Por Eduardo Alves


Paulo Marques abordou o tema do hooliganismo no desporto

Paulo Jorge Lourenço Marques não podia ter escolhido melhor a data de apresentação da sua tese de mestrado. O estudo deste professor de Educação Física tem como título “A violência no futebol: a representação mediática do fenómeno”.
Em pleno Campeonato Europeu de Futebol, Euro 2004, um evento que decorre em Portugal, este estudo mostra as razões que levam, não poucas vezes, os adeptos das práticas futebolísticas a comportamentos violentos. Por outro lado, o autor aborda também o “aproveitamento deste tipo de ocorrências por parte dos meios de comunicação social”.
No seu estudo, vários eventos futebolísticos, à escala planetária, como o Campeonato do Mundo de Futebol, que teve lugar nos Estados Unidos e mais recentemente no Japão e na Coreia, bem como o passado Campeonato Europeu de Futebol, que se disputou na França, foram analisados. Para a sua pesquisa, entraram “em competição” o número de casos de violência por parte de adeptos e a repercussão destes mesmos acontecimentos na comunicação social. Na apreciação deste tema, o próprio júri sublinhou o papel desempenhado pelos media e a sua influência em certas práticas. Neste estudo é visível a existência de “um discurso bastante forte, nos jornais e televisões, que leva, muitas vezes, a mexer com os sistemas de relevâncias de determinados grupos”. A linguagem “de incitamento” que, por vezes, é utilizada em títulos destacados, em discursos radiofónicos mais emotivos ou em imagens mais expressivas, “em nada abona para a resolução ou minimização do problema”. O autor sublinha que não são os meios de comunicação social “os responsáveis pela violência no desporto”. Todavia, “existe um notório decréscimo de casos de violência desportiva, e um aumento de notícias realizadas em torno dos casos que vão acontecendo”, denota.
Dois campos temáticos diferentes, o da comunicação e o do desporto, foram unidos neste mestrado. Paulo Marques traça assim alguns aspectos onde estes dois assuntos se cruzam. Vários títulos dos três jornais desportivos portugueses foram analisados e contabilizados. Um dos pontos que o autor do estudo faz sobressair “é a forma como os media se aproveitam de determinados acontecimentos menos bons do desporto para vender mais números e fazer mais dinheiro”. Veja-se o caso dos incidentes ocorridos em Albufeira já no Euro 2004, “onde as imagens correram o mundo”, quando o número de intervenientes não foi elevado “nem os acontecimentos tiveram lugar junto a recintos ou práticas desportivas”. Tal forma de olhar os acontecimentos leva a que exista “uma correlação negativa entre a violência efectiva que ocorre no futebol e o que os media destacam e transmitem para a opinião pública”. Uma pesquisa que assume um carácter sociológico e que conduz a alguns resultados preocupantes.
Esta prova de mestrado em Ciências do Desporto teve como júri, João Pissarra Nunes Esteves, professor associado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Fernando Franco de Almada, professor associado da Universidade da Beira Interior e João Carlos Ferreira Correia, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior. João Pissarra Nunes Esteves foi o arguente da prova. A nota final atribuída a esta tese foi de bom com distinção.