José Geraldes

Comunidade Urbana e bom senso

Qual a razão de a Comunidade ir só até à Gardunha quando dois túneis encurtam significativamente as distâncias?

O processo da constituição da Comunidade Urbana da Beira Interior está a sofrer solavancos a mais. Tantas reuniões já feitas e não há maneira de se chegar a uma conclusão consensual.
A Comunidade – é evidente- não pode realizar-se de ânimo leve. A reflexão impõe-se como necessária. Mas os meses que passaram, não forneceram já dados suficientes para que uma decisão tenha sido possível ?
Se a primeira discordância foi sanada com honra para os autarcas envolvidos – caso da conhecida polémica entre Carlos Pinto e Manuel Frexes - e, por isso, merecem elogios, que forças aparecem, agora, a inquinar o processo ?
Os municípios da Beira Interior Norte com a Cova da Beira e Penamacor avançaram com um consenso geral. Mas – e tal posição foge à compreensão do cidadão comum – qual a razão de a Comunidade ir só até à Gardunha quando dois túneis encurtam significativamente as distâncias ? Por que razões a Guarda e municípios da Beira Interior Norte não desejam que Castelo Branco faça parte da Comunidade Urbana ?
Perante esta posição compreende-se que a autarquia albicastrense fique a pensar demoradamente. Pois não pode ser considerada como intrusa. Daí que a reunião promovida pelos municípios da Cova da Beira tenha sido um passo muito importante e de rasgo estratégico para dissipar dúvidas e destacar as vantagens da adesão de Castelo Branco.
Já a posição dos municípios Seia e Gouveia que aparecem seduzidos por Viseu – dada a sua proximidade – com o argumento da marca Serra da Estrela ficar desvalorizada com a adesão à Comunidade dos dois distritos não será assim tão convicente. Aliás, a Comunidade Urbana unindo os distritos da Guarda e Castelo vem reforçar ainda mais a chamada “marca da Estrela”.
Manuel Castells, sociólogo catalão, autor de uma monumental obra sobre as tecnologias da informação e da comunicação, professor afamado em Berkeley, na Califórnia, nos Estados Unidos, diz que, hoje, não há fronteiras, e tudo funciona em rede.
Esta ideia aplica-se perfeitamente às Comunidades Urbanas. E, quem tente isolar-se hipoteca o futuro. Ora este Interior de que fazemos parte, não pode continuar a ser jogo de invejazinhas e de pequenas vaidades entre vizinhos.
Os que estão a tentar fazê-lo, a História os condenará. As Assembleias Municipais quando se pronunciarem têm de ter vistas largas e não apenas o seu município. Caso contrário, as populações continuarão ainda a desconfiar dos políticos que os elegeram.
A Auto-Estrada A23 reforça ainda com mais vigor a Comunidade Urbana Guarda-Castelo Branco. E, depois, temos a transferência directa dos fundos comunitários o que permite a realização de grandes projectos e a atracção de investidores.
Tem razão Carlos Pinto quando evoca, a este respeito, a questão da representatividade da população.
O prazo para uma decisão final sobre o fim dos desentimentos foi marcado até 31 de janeiro. Mas há outra data a ter em conta. Embora não haja um prazo-limite para a constituição das comunidades urbanas e intermunicipais, o Orçamento de Estado para 2004 contempla uma quantia de 2,5 milhões de euros para as novas entidades administrativas constituídas até 31 de Março como “ajuda” à sua fundação.
Não há, pois, tempo a perder. A Comunidade Urbana com os dois distritos vai ser um elemento fundamental para que a Beira Interior alcance o desejado patamar do desenvolvimento sem estar dependente dos gabinetes alcatifados dos senhores do Terreiro do Paço. Haja, então, bom senso, por parte de todos os autarcas envolvidos.

PS. Dada a minha ausência desta coluna,aos leitores e amigos que se interessaram pelo meu estado de saúde, os mais sinceros agradecimentos.