António Fidalgo

Pessoas e Políticas na Beira Interior

Se o presidente da Câmara Municipal de Penamacor não fosse Domingos Torrão, licenciado na UBI, e residente na Covilhã, mas continuasse a ser José Luís Gonçalves, residente em Castelo Branco e com o seu posto de trabalho na Repartição de Finanças albicastrense, será que Penamacor teria optado pela Comunidade Urbana da Beira Interior? Não o creio. A política é feita por pessoas concretas, com ligações afectivas a terras e gentes.
O caso de Penamacor mostra como a formação da Comunidade Urbana da Beira Interior, para lá dos motivos políticos, foi fortemente marcada pelas personalidades dos autarcas locais. Os problemas de juntar as três grandes cidades do eixo do Interior, Castelo Branco, Covilhã e Guarda, passam também pelos respectivos presidentes de câmara: Joaquim Morão, Carlos Pinto e Maria do Carmo Borges.
Não deixa de ser curioso que estes autarcas fizeram, em tempos idos, uma cimeira a três na cidade da Guarda. Que nunca mais se repetiu. Joaquim Morão, tido nos seus tempos de Idanha como o autarca modelo, tem dificuldades em articular uma política regional. No processo de formação das comunidades urbanas, Castelo Branco tem tido uma política errática, de desnorte, talvez por perder o norte rico e populoso do distrito. Ora se fala da ligação de Castelo Branco a Portalegre, ora ao Médio Tejo de Abrantes. Maria do Carmo Borges, sem as maiorias folgadas na Câmara de que gozam Morão e Pinto, joga timoratamente à defesa, colocando limites à comunidade urbana: a sul da Gardunha nada. O ideal seria uma comunidade coincidente com a diocese egitaniense. Só que perdeu já os concelhos diocesanos de Seia, Gouveia, Trancoso e Vila Nova de Foz Côa entre outros.
Mas o verdadeiro problema de Maria do Carmo Borges e Joaquim Morão é o protagonismo político do autarca covilhanense, Carlos Pinto, que temem se converta num verdadeiro e real protagonismo da Covilhã enquanto pólo de crescente importância universitária e turística. Fosse o presidente da câmara da Covilhã uma personalidade apagada, politicamente fraca, sem qualquer visão estratégica, e Guarda e Castelo Branco estariam agora a celebrar, a meio caminho, a união dos dois distritos na aprazível e soalheira cidade da Covilhã.
Tendo sido entregue a regionalização do país aos autarcas, foi a personalidade destes a ditar as regras do jogo. Na comunidade urbana da Beira Interior houve pouco arrojo de Joaquim Morão e de Maria do Carmo Borges e talvez protagonismo a mais de Carlos Pinto. Tivesse o autarca covilhanense refreado certas expressões mais cruas contra a realidade distrital, e talvez o receio de uma Covilhã cada vez mais central no Interior fosse menor nas ainda actuais cidades capitais de distrito.
Os dados parecem estar lançados. Covilhã e Guarda para um lado, Castelo Branco para o outro. Daqui a cinco anos veremos provavelmente com outros olhos o que agora se passou e está a passar.