José Geraldes

Prevenção, já

Quando os populares criticavam os bombeiros por não chegarem a tempo aos lugares dos fogos, esqueciam-se de que nunca haviam procedido à limpeza dos seus pinhais.

No espaço de 15 dias, os incêndios transformaram a Beira Baixa num verdadeiro inferno. Milhares de pinheiros bravos desapareceram, num ápice, na Sertã, Mação e Vila de Rei. A serra do Açor num raio de dezenas de quilómetros foi completamente calcinada.Com uma morte já a lamentar.
A origem criminosa destes incêndios não se confina a meras probabilidades. Todos os indícios levam a uma certeza. E o crime a alguém aproveita, disso também não há dúvidas. Seja a quem os ordena, seja a quem os executa.
Claro que há causas que explicam o rápido alastramento das chamas e as dificuldades em as controlar. As altas temperaturas, os maus acessos e a falta de limpeza dos pinhais contribuem para a demora da sua extinção. Mas paradoxalmente todos os anos estas causas são invocadas.
Se as altas temperaturas são sempre imprevisíveis e não podem naturalmente ser dominadas, já os caminhos da floresta e a limpeza das matas dependem exclusivamente da vontade humana. Ora que é que se tem feito para obrigar os proprietários dos pinhais a abrir caminhos e a limpá-los, em tempo útil ?
Até agora, a prevenção não tem passado de pios conselhos. E todos conhecemos a passividade das pessoas em actuar. Aqui bem se pode lembrar o adágio que diz que só quando vem a trovoada se pede a protecção de Santa Bárbara. Mesmo a limpeza da floresta pertencente ao Estado deixa muito a desejar.
Ora a principal dificuldade em dominar o incêndio da serra do Açor, desde a vila de Silvares às aldeias de Almaceda, da Partida e ao concelho de Oleiros teve a ver com uma autêntica floresta virgem com pinhal e vegetação espessa onde os bombeiros não podiam penetrar. E quase com uma visibilidade nula.
Quando os populares criticavam os bombeiros por não chegarem a tempo aos lugares dos fogos, esqueciam-se de que nunca haviam procedido à limpeza dos seus pinhais.
O ministro da Administração Interna admitiu a hipótese de o "Estado exercer o poder de defesa e segurança do património nacional", caso os proprietários não procedam voluntariamente à limpeza dos pinhais.
Mas, se não houver imposições drásticas, é duvidoso que os proprietários procedam a essa limpeza. Uma, por exemplo, poderia ser dificultar o acesso ao apoio da rearborização a quem não abrisse caminhos e não limpasse os seus pinhais.
Todos sabemos que faz parte da cultura nacional um certo desleixo e o deixar tudo para a última hora. Estes acontecimentos devem ser um pretexto para mudar as mentalidades.
Caso contrário, no próximo ano, estaremos a defrontar-nos com os mesmos problemas. Elabore-se, pois, um plano de prevenção. Mas para não ficar no papel e ser cumprido com rigor.