Ana Ribeiro Rodrigues*

Um laboratório meritório que precisa de mais garra

Quando entrei na UBI o curso de Ciências da Comunicação já tinha repensado as directrizes com que o projecto tinha tido início, então com a designação de Comunicação Social, como os mais distraídos ainda insistem em identificar o curso. No fundo, uma resposta à necessidade premente de adequar conteúdos leccionados ao mundo real. Nessa altura, que correspondeu ao último ano de aulas no pólo Ernesto Cruz, estava também em curso uma nova mudança, que se viria a revelar um passo em frente na forma como esta licenciatura era encarada.
O arranque das emissões da Tubi e o posterior lançamento do Urbi et Orbi vieram mostrar que afinal se estava atento, que havia vontade de evoluir, de possibilitar aos alunos o acesso a novos métodos de aprendizagem, ainda que em parte extra-curriculares. Esses momentos vieram também dar alguma esperança à grande maioria que entendia haver demasiada teoria, comparando com as cadeiras do currículo que requeriam uma componente prática. Um receio, justificado -digo eu- de quem tem noção que numa redacção a cultura geral, o background, são importantes mas não são tudo.
Quatro anos depois, quando saí, vi o curso entrar num novo ciclo, que procura ir mais de encontro a essa filosofia, de complementaridade. De saber e saber fazer. Quanto ao Urbi, tem desempenhado e penso que tem condições para continuar a desempenhar um papel importante nesse sentido, de pôr em prática alguns conhecimentos adquiridos.
No entanto, no meu entender, o jornal on-line que pretende chegar à comunidade ubiana, à cidade e ao resto do mundo, tem sido uma iniciativa válida e de louvar, um bom laboratório, mas que não é devidamente rentabilizado.
A UBI tem aquele que é provavelmente o mais bem equipado curso de Ciências da Comunicação. Mas isso não basta. É possível ter outras aspirações e, em vez de acenarmos sempre com isso, penso que traria mais vantagens ter sempre presente que não nos devemos comparar com os piores, mas sim procurar ir mais além e proporcionar um ensino de maior qualidade aos alunos. Algo que terá de passar, em grande parte, por ter sempre presente o que exige o mercado de trabalho e preparar os alunos nesse sentido.
E penso que neste capítulo, na generalidade, isso não acontece. Claro que a iniciativa de cada um é importante, mas cabe também aos professores da área fomentarem essa participação activa nos laboratórios existentes e darem um maior contributo para a formação daqueles que pretendem vir a ser futuros profissionais da comunicação. Uma das suas prioridades deve ser tornar o funcionamento desses laboratórios um espelho o mais fiel possível da realidade, para que, como continua a acontecer, os licenciados não continuem a ter grandes surpresas quando chegam a uma redacção.
Em meu entender todos teriam a ganhar se os alunos fossem incentivados a tratar de temas mais diversificados, em vez das habituais notícias de exposições e peças de teatro que constam da agenda ou dos assuntos tratados nos poucos trabalhos de fundo que são pedidos ao longo do semestre e já na recta final do curso. Acho que outro dos aspectos que julgo ser possível melhorar é pôr mais cedo os alunos em contacto com o Urbi, sem imposições relativamente à altura em que se pode começar a colaborar, ao invés do que se faz actualmente. Para além disso parece-me também imprescindível responsabillizar mais os alunos nas cadeiras com uma vertente prática. Atribuir-lhe um número razoável de trabalhos para que fiquem com um mínimo de preparação e fazê-los deslocar-se mais vezes aos sítios onde se dá o acontecimento. Não só para ganhar alguma prática como também para ir fazendo contactos e ficar com uma ideia mais real de como se trabalha.
Para além disso penso que o Urbi @ Orbi tem desempenhado um papel meritório e teve importância para todos aqueles que por lá passaram. Agora, com a edição em papel, que lhe veio dar mais visibilidade, talvez se venha a verificar um maior entusiasmo para continuar a melhorar este projecto.
Quatro anos depois, pela inovação e pela ideia que lhe está subjacente, o Urbi está de parabéns, assim como aqueles que com ele colaboraram e os que já passaram pela coordenação do projecto. Mas não se pode ter o objectivo redutor de querer ficar por aqui.

*Jornalista do Notícias da Covilhã