Investigadores portugueses e espanhóis debateram questões relacionadas com a publicidade
Jornadas de Publicidade e Comunicação
O caminho dos anúncios

A relação da publicidade com a arte, a retórica, o cinema e o design foram alguns do temas abordados nas jornadas realizadas no passado fim de semana. A iniciativa ficou marcada por múltiplas interrogações para as quais ainda não há respostas concretas. Uma forma de impulsionar os estudos nesta área ainda pouco explorada no nosso País.


Por Catarina Rodrigues


Será que a publicidade pode ser considerada um discurso que tem marcas artísticas ou será que a arte e a publicidade são incompatíveis? Esta foi uma das questões levantadas nas Jornadas de Publicidade e Comunicação realizadas nos dias 7 e 8 de Novembro. A iniciativa foi organizada pelo Departamento de Comunicação e Artes e pelo Labcom - Laboratório de Comunicação e Conteúdos On-line. Segundo Eduardo Camilo, docente na UBI e responsável pela organização, o principal objectivo do evento foi "reflectir sobre um conjunto de ideias que se assumem como preocupações da investigação científica num conjunto de áreas relacionadas com a publicidade, desde a sociologia à semiótica, passando pela retórica e pelos estudos literários".
No primeiro painel subordinado ao tema "Retóricas da Publicidade", Lopez Eire, docente na Universidade de Salamanca afirmou que "a publicidade é um ramo moderno da retórica". Uma ideia reforçada por António Fidalgo, docente na UBI que lembrou os três tipos de discurso retórico em Aristóteles e acrescentou que "agora surge um quarto género retórico que é o publicitário". Fidalgo sublinhou ainda o facto deste discurso aumentar à medida que cresce o consumo numa determinada sociedade. Também Tito Cardoso e Cunha abordou a questão da retórica na publicidade, mas reconhece que "há coisas que nem a publicidade nem a persuasão conseguem resolver", dando como exemplo o caso da Prevenção Rodoviária.
A relação entre a arte e a publicidade foi uma questão constantemente levantada ao longo dos dois dias em que decorreram as jornadas. António Delgado, docente na UBI considera que "um anúncio nunca pode ser uma obra de arte pois na publicidade a arte é transformada em meio". No âmbito do segundo painel subordinado ao tema "Linguagens e Discursos", Raul Rodriguez fez uma comunicação pautada pela originalidade. O docente espanhol apresentou a publicidade como sendo "omnívora e canibal" na medida em que se devora a si mesma e se nutre de todos os sistemas sociais. Eduardo Camilo focou o tema da institucionalização e da objectivação publicitária centrando-se no caso específico da Super Bock.

Cinema e Design

Luís Nogueira, docente na UBI, abordou a questão da narratividade da publicidade de uma forma paralela ao que acontece no cinema. Uma comunicação inserida no último painel intitulado "Ângulos de Análise". Segundo Nogueira, " a narratividade publicitária não será muito diferente da cinematográfica", mas frisa que "o trabalho sobre as imagens é mais livre na publicidade que no cinema". O docente na UBI questionou-se mais uma vez sobre o facto da publicidade ser ou não arte e sem dar uma resposta definitiva considera que "a publicidade tem assegurada a vida eterna".
Jorge Bacelar, também docente na UBI, tratou na sua apresentação, o papel dos designers na publicidade. Bacelar mostrou anúncios que marcaram o início do século XX. Nessa altura, as mensagens eram praticamente compostas por textos. Nos anúncios das últimas décadas, as mensagens começaram a incidir nos desejos e fantasias. "A comunicação publicitária tende a aproximar-se perigosamente do que é socialmente inaceitável", sublinha o docente lembrando que algumas campanhas que ultrapassaram esse limite foram canceladas.
Jorge Bacelar afirma que o público exige um design cada vez melhor e deixa no ar uma questão: "Estarão os designers conscientes do que andam a fazer?".
O responsável pela organização das jornadas, Eduardo Camilo, explica que a iniciativa surgiu "na confluência de uma certa produção científica que muito timidamente vem surgindo no nosso País". A publicidade tem sido um objecto de estudo pouco explorado em Portugal, mas segundo Camilo, "investigações bastante interessantes estão agora a começar". O docente lembra que em Espanha já existe uma produção científica assinalável. "Para futuras iniciativas semelhantes a estas jornadas será importante consolidar uma relação institucional entre a Universidade da Beira Interior e outras universidades que trabalham nesta temática", conclui.
Para além dos vários painéis temáticos, o programa das Jornadas de Publicidade e Comunicação, incluiu uma retrospectiva do Festival de Cannes. Uma mostra que contou com o apoio do Cine Clube da Beira Interior e que permitiu visionar filmes publicitários de todo o mundo premiados no ano 2002.