Por Eduardo Alves


A homossexualidade, o culto religioso e a sociedade mundana são os pilares da encenação

Foi em Mitologias que o grupo de jovens actores do Porto se inspirou. Respondem pelo nome de Sotão (Sociedade Onírica de Teatro Amador Orgânico), mas não foi no fundo do baú que descobriram "As Canções de Bilitis". Uma obra do françês Pierre Louijs, escrita em 1894 e que tem na sua génese toda a cultura helénica.
Este grupo de teatro do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, da Universidade do Porto, trouxe até à Covilhã a encenação de uma obra teatral onde a homossexualidade, o culto religioso e a sociedade mundana se apresentam como pilares. Tudo roda em torno de Bilitis, poetisa grega contemporânea de Safo, e das suas paixões por Mnasidika. Num cenário onde reina a limpidez própria de um qualquer Olimpo dos deuses, sete actores dão corpo a uma peça dedicada aos prazeres carnais e adorações divinas.
A peça é pautada pela delicadeza, e o grupo do Porto soube trazer à Covilhã uma temática actual, disfarçada em vivências antigas. É nas mulheres e na sexualidade destas que recaem todas as atenções, daí que após um primeiro acto, breve, a cena seja arrebatada na totalidade por seres do sexo feminino. Corporizar esta obra é tarefa de Ana Teixeira, Mariana Peres, Marisa Vieira, Miriam Castro e Rita Coutinho. Vestidas de seda azul e rosa, sobre uma clara, descrevem em forma metafórica o amor entre si, entre as mulheres. Um amor limpo da rudeza e força masculina, e afastado também de todos os olhares.
A história em que se baseiam "As Canções de Bilitis", foi supostamente encontrada em Port-Said pelo autor, Pierre Louijs. Nas paredes do túmulo de Bilitis, estavam gravados alguns versos, canções e histórias do que tinha sido a vida daquela ninfa. Este lugar, que vencera as agruras do tempo por mais de 25 séculos, era posto a descoberto pelo conhecedor dos costumes e da cultura dos gregos. Um ano antes do seu desaparecimento e depois de historiadores de todos os quadrantes terem reconhecido como verdadeiros os personagens, Louijs abre o jogo e afirma que esta obra foi inventada por si. Aquela que foi uma das maiores farsas histórico-literárias foi minimizada. Do mesmo autor, e também aplicada ao teatro, existe ainda, Aphrodite, igualmente uma obra de amor e erotismo.