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                         José Geraldes
 | Os sete pecados
 A sociedade portuguesa não oferece oportunidades 
                        iguais a todos os cidadãos. Parafraseando uma expressão conhecida 
                        de George Orwell "há uns portugueses mais iguais do que outros".
 
 A Carta Pastoral sobre o bem comum da autoria dos bispos portugueses é 
                        um alerta não só para os cristãos comodistas mas também 
                        para a sociedade portuguesa. A identificação de "algumas atitudes 
                        e linhas de comportamento" apresenta um retrato completo de situações 
                        chamadas "pecados sociais".
 Para muita gente a palavra pecado evoca medos recalcados quando, afinal, se trata 
                        de um desvio do caminho que deve levar à perfeição. Ou seja, 
                        o pecado é a recusa de um bem superior que Deus nos oferece. E que concorre 
                        para a realização do ser humano que pode chegar até à 
                        santidade.
 No passado, dava-se maior importância ao pecado dito individual e não 
                        se acentuava a sua projecção na comunidade. Ora toda a falta pessoal 
                        tem uma dimensão social. E põe em causa o bem de todos, isto é, 
                        o bem comum.
 O documento dos bispos acentua esta dimensão social de comportamentos individuais. 
                        E aponta sete casos em que a dimensão social vem ao de cima.
 O primeiro refere-se ao "egoísmo individualista". Egoísmo 
                        pessoal mas também de grupos que só vislumbram os seus interesses 
                        corporativos. Quem olha para os outros com vontade de perder tempo com eles e 
                        os ajudar a resolver os seus problemas?
 O segundo caso prende-se com o consumismo. As famílias endividam-se sem 
                        precaverem o futuro. Os ricos tornam-se mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. 
                        O facto está a verificar-se na sociedade portuguesa. Dados internacionais 
                        ultimamente vindos a público confirmam a realidade.
 O terceiro pecado social denunciado pelos bispos é a corrupção 
                        que cresce desmesuradamente. A corrupção aparece catalogada como 
                        "verdadeira estrutura de pecado social". Depois do 25 de Abril de 1974, 
                        foi criado o organismo Alta Autoridade contra a Corrupção. Seria 
                        interessante publicar, agora, os seus relatórios. A corrupção 
                        não foi eliminada e floresce a todos os níveis e classes sociais. 
                        É um cancro na sociedade portuguesa.
 
 
 
 
 
 
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