Jorge Torrão, presidente do NV Estudantes
“Esta foi a melhor época de sempre”

O presidente do NV Estudantes está satisfeito com a forma como decorreu a última temporada. Jorge Torrão aponta a dedicação de dirigentes e atletas como principal causa do sucesso e diz que ainda não existem condições para voos mais altos.

Alexandre S. Silva
NC / Urbi et Orbi


Ao contrário de anos anteriores, o NV Estudantes escapou à luta pela manutenção e até esteve a disputar os playoff’s de subida. Um ano bom, portanto?
Jorge Torrão –
Foi a melhor época de sempre, em termos desportivos, da nossa equipa principal. Consolidámos a manutenção na I Divisão A2. E isto é tão mais extraordinário se tivermos em conta que se trata de um conjunto de atletas amadores, apesar de terem um elevado sentido profissional, que competiu com equipas com outra estrutura, organização e muito mais apoio financeiro.

Como foi possível, então, ultrapassar essas dificuldades?
Deveu-se sobretudo à nossa ilusão e à grande capacidade de trabalho. Outra componente também importante foi a coesão da equipa.

A época começou muito mal, com sete derrotas consecutivas. Como é que depois se consegue assegurar a manutenção mais cedo e de forma menos dramática que nos anos anteriores?
A época foi muito difícil, mas nós conseguimos unir-nos. Depois de um início que nos colocava como principais candidatos à descida, acabou por vir ao de cima a capacidade dos atletas. E depois, as sete derrotas consecutivas deram lugar a seis vitórias de uma assentada e colocaram a nossa equipa já no meio da tabela. A partir desse momento ganhámos o respeito dos nossos adversários e conseguimos equilibrar as nossas forças anímicas, que nos ajudaram a superar os obstáculos até ao final do campeonato.

Este ano chegaram a disputar os playoff’s para a promoção à A1, depois de vários anos a lutar até ao fim para não descer. A que se deve o sucesso desta época?
O campeonato discute-se entre equipas muito parecidas. E a diferença pontual entre os clubes que vão aos playoff’s de subida e descida é muito pequena. São questões de pormenor, que têm a ver com a organização e o número de atletas disponíveis, por exemplo, que podem fazer uma grande diferença.
Nós temos o mais modesto orçamento do campeonato: cerca de 20 mil euros têm que dar para alimentação, deslocações, pagamentos de aluguer do pavilhão e taxas de arbitragem. Mas conseguimos sempre encontrar soluções e nunca arranjamos bodes expiatórios para os piores momentos. Temos uma Direcção forte e unida que perfilha objectivos comuns e isso, em conjunto com uma dedicada equipa desportiva, é que está na base do êxito.

“Temos que crescer aos poucos”

O que falta, agora, para dar o passo seguinte, que será a promoção?
Não queremos dar o salto no abismo, como o fizeram outras organizações com mais peso que nós. Não queremos entrar em situações que não tenham sustentação. O NV Estudantes sabe o enquadramento que tem a nível local e nacional; sabe das dificuldades económicas do mundo empresarial que, neste momento, não está muito virado para suportar algumas iniciativas desportivas. E nós, tendo consciência do meio em que estamos inseridos, não podemos projectar o clube em níveis mais exigentes do ponto de vista desportivo, organizacional e, sobretudo, financeiro.

Mas existe sempre um desejo de ir mais além. Quando é que, no NVE, isso pode ser possível?
O clube está a estruturar-se. Já temos uma sede social, que é uma boa base para iniciar o trabalho nesse sentido. Mas temos que fazer crescer o clube a pouco e pouco, até para que tenha mais dimensão no tecido social da Covilhã. Temos, ainda, que honrar os compromissos que temos com o mundo empresarial e o Poder Local. E só dentro de uma base de uma implantação séria e com um crescimento moderado, será possível a este clube ascender a mais altos vôos. Mas uma coisa é garantida: se o clube crescer, não o pode fazer apenas nos resultados desportivos. Tem que crescer, também, em capacidade organizativa; tem que dar respostas à comunidade, propondo aos covilhanenses novas ofertas em termos desportivos. Isto, claro, sem descurar o aspecto competitivo da nossa equipa mais representativa, seja em que divisão for.

Mas acredita que este clube possa, num futuro próximo, subir de escalão?
Nós nunca podemos saber o que pode acontecer no futuro. Mas para já, é preciso dizê-lo, nós situamo-nos numa divisão que está acima das possibilidades de qualquer equipa do Interior do País. E só é possível a manutenção devido à dedicação de quem trabalha no clube, desde os corpos gerentes, aos atletas, que não recebem qualquer ordenado ou prémio.

Formação

O NVE já teve escalões de formação, o que não acontece hoje. Porquê?
Já tivemos escalões de formação, inclusivamente femininos. Quando andávamos na III Divisão tínhamos bons apoios da sponsorização, porque era um momento bom em termos de investimento dos empresários. Isso não acontece hoje, mas acreditamos que a situação se vai inverter. Nessa altura fazíamos um Estágio de Natal e trazíamos à Covilhã prelectores de qualidade. Criávamos espaços de formação interna que, neste momento não podemos fazer.
Com o orçamento baixo que temos e com o avanço da equipa principal para um campo competitivo mais exigente, como o é a I Divisão, tivemos que fazer minguar algumas das nossas iniciativas. Pessoalmente, enquanto dirigente, considero-as tão importantes como o próprio campeonato, mas tivemos que retroceder.

E agora?
Ainda assim, tivemos sempre jovens a trabalhar connosco. Fizemos essa oferta à comunidade, como, aliás, continuamos a fazer. Mas há sempre a questão do enquadramento técnico. Quando se trabalha com jovens, este é um aspecto onde não podemos facilitar. Temos sempre que salvaguardar as questões de ordem pedagógica… temos que ser cuidadosos.
Depois há a questão financeira. Temos que alugar as instalações desportivas, temos que comprar novo material, temos que subsidiar deslocações. E o nosso orçamento não chega para tudo isto. Não havendo um investimento gradual, e receitas condizentes com a expressão da equipa principal, não podemos ir muito mais longe no que toca a dinamizar a prática do voleibol.
Desse modo não estará a modalidade condenada na região?
Estou absolutamente à vontade nesse aspecto porque sei que o voleibol tem seguidores e projecção na juventude porque o trabalho está a ser feito nas escolas. Os profissionais de educação física e desporto, dentro do quadro curricular e do Desporto Escolar, fazem uma aproximação à modalidade com metodologia, pedagogia e motivação. E quando os jovens sentem uma apetência pela modalidade, sabem que existe na Covilhã um clube que lhes pode permitir jogar ao mais alto nível.

O NV Estudantes tem aproveitado os frutos desse trabalho das escolas?
Sem dúvida. Há professores que encaminham os alunos para o NVE e nós continuamos o trabalho a partir daí.

Mas se, por exemplo, na próxima temporada saíssem três ou quatro atletas da equipa principal, o clube tinha capacidade de colmatar essas lacunas com “sangue novo”?
O voleibol é uma modalidade muito técnica. E um atleta tem que evoluir muito para ir de encontro às necessidades de uma equipa como a nossa. E esse desenvolvimento do sentido técnico e táctico leva vários anos. Temos jovens na Covilhã com capacidade para vir a ser jogadores de competição, mas temos que lhes dar tempo para se integrarem no nosso programa mais competitivo.
De qualquer modo, haverá sempre espaço para eles. E nós temos aberto portas, principalmente quando disputamos torneios amigáveis, como foi o de Pinhel há cerca de um mês atrás. Já na época passada tivemos a inclusão de dois jovens na equipa principal e, este ano, com relativa naturalidade, vamos incluir mais um ou dois. E é assim que se faz a renovação: sem grandes choques.


 


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