Por Teresa Batista


De olhos vendados, os restantes sentidos ficam mais apurados

Assistir a uma peça de teatro de olhos vendados foi o desafio lançado pelo Teatrubi. Os espectadores entregaram-se às palavras e deixaram-se guiar pelos outros sentidos. A peça "O essencial invisível" estreou-se quarta-feira, 24, no Teatro Cine.
O texto foi a base de todo o trabalho para apelar aos sentimentos dos presentes. Mário Gomes, actor da peça, salienta que "a principal intenção sempre foi estimular a imaginação do público".
De olhos vendados, sem ter a visão do meio que os rodeia, os espectadores assistiram ao "essencial invisível". Odores, sensações, pedidos de ajuda, ou simplesmente o encontro das personagens com o público através do tacto foram alguns dos momentos da peça.
O público encontrava-se no palco, no meio dos actores, funcionando como "cenário, actores, participantes e espectadores". O envolvimento inquietava alguns dos presentes, que se mostravam tímidos e confusos durante o desenrolar da peça.
A cor, a postura dos actores, a forma como interpretavam as personagens ou, simplesmente, os gestos e expressões usados por estes não estavam no campo visual do público. Os espectadores tinham que imaginar um cenário, as personagens, e criar a sua própria história, baseados no texto que ouviam e nas sensações que viviam. Num mundo de sensações invisíveis a palavra foi enaltecida. Palavras soltas, gritos e silêncio foram pedaços soltos responsáveis por tocarem as sensações dos presentes.
Henrique Pereira assistiu pela primeira vez a uma peça de teatro de olhos vendados. Para o espectador, a peça tem bastante interesse pelo facto de apelar aos sentidos retirando às pessoas o sentido mais usado, a visão. "Quando estamos privados da visão, estamos perante um desafio, porque somos obrigados a apelar à imaginação e recorrer aos outros sentidos para tentarmos perceber o que está a acontecer à nossa volta", salienta.
Ana Rita Carrilho, a encenadora da peça, sublinhou que o "essencial invisível" "a que assistimos foi apenas uma estreia e, portanto, ainda tem um longo caminho a percorrer para ser aperfeiçoado".
Um espectáculo invisível para visuais de olhos vendados que, num futuro próximo, pode ser trabalhado para pessoas invisuais.