Por Hélia Santos


Do seminário saiu a ideia de que muito ainda há para ser feito

O distrito de Castelo Branco possui uma elevada taxa de desemprego e pobreza. A exclusão social está a aumentar e com ela crescem os casos de violência doméstica, que é urgente analisar, discutir, sensibilizar, prevenir e solucionar. Foi com estes objectivos que se realizou um seminário de sensibilização, convívio e formação no passado sábado, dia 24, no Teatro-Cine da Covilhã.
"Mulheres vítimas de violência doméstica e crianças em risco" foi o nome dado a esta iniciativa, promovida em parceria pela Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) e a União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social (UDIPSS).
Em 2003, os actos de violência doméstica triplicaram. Maus tratos físicos e psicológicos vitimam mulheres, crianças e idosos oriundos, na maioria das vezes, de famílias pobres e com problemas sociais, onde a intervenção é mais difícil. O baixo nível de escolaridade, a precariedade do trabalho, a fragilidade das redes de apoio, o alcoolismo, a toxico-dependência e a exposição a modelos de comportamento desviantes foram algumas das razões para os maus tratos, apontadas no seminário. Joaquina Madeira, vogal do Concelho Directivo do ISSS, traçou o perfil típico das mulheres vítimas de violência: " têm, normalmente, entre 36 a 45 anos, são casadas e frequentaram apenas o 1º ciclo. Inserem-se em famílias nucleares e são desempregadas ou empregadas nos serviços domésticos. Muitas delas estão dependentes de fármacos."
Existem no distrito várias instituições de apoio às vitimas de violência doméstica e instituições de solidariedade social que prestam apoio à família e às crianças em risco. Embora existam estas estruturas de apoio, o medo de represálias, a dependência económica, as ameaças do agressor e as retaliações constantes fazem com que a maior parte dos casos não sejam denunciados pelas vítimas.
"Não conseguiremos desenvolvimento sem qualidade humana e se não tivermos uma boa família, sem violência nem crianças em risco". Esta afirmação do orador Armando Leandro, juiz conselheiro jubilado, demonstra que a prevenção é um dos desafios que se impõe à cidadania. " É necessário trabalhar em conjunto, estar atento aos possíveis sinais de violência, salvaguardar a vítima, mudar as mentalidades e intervir junto dos agressores", concluiu a coordenadora da Linha de Emergência do Porto, Maria de Lurdes Guimarães.
No fim de semana em que se comemorou os 30 anos do 25 de Abril, o seminário encerrou com o desejo de que " a democracia chegue a todos e não haja diferença de direitos porque existe diferença de sexos".