Agarrou nos destinos do
País logo após o derrube do regime. Vasco
Gonçalves, militar de carreira que chega a general
através do Movimento das Forças Armadas (MFA)
e de todo o papel desempenhado no derrube do fascismo, explica
os tempos conturbados do PREC.
O anfiteatro da Parada, local onde em tempos estiveram também
as vozes e os comandos militares da Covilhã, enche-se
agora para ouvir o chefe dos II, III, IV e V Governos Provisórios.
A esta personagem se devem canções como "Força,
força companheiro Vasco", mas também
"reformas essenciais que prepararam Portugal para a
adesão à Comunidade Europeia".
A convite do Partido Comunista, o general Vasco trouxe à
Covilhã um resumo alargado das medidas que julgou
"melhores para uma nação à beira
da guerra civil". Palavras conturbadas por uma voz
cansada, a mesma que contribuiu para "a viragem à
esquerda de toda uma pátria". Logo na criação
do MFA, Vasco Gonçalves lembra que "existiam
cores políticas de todos os quadrantes". No
entanto, considera natural que após a libertação
de um regime de "extrema-direita" e com o aparecimento
do PCP e PS, "o País estivesse mais simpatizante
com políticas dessa área".
Aliança Povo/MFA foi motor da revolução
"A terra para quem a trabalha", um slogan repetido
vezes sem conta pelo Portugal de Abril. Uma das mais importantes,
mas "também das mais polémicas"
medidas tomadas pelo executivo de Vasco Gonçalves,
prende-se com a Reforma Agrária. A constituição
de cooperativas e a distribuição de terras
"foi uma medida difícil".
No entanto, o general não sente que "tivesse
agido de forma incorrecta". Antes pelo contrário,
"era necessário tirar da fome e da miséria
um povo oprimido". O fosso entre ricos e pobres,
naquele tempo "era imenso". Talvez venha daí
a explicação para a "adesão
expontânea" dos populares ao movimento revolucionário.
O motor da revolução "foi o povo e
a sua ligação às forças armadas".
Políticas desajustadas
Mesmo fora da vida política activa, o criador
do "Gonçalvismo" tece várias críticas
ao actual Governo. Para Vasco Gonçalves, "um
homem que será sempre contra a liberalização
dos mercados", as actuais políticas de contenção
"vêm hipotecar o futuro do País".
Para o antigo primeiro-ministro, deveria de existir "uma
maior justiça social", em todos os campos.
Outra das medidas que julga "contrárias ao
espírito português" tem a ver com a
ajuda de Portugal aos Estados Unidos na invasão
do Iraque. Vasco Gonçalves mostra-se contra "ideias
terroristas para combater o terrorismo". O apelo
"para mudar toda esta situação",
fica na arma do povo, "aquela que Abril veio implementar
e que é a mais importante de todas: o voto".
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