José Geraldes

Os sete sinais da esperança

Para lá das dificuldades económicas que o País vive, é preciso que a onda do pessimismo seja substituída por um olhar optimista. O pessimismo degrada e corrói.


Será possível ter esperança quando os portugueses, em várias sondagens, se mostram pessimistas? A Carta Pastoral sobre o bem comum da Conferência Episcopal responde pela afirmativa. E cita uma série de sinais que atestam isso mesmo.
Depois de assinalar os sete pecados sociais de que enferma a sociedade portuguesa e que analisámos, na semana passada, a Carta debruça-se sobre também sete factos positivos. Factos que os bispos consideram "imbuídos de esperança e de responsabilidade dos cidadãos que necessitam de ser continuamente revitalizados".
O primeiro refere-se a uma nova atitude perante os problemas actuais. Atitude que se manifesta "no discernimento crítico" das questões sociais e na "denúncia de todas as formas de exclusão e de egoísmo". Salta aos olhos que, hoje, os portugueses estão mais despertos para os valores da solidariedade e não se conformam quando são confrontados com casos de injustiças gritantes.
A tomada de consciência da sociedade, como comunidade cultural, aparece como outro sinal de esperança. A cultura não é um luxo reservado só a alguns. O sentir que os bens culturais pertencem a todos, revela uma sociedade acordada e não passiva.
O terceiro sinal mostra quanto os portugueses estão abertos a novos campos de acção em ordem a uma sociedade mais interventiva. Assim é de salientar "a promoção de todas as formas de educação para a vida, para o ambiente, para os valores, para a cidadania, para a democracia, para a solidariedade e para o bem comum". Portanto, a vida, o ambiente, os valores, a cidadania, a democracia, a solidariedade e o bem comum são áreas de que não se pode abdicar na construção do futuro de todos nós.
O voluntariado aparece como o quarto sinal. A contrastar com tantas formas de egoísmo, o estar disponível, sem remuneração, para ajuda e conforto dos outros leva-nos a acreditar que os portugueses continuam a guardar, dentro de si, virtudes julgadas perdidas. Enquanto houver homens e mulheres que desenvolvam a capacidade de se entregar a missões ao serviço do seu semelhante, temos a certeza de que a sociedade se tornará mais coesa e forte. E os amanhãs que cantam, nunca desaparecerão.
O assumir responsabilidades - este é o quinto sinal - num país onde a "balda" se transformou em hábito, indica-nos o caminho certo. Nos domínios da saúde, da habitação, da escola, da Comunicação Social, do emprego, da economia, da política e da justiça, há muita gente que se empenha seriamente e de forma dedicada às suas tarefas. Com uma vontade de participação como um serviço.
O sexto sinal está na "busca da nova identidade portuguesa". A forma de ser português foi sempre de abertura aos outros povos. O continuar receptivo a novas culturas só nos valoriza. Trata-se de uma atitude estruturante.
A integração na União Europeia é considerada na Carta o sétimo sinal. Mas também um desafio ao Portugal que queremos construir. Daí que não possamos fugir também a enfrentar o fenómeno da globalização.