Carlos Pinto esteve presente na tertúlia
Tertúlia sobre a Revolução dos Cravos
Recordar o 25 de Abril

De histórias contadas sobre as memórias do passado, surgem temas como a liberdade, secretismo e medos que só a revolução conseguiu apagar. Seis homens falam das recordações que ficaram 30 anos depois de Abril.


Por Cátia Felício


Passadas três décadas, recordar Abril de 1974 lembra uma história que não esquecerá as três figuras de Marcello Caetano, António de Spínola e Salgueiro Maia. Mas a história contrói-se ainda com acontecimentos, factos e palavras.
As memórias partilhadas na Tertúlia que teve lugar, no Ginásio Clube da Covilhã, no passado sábado à noite, 24 de Abril, fazem antever vidas na alçada da ditadura e pessoas que viveram com medo até da própria sombra.
O fio condutor da tertúlia, a Revolução de 25 de Abril, levou a que se reunissem Carlos Pinto, presidente da Câmara Municipal da Covilhã, Augusto Teixeira, primeiro presidente da Câmara Municipal da Covilhã após o 25 de Abril, Fausto Abreu, Ramiro Reis, Manuel Antunes Ferreira e Bernardino Gata. Num espaço de reflexão, as memórias dos seis oradores deliciaram os presentes, na sua maioria com idades acima dos 40 anos. Alguns daqueles que assistiram à tertúlia aproveitaram ainda para algumas confissões, trocando memórias de episódios que se generalizam quando se fala sobre a revolução que marcou a vida dos portugueses.
Valores como a liberdade e a abertura de Portugal para o mundo foram alguns dos pontos referidos. Num balanço 30 anos depois, o presidente da Câmara Municipal da Covilhã refere que "o saldo é positivo e valeu a pena todas as perturbações e mudanças que tiveram de ser feitas. Agora é outro País! Respira-se um ar diferente". Acrescenta ainda, "na Covilhã deram-se grandes passos apenas e tão só porque se deu o 25 de Abril".
Sobre uma revolução que, como tantas outras, não conheceu manuais, Manuel Antunes Ferreira, um dos intervenientes, evoca o escritor Eça de Queirós "os grandes acontecimentos e emoções precisam de ser reportados a datas, porque essas datas são cravos de ouro".
Por seu lado, Bernardino Gata, presidente do Inatel da Covilhã, recorda que é graças ao 25 de Abril que hoje há liberdade para falar do que diz respeito a todos, sem se ser censurado pelas suas ideias, nomeadamente através da liberdade de imprensa. De acordo com Bernadino Gata, o 25 de Abril divide-se em duas fases: "A primeira, a da Cova da Moura, para derrubar o ditador, e a segunda fase é a da versão popular a partir do Largo de Camões, em Lisboa".
A importância do movimento popular após o 25 de Abril é sublinhada por Ramiro Reis, que afirma ainda que "a Revolução dos Cravos trouxe mais liberdade do que os próprios mentores do 25 de Abril pensavam que traria".
Carlos Pinto relembra que na altura, há 30 anos atrás, "o regime tinha os seus preferidos, a sua elite produtiva. Tudo isso deu origem a um País com cofres cheios de ouro, mas que depois tinha falta de hospitais, escolas, assistência de saúde, universidades...".
Fausto Abreu, um dos intervenientes, relembra histórias com agentes da PIDE e confessa que "dentro da própria família havia desconfianças... Isto era uma coisa horrível!". Alguns dos presentes apontam o antigo regime como podre a uma ponto imensurável, e numa troca de ideias surge a de que o 25 de Abril fez-se para exaltar o homem.
Na noite de 24 para 25 de Abril de 1974, os emissores de três estações privadas serviram aos militares para comunicarem senhas entre si e informarem a população de que estava a chegar ao fim o regime que há muitos anos oprimia Portugal. Três décadas depois, os traços deixados na memória pelo 25 de Abril são partilhados num evento levado a cabo pela autarquia da Covilhã.