Alexandre S. Silva*

Onde param os “Urbi-jornalistas”?

Há dez anos atrás, quando, em mais um lote de “caloiros fresquinhos”, entrei na UBI, ainda não havia Internet. Pelo menos, como a conhecemos hoje. A sua dimensão era, então, muito limitada, e o acesso quase restrito. Não se concebia sequer, a não ser, talvez, na mente de um qualquer visionário, uma publicação de circulação on-line acessível de qualquer parte do Globo. Nem, tampouco, se equacionava um jornal universitário com estas características.
Há dez anos atrás, não havia publicações regulares, nem rádio, nem televisão abertos à colaboração de quem quisesse participar. E eram tantos os que queriam. Nesse tempo apenas existiam o CREA, inacessível a grande maioria dos alunos, e o Beira Interior (mais tarde B.I. e, depois, Beira IN), um jornal alimentado por artigos de professores e alunos de Ciências da Comunicação que sofria de pouca divulgação e periodicidade demasiado irregular. A vontade de fazer alguma coisa na área da edição era tanta que alguns alunos, perante a falta de meios da Universidade, decidiram arregaçar as mangas e fazer as suas próprias publicações em formato “fanzine”. Surgiram, então, títulos como a “Pangea”, a “Especimen Censurado” e, mais tarde, a “Co-existir”, que ainda subsiste. A qualidade dos artigos era, no mínimo, duvidosa. Mas isso não era o mais importante. O que interessava era participar. Havia iniciativa, vontade de mudar e de trabalhar. De expor ideias. De estreitar os laços entre a UBI e a cidade. O meio pelo qual isso fosse possível era indiferente.
Dez anos volvidos a situação, parece-me, inverteu-se. Hoje a UBI proporciona aos seus alunos - neste caso aos de Comunicação – condições fantásticas para o desenvolvimento de actividades na área dos media, mas parece já não haver interessados. Impera a mentalidade do “deixa andar” e do “quero lá saber”. A participação passou de necessidade natural de expressão a obrigação de cumprir um trabalho para obter uma nota no final do semestre.
O Urbi @ Orbi é um excelente meio de iniciação ao jornalismo. Um meio como a Universidade nunca teve e que merecia ser mais acarinhado pelos estudantes do curso. A “euforia” dos três primeiros anos parece ter-se esgotado neste último. E, a não ser em situações pontuais, que coincidiram com actividades relacionadas com a vida académica, não mais se viram, como chegou a ser habitual, “Urbi-jornalistas” na Cidade, nem na Região e, muito menos, no Resto. Convém, talvez, recordar aos alunos de Comunicação que alguns colegas seus que iniciaram a actividade no semanário digital são, hoje, respeitados jornalistas da imprensa regional e nacional. E ainda só passaram quatro anos.


*Jornalista do Notícias da Covilhã