Os estudantes fecharam todas as entradas da UBI
Alunos protestam valor da propina
UBI fechada a cadeado

Cerca de mil estudantes da Universidade da Beira Interior bloquearam o acesso a todas as entradas da instituição e marcharam rumo à Reitoria. A AAUBI quis deixar a mensagem de que os alunos estão unidos contra as medidas do Governo recentemente aplicadas ao Ensino Superior.


Por Daniel Sousa e Silva


As instalações da Universidade da Beira Interior (UBI) foram encerradas a cadeado às 5h e 30m de quarta feira, 1 de Outubro, pela Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI). A manifestação, na Rua Marquês D'Ávila e Bolama, reuniu cerca de mil estudantes e teve o seu momento alto na marcha lenta até à Reitoria.
"Bolsas, sim, propinas, não, o que queremos é uma boa educação" foi uma das frases de ordem mais ouvida durante a manifestação em protesto contra a propina de 700 euros fixada na UBI.
João Meirim, aluno de Medicina, considera o valor a propina "um absurdo", porque "nem todos o podem suportar". O estudante participou na manifestação com o intuito de "mostrar ao Governo que a forma como o Ensino Superior está a ser tratado é inadmissível". "A manifestação é a forma dos estudantes mostrarem a sua opinião, já que o poder político não atende às nossas reivindicações", conclui.
Outro estudante que se juntou à manifestação, Sérgio Vieira, defende que "o Governo está a tentar matar o ensino público". Na UBI há três anos, Sérgio Vieira não compreende "como é possível se cobrar uma propina tão elevada numa universidade do interior". Uma lamentação do aluno de Engenharia Mecânica foi o facto de "não ter aparecido toda a gente". "Os estudantes estão descontentes, mas também não se dignam a aparecer", desabafa.
O dia de protestos coincidiu o com o primeiro dia de aulas dos alunos do 1º ano. Alguns juntaram-se à manifestação. Para Gonçalo Araújo, "caloiro" da licenciatura em Filosofia, fazer-se justiça seria "manter o valor anteriormente estabelecido do salário mínimo". O recém-chegado à UBI acredita na importância da manifestação, "para ver se se baixa o valor das propinas, que é muito elevado".
Hélder Prior, "caloiro" da licenciatura em Ciências da Comunicação, aderiu à manifestação, porque lhe pareceu "uma causa justa". O estudante gostou do que viu. "O movimento estudantil está organizado e mostra que os alunos também têm uma palavra a dizer em todo este processo".




Marcha lenta

Santos Silva ouviu os protestos dos alunos

A marcha lenta dos estudantes rumo à Reitoria deu-se ao final da manhã, entre cânticos. Os estudantes empunham uma faixa com uma mensagem premonitória: "Vamos extinguir [as ideias d]este Lynce". Chegados à Reitoria, clamaram por Santos Silva, reitor da UBI.
Santos Silva ouviu os protestos dos estudantes que se deslocaram à Reitoria, lembrando que, a título pessoal, não concordava com a nova lei de financiamento do Ensino Superior, mas que "as leis existem para serem cumpridas" e o equilíbrio financeiro da instituição com a propina de 700 euros "uma decisão de gestão necessária". "É imperativo que a UBI se distinga pela qualidade e pela diferença, já que, pela sua localização geográfica pode estar condenada à morte, e, para isso, é preciso dinheiro", justifica-se.
"Há uma desresponsabilização do orçamento por parte do Estado e as instituições têm de sobreviver", advoga.
O presidente da AAUBI, Luís Franco, disse a Santos Silva que "os estudantes quiseram mostrar à Reitoria a sua posição em relação ao valor da propina estabelecido na reunião de Senado". O dirigente estudantil reconhece que "a culpa do problema não são os reitores, mas sim a política do Governo para o Ensino Superior". No entanto, reclama "uma tomada de posição clara por parte da Reitoria", uma vez que, para Franco, "o momento é de unir esforços".
O reitor, Santos Silva, avança que "se no momento actual fosse estudantes e bolseiro também estava apreensivo". Santos Silva espera que "o Governo cumpra o que apregoa em anúncios televisivos, onde se publicita que nenhum estudante vai ficar fora do Ensino Superior devido a problemas financeiros".
A ocasião foi aproveitada pelo presidente da AAUBI para destacar "diversos problemas na UBI que ainda estão por resolver". "Por vezes, tenta-se poupar dinheiro tirando-se coisas aos estudantes, como a manutenção de certas infra-estruturas e cortes no aquecimento", exemplifica.
O protesto teve início na noite anterior, terça feira, 30 de Setembro, a partir das 23h, frente aos Serviços Académicos da instituição, onde estiveram presentes mais de quatrocentos estudantes.
Durante a tarde de quarta feira, houve ainda a realização de um peditório simbólico realizado nas ruas da cidade da Covilhã.
"O protesto não vai terminar enquanto não forem mudadas as políticas de gestão das universidades, tanto a nível local como a nível nacional", garante, Luís Franco.