|  FundãoViagem ao passado pelos caminhos dos pastores
 
 As rotas da transumância são hoje 
                        uma herança cultural do concelho do Fundão. Uma caminhada com um 
                        rebanho entre Fundão, Alcongosta e Alpedrinha no domingo, 21, fez recordar 
                        uma viagem ao passado e reviver a época em que os rebanhos procuravam pastos 
                        frescos.
 
 
 
                         
                          |   | Andreia ReisNC / Urbi et Orbi
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                          |  |   Uma manhã amena e a brisa do amanhecer foi algo a juntar ao cenário 
                        ideal para que cerca de 50 pessoas, entre eles os Caminheiros da Gardunha, estivessem 
                        prontas para dar a tão esperada caminhada. Trata-se do 2º Festival 
                        dos Caminhos da Transumância do Fundão. Uma aventura que partiu do 
                        Fundão às 8 horas e 30 nodomingo, 21, e que durou mais de duas horas 
                        até chegar a Alpedrinha. Reviver o passado foi a verdadeira intenção. 
                        Por outras palavras, uma caminhada que remontou à época em que dezenas 
                        de pastores, com os seus rebanhos, percorriam o concelho em direcção 
                        à Serra da Gardunha em busca de pastos frescos.
 Um pastor em cima da Boneca, a égua, um acompanhado por um cão Serra 
                        da Estrela e os outros dois com um cajado na mão a comandar o rebanho de 
                        60 ovelhas, foram os grandes protagonistas desta pequena grande "odisseia". 
                        E tudo revestido ao mínimo pormenor. Os pastores, vestidos a rigor, davam 
                        a conhecer aos que se encontravam naquela aventura, como é que se fazia 
                        antigamente. Desde os chocalhos, às estórias e até aos assobios 
                        e pífaros por eles feitos, todos se encantaram com todo aquele panorama 
                        já pouco visto nos dias que correm.
 Gil da Cruz foi, em tempos, pastor. "Há cerca de 10 anos que deixei 
                        esta vida, mas continuo a ordenhar as ovelhas e sempre que posso ajudo os meus 
                        primos. Também conheço a Gardunha como a palma da minha mão", 
                        assegura orgulhoso. Agora presta as suas funções como telefonista 
                        na Escola Profissional do Fundão. Mas nem por isso perdeu a prática 
                        de lidar com os rebanhos. "Estou a reviver o passado", exclama. "Até 
                        parece que estou na minha terra, no Sabugueiro, quando fazíamos a transumância 
                        de Verão, quando o gado sobia das terras para cultivar a Serra, para deixarem 
                        as terras libertas para cultivo, e a de Inverno, que era quando o gado descia 
                        da serra para ir para as terras, para fugir da neve e do gelo", relembra 
                        emocionado.
 Com uma linguagem própria, "chamava" as ovelhas para junto dele, 
                        caso estas se afastassem um pouco. Algo que arrancava sorrisos de crianças 
                        presentes.
 Depois de atravessar um caminho romano, Alcongosta foi o ponto de paragem para 
                        pequenos e graúdos descansarem e retomarem forças com sandes e garrafas 
                        de água. Altura, então, para retomar viagem, rumo ao Palácio 
                        do Picadeiro em Alperinha.
 "Uma questão qualificável"
 Aquando da chegada do rebanho em Alpedrinha estava, entre outros, Paulo Fernandes, 
                        vereador com o pelouro da cultura na Câmara Municipal do Fundão."Esta 
                        estrada que estamos a pisar é obviamente um caminho escolar de transumância. 
                        Era por aqui que se fazia a ligação entre o Norte e o Sul da Gardunha", 
                        revela. Com ar satisfeito, salienta que "este ano, as rotas da transumância 
                        e nomeadamente a animação Chocalhos 2003, estão muito dedicados 
                        à figura do pastor e a essa nobre actividade".
 Mas a cerca de meia centena de pessoas na caminhada foi classificada por alguns 
                        de escassa. Relativamente a isto, Paulo Fernandes diz que no sábado, 20, 
                        em Alpedrinha, "foi a maior enchente que há memória aqui no 
                        centro histórico". Por isso, "é claro que depois de um 
                        longa noite, é natural que as pessoas não tivessem disponibilidade 
                        para estar de pé às oito da manhã do dia seguinte", 
                        justifica. E "esta não é uma questão quantificável, 
                        mas sim qualificável", adverte.
 Feira dá a conhecer Alpedrinha
 Também um almoço típico, como "carapau em molho de escabeche" 
                        e "papas de carrola",oferecido pela organização, era o 
                        que esperava os "caminhantes" despois de toda aquela aventura. O presidente 
                        da Junta de Freguesia de Alpedrinha, Francisco Roxo, chega à conclusão 
                        que "ultrapassámos as expectativas. Este ano triplicámos o 
                        número de pessoas".
 O projecto da rota da transumância prevê, segundo Roxo, "a recuperação 
                        do Palácio do Picadeiro e toda a zona histórica que está 
                        a ser estudada para mudar isto".De acordo com o presidente, a Feira Franca, 
                        também inserida neste festival é uma forma de "dar a conhecer 
                        Alpedrinha e um incentivo para as pessoas montarem nestas casinhas produtos típicos 
                        da freguesia". Isto para "as pessoas virem cá", conclui.
 
 
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