António Fidalgo

Quinquilharia e Bugigangas


Abriram recentemente na Covilhã várias lojas de produtos baratos, tipo loja dos trezentos, com produtos que vão desde pratos, copos, jogos de cartas, velas de feitios e cheiros variados, até chinelos, aventais, bonecos de peluche, etc. Os produtos vêm da China e chegam ao preço da chuva. A proliferação de tanta loja, com manifesta falta de público para tanta oferta, obedece àquelas estranhas ondas da moda que, há uns dez anos, fizeram nascer em cada esquina uma croissanteria. Então havia croissants a dar com pau, simples, de chocolate, recheados com isto e aquilo. Foi uma moda que veio e que foi. Mas agora temos a moda das lojas de quinquilharia. Vai passar como todas as modas, e muitas das lojas que agora surgem como cogumelos fecharão, deixando alguns atrevidos de bolsos mais vazios. Mas enquanto fecham e não fecham, vale a pena reflectir sobre o fenómeno da quinquilharia e da paixão das pessoas pelo tipo de produtos que são comprados num repente, e esquecidos no dia ou na semana seguinte, desarrumados a um qualquer canto da casa.
Compra-se cada vez mais, não por necessidade, mas por desenfado. É a atracção pelo que reluz e seduz que leva à compra e não uma verdadeira precisão das coisas. De facto, estas bugigangas até parecem úteis, uma armação em verga para reclinar a garrafa de vinho, umas caixas para arrumar ferramentas, parafusos e porcas, uns chinelos engraçados, uns pratinhos muito jeitosos para pôr aperitivos, umas serpentinas para colocar as torradas, um potezinho para pôr o mel. Só que depois nada disso é utilizado para além da primeira vez que é posto a uso. O atractivo era a piada que tinha e isso consome-se como um fósforo. Um mês depois, perguntamo-nos onde se tinha a cabeça quando se comprou aquilo a que agora não se acha graça alguma.
As lojas de quinquilharia que despontam traduzem o reino de bugigangas em que se vive. Perde-se o tempo, e gasta-se o dinheiro, com coisinhas, mesmo merdolices, porque não existe o fôlego de aguentar, de esperar, de trabalhar durante o presente com os olhos num futuro que pode demorar a chegar. No reino do efémero tudo tem de ser agora e já.
Só uma espiritualidade poderia pôr um travão a tanta leveza e ligeireza, mas espiritualidade é o que parece escassear mais e mais.