As Jornadas foram organizadas por Paulo Serra e José Rosa

As jornadas subordinadas ao tema "Da fé na Comunicação à comunicação da Fé", decorreram nos dias 24 e 25, na sexta-feira de tarde e no sábado de manhã. O evento, organizado pelos docentes Paulo Serra e José Rosa do Departamento de Comunicação e Artes da UBI, tinham como objectivo reflectir sobre o conflito entre a confiança e a omnipresença da comunicação nas sociedades hodiernas e a individualidade da fé religiosa, vivida no mais íntimo de cada pessoa. O ponto de abordagem escolhido foi a retórica tal como os primeiros padres da Igreja a usaram nos primeiros séculos do cristianismo a fim de anunciar a fé.
As jornadas dividiram-se em três painéis. O primeiro, "A Estratégia do Anúncio - Persuasão e Finalidade", que decorreu das 14h30 às 17h30 no Anfiteatro 1, na Parada, teve como interlocutores Joaquim Cerqueira Gonçalves, professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Tito Cardoso e Cunha, docente do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, Alfredo Teixeira da Universidade Lusófona e Carlos Silva da Universidade Católica Portuguesa. Cerqueira Gonçalves apresentou uma concepção ontológica da comunicação especificando a natureza difusiva do ser. Por seu lado, Tito Cardoso e Cunha falou sobre o lugar do silêncio na comunicação humana, de como o silêncio é não só uma necessidade básica da comunicação, opondo-se desse modo ao ruído e não às palavras, e ainda de como há silêncios que falam e mesmo actuam. A partir daí procurou elaborar uma retórica do indizível, à primeira vista paradoxal. O silêncio pode dizer aquilo que à partida parece não ser exprimível. Alfredo Teixeira fez uma análise da entronização mediática de João Paulo II e de que como este aproveitou os meios de comunicação social para afirmar pontos essenciais da sua condução do catolicismo ao longo dos 25 anos do seu pontificado. Carlos Silva discorreu sobre o abismo existente entre a vivência pessoal e única da fé e a cristalização da fé em grandes religiões, que muitas vezes, "como grandes mentiras", servem de panaceia a uma vivência autêntica e genuína do religioso.
O segundo painel, subordinado ao tema "A Bondade da Promessa - Salvação e Felicidade", ocorreu já na Sala dos Conselhos e estendeu-se até à hora de jantar. O primeiro interveniente, Manuel Costa Freitas, professor catedrático da Universidade Católica Portuguesa, fez uma intervenção comprometida com a vivência pessoal da fé e de como essa vivência constitui ela a melhor forma de testemunho. Paulo Serra optou por expor o carácter utópico da comunicação nos nossos dias e de como essa utopia é posta cada vez mais em causa.
No sábado de manhã teve lugar o terceiro painel em que em torno do tema "A Publicidade da Confissão" intervieram João Carlos Correia da UBI, Artur Morão da Universidade Católica e Maria Leonor Xavier da Universidade de Lisboa. O primeiro, recorrendo às análises de Adorno e Horckeimer, fez uma análise crítica dos meios de comunicação hoje. Artur Morão trabalhou o conceito de comunidade, mostrando como é fundamental para a compreensão hodierna do mundo e da ciência contemporâneos e, também, da religião. Maria Leonor Xavier, seguindo as doutrinas de Santo Agostinho, em particular no De Trinitate, mostrou como há uma teologia antecedente e uma teologia consequente à fé, entendida esta no duplo aspecto de atitude humana de crença (fides qua) e de um corpo doutrinal em que se acredita (fides quae).
As jornadas foram, no dizer dos organizadores, uma oportunidade de cruzar os diferentes saberes da teologia, filosofia, comunicação e retórica. A grande adesão de ouvintes, que intervieram frequente e vivamente no final dos painéis, mostrou que o tema era atractivo.
Se a satisfação dos participantes, conferencistas e ouvintes, valer como critério, então pode dizer-se com segurança que foi conseguido o objectivo das jornadas que era expressamente, o de "cruzar investigações no pensamento antigo e patrístico com investigações contemporâneas no âmbito da comunicação".