À Espera de Godot

Afinal, o que é Godot? O que Beckett queria dizer com aquele diálogo interminável entre dois mendigos que diante o tédio da vida pensam constantemente no suicídio, mas não levam a cabo a intenção, pois a corda disponível é fraca.
O diálogo entre Vladimir e Estragon é patético e desesperado, acerca de tudo e de nada. Godot é um ser vago, esperado ao fim de cada dia, que serve de pretexto para resolver a mísera existência sem sentido. Pozzo e Lucky, os outros dois personagens, criam uma forma de jogo, na qual se defrontam com igual indiferença e consciência de inutilidade, no espectáculo de servilismo à sua condição. O mesmo, sob, outra perspectiva, que faz de Estragon e Vladimir subservientes e cegos ao interminável preenchimento do tempo da vida, escravos do peso de carregar os dias como uma espera sem qualquer sentido. Pozzo, que tiraniza Lucky como proprietário de suas vontades, é, ele próprio, destituído de desejos passíveis de se concretizarem.
Para cada um de nós que anseia por algo todos os dias. Godot não é coisa nem ninguém. Não é o vazio que não chega. Godot pode ser, sim, a esperança clara do que está para vir. Ficámos à espera de Godot. Nada a fazer.

Cénico de Direito – Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa