João Alves*

A construção da agenda e o URBI


A agenda do jornalista não se resume ao que acontece, no quotidiano. Não são só os faxes a alertarem para determinado acontecimento que nos fazem andar. É preciso que cada um crie a sua própria agenda.

Que bela marca para o jornal da minha (e nossa) universidade, onde também eu tirei a minha licenciatura, mas na qual, na altura, não havia jornais on-line, nem televisão ou rádio interna e onde aceder ao CREA era bastante difícil. Hoje tudo mudou, e ainda bem. E cá temos o URBI a festejar quatro anos, e até com a novidade das suas notícias passarem a ser divulgadas em papel, num suplemento que é inserido, mensalmente, na edição do NC.
Ao longo dos anos que tenho estado na Covilhã, e no semanário em que trabalho, tenho conhecido vários estagiários da UBI, que chegam aqui para dar os primeiros “toques” na profissão. E se nos primeiros anos, o nível qualitativo da maioria era elevada, nestes últimos tempos, tenho que constatar, e com pena, que há quem chegue cá mal preparado, não obstante dispor de meios que nós, outrora, não tínhamos. Curioso.
Pelo que tenho visto do jornal da Universidade, existe a preocupação de fazer com que os alunos possam praticar, redigir notícias, acompanhar alguns acontecimentos, ou seja, cresçam em termos jornalísticos. Mas será isso suficiente? Chegará dizer a cada aluno que tem que escrever quatro ou cinco (ou sejam lá as que forem) peças para o URBI, ao longo do ano? Penso que não. E o porquê desta minha pergunta?
É que, há bem pouco tempo atrás, fui surpreendido pelo director do NC, a avisar-me, a mim e aos companheiros de redacção, que haveria de telefonar uma aluna de Ciências da Comunicação, na UBI, a perguntar pela agenda para poder escrever alguns artigos “obrigatórios” para o URBI. Do aviso, passou-se à prática e a rapariga lá telefonava a uma colega minha a perguntar “o que é que se passa”. É que, dizia, estava à rasca pois precisava de escrever umas quantas notícias e “não havia nada”. Fiquei estupefacto.
Primeiro ponto: será que a leitura de órgãos de comunicação regionais não será, só por si, uma fonte, que nos indique o que acontece no local onde vivemos? É, claramente. A verdade é que, conhecendo alguns dos estagiários que por aqui passaram, facilmente se via que nada sabiam sobre a cidade em que vivem há quatro anos, só pelo facto de não terem enraizados hábitos de leitura de semanários regionais ou até diários, que hoje já têm suplementos sobre a zona Centro. Não sabiam que concelhos pertenciam ao distrito, os bairros da cidade ou os nomes de alguns autarcas, personalidades ou instituições cá do burgo. Criar esse hábito, desculpem lá, tem que passar pela formação académica. Segundo ponto: será que só posso escrever notícias sobre “o que se passa”? Claro que não. A agenda do jornalista não se resume ao que acontece, no quotidiano. Não são só os faxes a alertarem para determinado acontecimento que nos fazem andar. É preciso que cada um crie a sua própria agenda, a construa permanentemente e tenha a clarividência para escolher um tema e investigar. Por isso a minha surpresa quando a rapariga nos pedia para a informarmos do que se passava. Penso que seria tarefa do URBI dizer-lhe o que fazer, ou o que tentar fazer, ou o que poderia pensar fazer. Qualquer pessoa, mais nova ou velha, rica ou pobre, mulher ou homem, tem histórias para contar que podem interessar a todos. Há, todos os dias, instituições que trabalham em prol dos outros, que enfrentam dificuldades ou alcançam êxitos. É só ir à procura.
Por isso, neste quarto aniversário, em que desejo as maiores felicidades ao URBI, lanço o repto: caros alunos, aproveitem o que têm à disposição para serem melhores. E caros professores, aproveitem os meios que têm para fazer dos “urbijornalistas” pessoas melhores preparadas para enfrentar o mercado de trabalho. E continuem a crescer, como o têm feito nos últimos tempos. Para bem da UBI, Covilhã, região e País.

*Jornalista e coordenador do Notícias da Covilhã