D. Quixote numa tentativa de sedução
Três dias para apresentar nova peça
Pessoas representam marionetas

A nova peça do Teatr’UBI, “D. Quixote Revisitado” é uma recriação da peça para marionetas escrita no século XVIII por António José da Silva.


Por Daniel Sousa e Silva


Nos 10, 11 e 12, foi possível ir à Sala da Ensaios da Associação Académica da Universidade da Beira Interior assistir a “D. Quixote Revisitado”, a nova peça do Teatr’UBI, que conta com novos elementos.
A base da representação é a peça para marionetas criada por António José da Silva, em 1733, a partir do clássico de Cervantes.
O encenador, Viriato Morais, explica que se tentou tomar o D. Quixote de José António da Silva e não o original. Viriato Morais diz tratar-se de “um texto complicado”, admitindo ter sido difícil para os actores conseguir decorar o texto. “Preocupei-me mais com a ideia do que propriamente com o texto literal”, revela.
No entender do encenador, “não existe qualquer mensagem que se quis transmitir, apenas uma história divertida que merecia ser contada”.
Viriato Morais deu liberdade aos actores durante o processo de criação das personagens, porque acredita que “o actor tem de ser um criador e não deve deixar de o ser depois da estreia”. Desta forma, o encenador conclui que se conseguiu “um remix muito engraçado de várias formas de se fazer teatro”.
Sérgio Novo, um dos mais antigos elementos do Teatr’UBI, encarnou a rocambolesca personagem Sancho Pança, fiel escudeiro de D. Quixote e “motor” da história. A construção da sua personagem “começou num exercício em forma de brincadeira, num jogo de pernas, e foi-se dando alguns tiques, algumas características próprias”.
O novo grupo deixa Sérgio Novo “muito contente”. A entrada de elementos novos é vista por Sérgio Novo como “revitalizante”, já que, como explica o actor, “os teatros universitários funcionam por ciclos, porque as pessoas entram para o grupo, mas, mais cedo ou mais tarde acaba por sair”. Uma certeza de Sérgio Novo é que quem já participou no Teatr’UBI “não esquece a experiência”.
D. Quixote foi representado por Ricardo Silva. É a quarta peça do actor. “A minha personagem foi criada através do método de divising, que consiste na ligação de umas personagens para as outras”, explica.
O jovem actor elucida uma das opções de encenação. “Como pessoas do século XXI, resolveu-se conciliar as personagens do D. Quixote com elementos exteriores, de filmes conhecidos, de banda desenhada tipo Manga”, criando uma constante construção e desconstrução da realidade.
Viriato Morais tem consciência de “não se tratar de um espectáculo genial”, mas reitera que “esse também não era o objectivo”. “Não me preocupei em ter um grande momento teatral, a minha maior preocupação foi o grupo”, assegurando que, nesse aspecto, teve “muito sucesso”. “A partir de agora, este grupo pode sozinho desenvolver este e outros espectáculos”, diz satisfeito.
Mas nem tudo foram rosas. O encenador admite ter sido “muito difícil manter a coesão no grupo, havendo elementos que até duas semanas antes da estreia não tinham ainda estabilizado”. Uma situação que levou ao corte de algumas cenas previstas. A peça “foi inicialmente pensada para ter cerca de 2h, mas acabou com 1h e 15 min”.
Houve alguns elementos do Teatr’UBI que, com “D. Quixote Revisitado” pisaram pela primeira vez um palco.




Encenador e actor ou vice-versa



Natural do Porto, 30 anos, Viriato Morais descreve-se como “alguém que gosta de contar histórias”.
A sua formação é, segundo o próprio, “tardia”. Começa no Teatro Universitário do Porto, em 1992. Depois faz “várias coisas, como, por exemplo, teatro de marionetas” e, em 1997, acaba por entrar no Instituto Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto, onde faz o bacharel. Em seguida, faz teatro de rua durante algum tempo no Porto, em Inglaterra e no País de Gales. Em Outubro de 2002, conhece o Teatr’UBI num retiro que decorreu na Serra da Estrela.
Já em 2003, surge o convite para dar formação ao Teatr’UBI e, um pouco mais adiante, fala-se em fazer a produção de uma peça – “D. Quixote Revisitado”. Na altura, aceita, “com todo o gosto”, mas “não tinha qualquer ideia sobre o que havia de fazer”.
Um dos problemas que Viriato Morais vê no teatro universitário é “o facto das pessoas envolvidas estudarem e, por vezes, o teatro não é a primeira prioridade”.