Por Ana Mesquita Morais


Quatro personagens em palco à espera do que não vem

Na passada segunda feira, 22, pelas 22 horas, o público do Teatro-Cine ficou "À Espera de Godot". A peça foi representada pelo Cénico de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que está a celebrar meio século de existência. Conta a história de dois mendigos que perante a monotonia da vida pensam no suicídio, mas nunca chegam a levar a cabo esta sua intenção.
Estragon e Vladimir, os mendigos, esperam ao final de cada dia por Godot, um ser vago que não é coisa nem ninguém. Esta espera serve de pretexto para resolver uma existência sem sentido. Para além destas duas figuras, a peça conta também com duas personagens femininas, Pozzo e Lucky. Filipa Violante, que interpreta Pozzo, explica que "na história original todos os personagens são homens, mas como metade do elenco do Cénico é feminino, pensou-se numa maneira de dar a volta ao enredo", trabalho que "deu imenso prazer porque se criaram duas personagens que não estavam minimamente implícitas no texto".
Esta peça de Samuel Becket suscitou no meio crítico teatral um debate que perdura até aos dias de hoje.
"No fundo, há muita coisa nesta peça que tem a ver com a vida que nós levamos", revela Henrique Gomes, que desempenha o papel de Estragon. O jovem actor acrescenta ainda que "cada vez que se passa por esta peça ganha-se uma nova lição de vida".
Ao fim de 1h e 15min, Ricardo Silva, um dos espectadores, confessa ter gostado da peça, "porque o final deixa sempre umas luzes sobre o que é afinal o Godot e a visão que Beckett tem sobre a realidade".
Seguiu-se uma tertúlia em que actores e público trocaram ideias sobre a peça e sobre o processo de ensaio e construção das personagens.