gasto o dobro para remendar o "pastel de nata pouco cremoso".
A favor da coerência, mudem a frase que estes costumam utilizar nas tomadas de posse: "Juro cumprir com lealdade todas as tarefas que me forem confiadas", para "Vou esforçar-me para decidir o mais mal que sei!", e até já estou a imaginar a próxima reunião: "meus amigos somos "forçados" a desligar a electricidade na Beira Baixa pois temos que escoar o azeite beirão!"


*Ex-Presidente da Associação Académica da Universidade da Beira Interior