Por Eduardo Alves


Um dos oradores

Para os leigos na matéria, o conjunto de equações povoadas de incógnitas e fracções representa um emaranhado de cálculos indecifráveis. Para os engenheiros aeronáuticos, tais cálculos são a base de um bom e seguro aparelho. Numa explanação universal e concisa, as teorias apresentadas na UBI definem a linha que separa um avião perigoso de um aparelho seguro.
Marek Kchanowski e Darek Mikielewicz, professores da Gdansk University of Tecnology, na Polónia, foram os conferencistas convidados para falar aos alunos de Aeronáutica da UBI. As teorias apresentadas por estes investigadores são referentes ao desenho de aparelhos aeronáuticos. Para os professores polacos, a segurança dos aviões reside, em percentagem elevada, na sua concepção "arquitectónica". A forma como estas máquinas voadoras são desenhadas e projectadas para rasgar os céus interfere na sua capacidade de voar em segurança.
Num dos anfiteatros do pólo 8 da UBI, os docentes polacos tornaram públicos os seus mais recentes estudos sobre este assunto. Três dezenas de alunos ouviram, durante dois dias, as novas teorias de quem projecta e constrói aviões. Um dos primeiros pontos a ser abordado foi a interferência dos ventos laterais nos aparelhos aeronáuticos. Este facto é muitas vezes descurado ou tido como menos importante quando se projecta um avião. Um dos problemas na futura máquina, com erros de concepção, é a falta de segurança e estabilidade em voo. Temáticas que estão agora a ser recuperadas, na sua importância, por vários docentes ligados à ciência dos aviões.
Uma nova forma de transmitir conhecimentos esteve no fundamento da realização destas palestras. As temáticas abordadas começam agora a estar mais em voga no ensino da engenharia aeronáutica e os conhecimentos e experiências destes dois investigadores representam um contributo nessa matéria. De salientar ainda a explicação sobre as metodologias utilizadas no estudo dos aparelhos. No entender dos polacos, especialistas em aviões, "não faz sentido conceber e lançar para os céus um aparelho sem ouvir a opinião daqueles que o vão pilotar". Toda a investigação e desenvolvimento de novos aparelhos passa, "não só pela sua concepção teórica, mas também pelas opiniões e comportamentos que os pilotos nos vão transmitindo", aponta Marek Kchanowski. A aplicação deste método nem sempre é tida em linha de conta. Muitos dos aparelhos são concebidos para voar a velocidades e altitudes maiores, utilizando os cálculos científicos, mas descurando a opinião dos pilotos. A segurança dos passageiros e a solidez do equipamento são, "em certa forma" descuradas.

Ciência e não só

Para além da análise sobre a concepção dos diferentes aparelhos aeronáuticos, os professores polacos trouxeram também para os alunos participantes nas palestras um pouco de história. Nas apresentações realizadas na Covilhã, os docentes começaram por inserir o tema científico que estavam para abordar, através da história do seu país e da sua universidade.
As imagens apresentadas no início das palestras remontam ao aparecimento dos primeiros aviões. Logo seguidas de imagens datadas da Primeira Guerra Mundial. Esta introdução serviu para avivar a importância que a Polónia tem tido ao longo dos tempos na área da aeronáutica. Foram muitos os aparelhos concebidos por pessoas daquela nacionalidade. A importância de alguns aparelhos e as inovações conseguidas em solo polaco tornaram os investigadores daquelas paragens dos mais reputados do mundo.
Outra das datas importantes assinalada pelos docentes foi a da Segunda Guerra Mundial. Aquele território foi o mais destruído durante todo o conflito. A ligação com este capítulo mais triste da história polaca deve-se à universidade onde leccionam os dois docentes. A Gdansk University of Technology representa um dos edifícios restaurados depois do Holocausto. Aqui se concentra actualmente grande parte do conhecimento aeronáutico do país.