Por Eduardo Alves


Artur Portela descreve a história do século XX português no seu mais recente livro

Quis o destino que o homem tivesse nome de nação. António de Apelido Portugal é o personagem que conduz o leitor durante 58 episódios por uma novela do fantástico. Os contos que têm em comum a participação de António Portugal, começam no regicídio e terminam na adesão da pátria lusitana à comunidade europeia.
Este António que é simultaneamente Portugal, vive para "boicotar tudo quanto é acto do Estado Novo", explica o autor do livro. Artur Portela diz ainda que escreveu as 258 páginas desta obra "como uma banda desenhada". A sua forma literária, a recorrer múltiplas vezes ao conto, dá a capacidade de cada leitor interpretar este livro "da forma que julgar melhor", adianta o jornalista e membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS).
Antonieta Garcia, docente no Departamento de Comunicação e Artes e convidada para introduzir o livro, lembra o valor desta compilação de textos. Para a docente "anda por estas páginas muito da memória de Portugal, daí o valor incalculável desta obra". O autor, que confessa não ter recorrido a planificações ou grandes trabalhos de investigação, assimila o destino de um povo a um indivíduo múltiplo. António Portugal é o retrato fiel "de um tempo que eu vivi" e "que se espelha com muitos outro antónios verdadeiros", sublinha Portela. Por outro lado, este irrequieto personagem, vive episódios humorísticos onde "a sátira às instituições e muito mais é óbvia", diz Antonieta Gracia, mas tais considerações são sempre feitas "com um humor único".

Jornalista literário

O humor de Artur Portela "faz desenterrar os fantasmas de um passado que nem sempre gostamos de reviver". As palavras são de Fernando Paulouro, director do Jornal do Fundão, que fez também uma análise do novo livro. A "História Fantástica de António Portugal", é classificada por Paulouro como "um notável retrato da parte portuguesa que gosta mais de fugir do que encarar os fantasmas do passado". Para este jornalista, o trabalho de Portela destaca-se pela capacidade de imaginação, forma literária utilizada e também, "pela riqueza histórica" presente nas páginas do livro.
Estes contos de um país fantástico, lembram que "nós estamos num país onde a amnésia é propagada lentamente", sublinha o jornalista. Durante a descrição que fez do mais recente trabalho de Portela, Fernando Paulouro atesta que "esta é uma obra excelente para nos pôr a pensar nas coisas". Isto porque "vai contra uma cultura de hipermercado".
A história fantástica é a prova de que "se há alguém que em Portugal conseguiu mostrar que o jornalismo pode ser uma importante disciplina de literatura, Artur Portela é esse alguém", adianta Paulouro. Esta distinção é baseada "na habilidade ficcional presente nestes textos", refere o mesmo. Na perspectiva do director do Jornal do Fundão, este livro de Artur Portela é também um compêndio de reportagens, visto "todos os contos terem um título, uma introdução ou lead e o posterior desenvolvimento".
Artur Portela editou o seu primeiro livro, a Feira das Vaidades, em 1959. Ainda durante o regime do estado Novo publica A gravata berrante, Avenida de Roma e Thelonious Monk. De sua autoria asão também títulos como O Novo Conde de Abranhos, Marçalazar, Três Lágrimas Paralelas, A Ração do Céu e A Manobra de Valsalva. História fantástica de António Portugal é o seu mais recente trabalho e está à venda através da editora Dom Quixote.